segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Dilma, PT e a privatização do nosso futuro



buscado no Gilson Sampaio




PT

Reverter a entrega de Libra
“Continuam entregando tudo. Quando se dará mais importância à realidade que ao discurso? Que se pode fazer para reverter o presente curso de destruição do Brasil? Certamente, não é coisa convencional.”

Adriano Benayon

Enquanto o Brasil prepara a entrega do seu petróleo ao capital transnacional, em discurso na ONU a sua presidente finge indignação pela espionagem da NSA — mas nem sequer fala na possibilidade de romper os acordos militares e policiais que submetem o país aos EUA.

1- Continuam entregando tudo. Quando se dará mais importância à realidade que ao discurso? Que se pode fazer para reverter o presente curso de destruição do Brasil? Certamente, não é coisa convencional.

2- Estamos diante da entrega às petroleiras lideradas pelo cartel angloamericano das reservas de petróleo da plataforma continental e da camada do pré-sal.

3- Também, diante do descalabro na infra-estrutura, de que são exemplos gritantes a energia elétrica e os transportes. Cada um desses caos nos custa trilhões de reais por ano e decorre de sacrifícios de setores vitais no altar do falso deus mercado. Na verdade, entregas graciosas a carteis estrangeiros.

4- Além disso, está exposta a completa insegurança das telecomunicações, à mercê das tecnologias de espionagem de empresas e de agências governamentais dos EUA, sem mencionar que, desde há mais de quinze anos, quando a EMBRATEL foi entregue à estadunidense Verizon, essa segurança pouco vale, devido à privatização tucana, intocada pelos governos petistas.

5- Os brasileiros não se devem iludir com discursos nem com o enviesado noticiário da grande mídia. Tanto no petróleo, como na energia elétrica, nos transportes e nas comunicações, o País cai para um patamar intolerável de submissão e de degradação socioeconômica.

O CASO DO CAMPO LIBRA

Localização do campo Libra. 

6- No caso do campo de Libra, da área do pré-sal, cujo leilão a Agência Nacional do Petróleo (ANP) quer realizar, de qualquer maneira, em 21 de outubro, apesar das numerosas ilegalidades do edital, denunciadas ao Tribunal de Contas da União pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás, trata-se do maior campo já descoberto no Mundo, com mais de 40 mil milhões de barris de reservas in situ. No mínimo, 12 mil milhões de barris de reservas recuperáveis.

7- Como o preço atual do petróleo está em US$ 100 por barril, o valor desse campo são US$ 1,2 milhões de milhões, equivalentes a R$ 3 milhões de milhões.

8- Ora, na medida em que a Petrobrás estará alijada do leilão, até por ter investido para viabilizar produção em prazos menores que os possíveis na zona do pré-sal, onde também investiu para pesquisar Libra e outros campos, as companhias do cartel angloamericano ficam com tudo, mesmo porque a ANP resolveu, beneficiando-as, exigir do consórcio vencedor um bônus no valor de R$ 15 mil milhões.

9- Essa quantia é ridícula comparada ao valor do campo, mas é demasiado elevada para a Petrobrás desembolsar de uma vez, devido às dificuldades de caixa em que foi envolvida, até por subsidiar os preços dos derivados no País.

10- Ao contrário da propaganda governamental propícia ao cartel angloamericano, o bônus nem constitui receita para o governo, mas tão somente adiantamento, que devolverá em parcelas ao consórcio ganhador do leilão.

11- Ao denunciar o autoritarismo e a prepotência dos órgãos decisórios do setor, o Eng. Paulo Metri nota que o Estado brasileiro está loteado, e o capital internacional, no comando da energia e mineração.

12- Provas disso e do absurdo de entregar 70% da reserva conhecida de Libra a empresas estrangeiras são, conforme Metri: 1) elas exportarão o óleo bruto, sem adicionar valor algum; 2) nunca contribuirão para o abastecimento do País; 3) dificilmente contratarão plataformas no Brasil – o item de maior peso nos investimentos; 4) não gerarão empregos qualificados aqui; 5) não pagarão impostos, graças à lei Kandir; 6) só pagarão os royalties e uma parcela "combinada" do lucro.

12- Cabe esclarecer sobre este último ponto:

a) os royalties, embora de, em princípio, 15%, conforme a Lei do Pré-Sal, 12.351/2010 – maiores, portanto, que os 10% da famigerada lei de FHC, 9.478/1997 – são, na realidade, reduzidos por brechas criadas nas emendas do Congresso à lei de 2010; mesmo em países sem a capacidade de exploração da Petrobrás, os royalties costumam ser, em média, 80%;

b) a parcela combinada são os 30% a que Petrobrás faz jus, de acordo com a Lei 12.351/2010, a qual, desde a proposta do ex-presidente Lula, garante à Petrobras a condição de operadora única, com 30% do resultado, ficando, porém, os 70% para o ganhador do leilão, no caso o cartel estrangeiro, sem correr riscos.

13- O atual governo não aplica em favor do País o que deve decorrer das leis do Pré-Sal, deixando de fazer cessão onerosa do campo de Libra à Petrobrás, conforme a Lei nº 12.276/2010, e agindo como caudatário dos interesses anglo-americanos, mesmo ciente da espionagem de agências públicas dos EUA, como a NSA e a CIA, tendo como alvos o petróleo e o pré-sal.

15- O Eng. Fernando Siqueira lembra que, já no 11º leilão, a Petrobrás teve participação pífia, tendo comprado menos de 20% das áreas ofertadas e sendo operadora só em três delas. Como essas áreas não são do pré-sal e se regem pela Lei 9.478/1997, todo o petróleo fica para quem ganhou o leilão.

16- Acrescenta: "Creio que, propositadamente, exauriram a capacidade financeira da Petrobrás com leilões desnecessários, pois o país está abastecido por mais de 40 anos. A partir da 11ª rodada, o capital internacional irá sempre ganhar vários blocos, graças a plano maquiavélico com aprovação do governo do Brasil."

17- Ainda conforme Siqueira, o governo está abrindo mão de parte da parcela destinada ao Fundo Social. Também troca lucros de centenas de milhares de milhões de dólares por um oneroso empréstimo de quantia irrisória.

18- Siqueira esclarece que a Petrobrás tem previsão de produzir 4 milhões de barris em 2020, e não, há, pois, necessidade alguma de leiloar o pré-sal. Menos ainda, nas condições altamente danosas ao País, em que está sendo feito.

19- A 11ª rodada de leilões, já realizada, e a 12ª, marcada para breve, implicam amarrar o Brasil à condição de país sem autodeterminação, definitivamente inviabilizado para o desenvolvimento, condenado a exportação primária e poluente, controlada pelas transnacionais do petróleo e rendendo-lhe vultosas divisas que farão suplantar a das automotivas no posto de donas do País.

20- Outras consequências: agravar a desindustrialização, a concentração de renda [NR] nas mãos da oligarquia estrangeira e marginalizar mais brasileiros.

21- O que ocorre com o petróleo basta, por si só, para afundar o Brasil. Ao mesmo tempo, a derrocada do País é puxada pelo que acontece na infra-estrutura.

22- O setor da energia elétrica está deteriorado, com frequentes apagões – num país de excelente potencial de fontes. Grande parte dos insuficientes investimentos é desperdiçada e são cobrados preços extorsivos aos usuários (exceto às privilegiadas eletrointensivas).

23- Deliberadamente, desde FHC, deu-se espaço às absurdas e caras centrais térmicas, subinvestindo e investindo mal na hidroeletricidade, sem aproveitar plenamente a capacidade das bacias hídricas, nem construir eclusas (prejudicando também a navegação fluvial).

24- O setor elétrico exemplifica a grande fraude das concessões e privatizações, realizadas para proporcionar ganhos a predatórias empresas financeiras, através de supostos leilões (sempre a ficção do mercado) sob critérios abstrusos, para ninguém entender.

25- Conforme dados da ANEEL, mostrados pelo Eng. Roberto d'Araújo, os componentes, em percentuais, do preço da energia são: geração 31,3%; transmissão 6,3%; distribuição 29%; tributos 33,5%.

26- Há abusos incríveis em todas essas etapas. As empresas de distribuição concentram a maior parte dos lucros, tendo o economista Gustavo Santos verificado que a rentabilidade média delas sobre o patrimônio líquido superou 30%, ou seja, 700% em oito anos.

27- Esclarece d'Araújo que o governo, sem coragem para enfrentar os próprios erros e as distribuidoras, resolveu atacar a parcela produtiva. Em suma, está sendo completada a destruição da Eletrobrás – mais um pilar do projeto de Getúlio Vargas derrubado a mando do império angloamericano.

[NR] No Brasil chamam de renda a qualquer espécie de rendimento.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Astronomia: O Discurso e a Prática de Dilma


buscado no Gilson Sampaio  

 


“Prova cabal dessa humilhante situação se deu justamente um dia após o discurso da presidente na ONU. Em um evento promovido pelo banco de investimentos Goldman Sachs, Dilma Rousseff apelou, em entrevista coletiva à imprensa e a uma plateia de 350 investidores, por investimentos na infraestrutura do país. Seu objetivo é contar com o capital estrangeiro para deslanchar o seu programa de privatizações de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e campos de petróleo.”

PAULO PASSARINHO 

A semana nos deu exemplos muito claros da distância existente entre o discurso e a prática do governo presidido por Dilma Rousseff.
A presidente brasileira se encontra em Nova York. Obedecendo a uma tradição, Dilma proferiu o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU. Conforme prometido, fez um duro discurso de denúncia do governo americano e de suas ações de espionagem eletrônica, reveladas por Edward Snowden, norte-americano, atualmente asilado na Rússia, e ex-funcionário de uma empresa prestadora de serviços da NSA - Agência de Segurança Nacional, um dos organismos da complexa estrutura de espionagem dos Estados Unidos.
Conforme se tornou de amplo conhecimento do público brasileiro, com denúncias sendo feitas até mesmo pela TV Globo, a própria Dilma, seus auxiliares e a maior empresa brasileira – a Petrobrás – foram objeto das investigações ilegais dos Estados Unidos, através da escuta de telefonemas, acesso a e-mails e documentos sigilosos e de interesse nacional.
Dilma classificou essas ações do governo de Obama como casos graves de violação dos direitos humanos, das liberdades civis e da soberania nacional brasileira. Denunciou que “dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais, muitas vezes, de alto valor econômico e mesmo estratégico, estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a missão permanente junto às Nações Unidas e a própria presidência da República, tiveram suas comunicações interceptadas”. Mais clara e objetiva, impossível.
Como desdobramento do seu discurso e de suas denúncias, lembrando que essas ações dos Estados Unidos afetam a própria comunidade internacional e exigem respostas, Dilma propôs a criação de um “marco civil multilateral” para a internet, buscando “evitar que o espaço cibernético seja instrumentalizado como arma de guerra, por meio da espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e infraestrutura de outros países”.
Se a denúncia é válida, necessária e correta, o mesmo não necessariamente pode ser dito em relação às suas propostas. Como é amplamente de conhecimento público, a origem da internet se vincula a um programa de caráter militar dos Estados Unidos, buscando criar uma rede de comunicação própria entre os centros de pesquisa de suas Forças Armadas com as universidades americanas e seus pesquisadores. Com a abertura desse sistema de informações ao público mundial, nos dias de hoje praticamente qualquer informação pode ser obtida nesta rede. Governos, empresas, instituições das mais variadas e diferentes colocam suas informações e comunicações na internet, inclusive para dados considerados sigilosos. Para tanto, naturalmente, existem programas de segurança que podem criptografar essas mensagens de caráter mais reservado, procurando preservá-las, em termos de acesso e segurança.
Não sem razão, Julian Assange, do Wikileaks, aponta que a internet, hoje, é uma das principais frentes de investimento dos governos de vários países, para o desenvolvimento de sistemas de armazenamento, vigilância e seleção de informações, com objetivos de segurança nacional. Assange cita, além dos Estados Unidos – que estariam naturalmente à frente nesta disputa –, a China, a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Rússia como países que têm investido pesadamente nesta estratégica área. Desse modo, ele defende, por exemplo, que o Brasil adote um sistema de criptografia de tecnologia nacional, como medida preliminar e elementar de proteção.
Mas nossa realidade está muito distante dessa possibilidade. Graça Forster, a presidente da Petrobrás, por exemplo, declarou que a criptografia usada na empresa é de empresas americanas, porque não existem companhias brasileiras que prestem esse tipo de serviço. Edward Snowden, por sua vez, denunciou que a criptografia fornecida por empresas privadas norte-americanas é propositalmente falha e tem as chamadas “portas dos fundos”, para que a NSA possa driblar seus códigos e acessar os dados.
A contradição de Dilma em relação às suas propostas para a internet é que, na prática, os próprios Estados Unidos não se submetem a legislações que não sejam suas, conforme inclusive resposta do seu governo ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, logo no início doimbróglio criado pelas denúncias de espionagem.
Contudo, o mais grave é que, hoje, o país – sob o comando de Dilma, mas por razões que remontam às opções de política econômica adotadas no Brasil desde o início dos anos 1990 – é um país bastante débil para definir as suas próprias prioridades, de forma soberana, especialmente em relação a investimentos.
Prova cabal dessa humilhante situação se deu justamente um dia após o discurso da presidente na ONU. Em um evento promovido pelo banco de investimentos Goldman Sachs, Dilma Rousseff apelou, em entrevista coletiva à imprensa e a uma plateia de 350 investidores, por investimentos na infraestrutura do país. Seu objetivo é contar com o capital estrangeiro para deslanchar o seu programa de privatizações de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e campos de petróleo.
O show de subserviência aos gringos foi total. Junto com os seus ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel, Dilma lembrou que “risco jurídico no Brasil não existe”, procurando destacar que “se tem um país que respeita contratos é o Brasil. E disso nós nos orgulhamos”. É evidente que a presidente não se referia à Constituição, diariamente desrespeitada, especialmente no que tange aos direitos fundamentais dos brasileiros, conforme assinalado, por exemplo, no seu Capítulo II – referente aos direitos sociais.
Ao contrário, a preocupação da presidente é com os interesses corporativos empresariais. Dilma e seus auxiliares sabem que, desde a época mais agressiva das privatizações, nos governos Collor e FHC, o interesse nacional e a própria Constituição foram flagrantemente desrespeitados e geraram inúmeras ações na justiça, até hoje em suspenso, por conta da leniência dos governos pós-2002. Os que estão à frente desses governos, traindo as suas próprias antigas posições, passaram a não mais ter interesse em rever as criminosas ações de entrega do patrimônio público, por preço vil e por processos fraudulentos.
As posições expressas por Dilma mostram, também, a triste situação de um país que, aprisionado pelos interesses financistas, não dispõe hoje de recursos para investimentos em áreas vitais ao nosso desenvolvimento e, na visão da bizarra presidente, sequer a capacidade de gerir estradas, ferrovias ou aeroportos.
Dilma teve, também, a desfaçatez de ressaltar para os gringos que o interesse do seu governo não seria apenas por investimentos, mas também pela “capacidade de gestão” dos estrangeiros. Tentou, enfim, passar um claro atestado de incompetência a todos nós, brasileiros. Uma verdadeira vergonha.
A suposta altivez do discurso de Dilma, na ONU, em menos de 24 horas, ficou desmoralizada por ela mesma, em seu patético apelo à plateia reunida pelo Goldman Sachs.

Paulo Passarinho é economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre.

Maria Helena Oliveira – Que país é este, Dona Dilma?



 

Por Maria Helena Oliveira(*)

A presidente Dilma depois de seu pronunciamento na ONU em que deu forte reprimenda nos irmãos do norte denunciando a espionagem sofrida como violação do direito internacional, mudou de enfoque na conversa com cerca de 350 empresários, gestores de fundos, consultores e banqueiros. No tête à tête  com estes, abrandou sua postura, dizendo que o Brasil é um país civilizado e respeita contratos. Neste caso não está preocupada com a soberania nacional, pois vender o país, é preciso.
Como o governo não tem um projeto autônomo e independente para o país, vai buscar no exterior as parcerias para entregar portos, aeroportos, ferrovias e exploração do pré-sal aos parceiros privados. Enquanto isto, nós, brasileiros, não somos chamados a opinar em nada. Que inveja dos irmãos venezuelanos, submetidos a seguidos referendos.
O governo quer vender o maior poço de petróleo já descoberto no país, com reservas de 15 bilhões de barris que valem cerca 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, sem ouvir a população. Que democracia é esta em que decisões de alienar recursos preciosos que serviriam para resolver todos o problemas – na educação, saúde, segurança pública, transporte, habitação – são tomadas e ninguém é ouvido? Que democracia é esta em que os irmãos do campo sofrem com a falta de gleba para cultivar enquanto os ruralistas concentram cada vez mais terras, que ficam muitas vezes ociosas para constituir reserva de valor? Que democracia é esta em que o governo usa mais da metade do orçamento para pagar os juros das dívidas interna e externa e o povo não é chamado para opinar? Os recursos carreados para o exterior são da ordem de cerca de 140 a 150 bilhões de reais, constituindo as famosas perdas internacionais denunciadas por Brizola.
Ante tal quadro a digníssima presidente sai mundo afora feito caixeiro viajante da mesma forma que seus antecessores para vender o país. Entregar em leilões seus ativos, já que não tem recursos para investir na infra-estrutura. Como pode um país da extensão continental como o nosso não ter ferrovias que o cortem de norte a sul, de leste a oeste? Com litoral extenso e tantos rios não ter o modal aquaviário dimensionado? Como pode entregar o Campo de Libra – montanha de recursos – em troca de um prato de lentilha (15 bilhões de bônus)? Uma vez consumada essa entrega indecorosa o governo do PT será colocado no mesmo patamar de seu antecessor – entreguista mor da Nação. Ou talvez pior, já que todas as privatizações de FHC significam pequeníssima parte do valor do campo em tela.
Chego à conclusão de que nossa democracia é apenas formal, com eleições de dois em dois anos, independência relativa dos poderes e as demais instituições republicanas funcionando, muitas vezes precariamente. Nos aspectos básicos da cidadania o Brasil apenas claudica, pois os índices de violência mostram que aqui as mortes de jovens pretos e pardos com idade entre 16 e 24 anos são das maiores do mundo. Na educação encontramos o mesmo quadro de precarização e na saúde e segurança pública, idem. Enfim que país é este, como disse o poeta Renato Russo?
Dilma afirmou ainda que, diante dos gargalos na infra-estrutura que impedem o desenvolvimento do país, é preciso estabelecer parceria privada para deslanchar investimentos, ganhar competitividade para se consolidar como grande economia.

*Maria Helena Santos Oliveira é militante histórica do PDT, diretora de Assuntos da Mulher da Nova Central Sindical e licenciada em Ciências Sociais pela USP. Assina no “Quem tem medo da democracia?” a coluna O trabalhismo vive.



Senador apresenta dossiê que desnuda a “lambança” da política nacional de petróleo


buscado no Professor Jeovane
 
Segundo documento apresentado no plenário do Senado, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) age a favor de transnacionais estrangeiras e contra a soberania nacional

Estamos vulnerabilizando o país e enfraquecendo a soberania nacional por superávit primário. Esta é uma das afirmações feitas pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), na última sexta-feira (20), durante seu discurso no plenário do Senado Federal.

Integrante da base aliada do governo, o senador ainda afirmou considerar-se um cético em relação às ações do governo federal, principalmente, em relação ao que caracterizou de “lambança” da política nacional do petróleo, a cargo da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

 Dossiê

Portando em suas mãos um dossiê, cuja autoria não foi revelada, durante seu discurso Requião destrinchou uma série de graves denúncias contra a ANP, entre elas, a de que a realização do leilão do campo de Libra, situado na Bacia de Santos, é um crime. “Nós todos sabemos, até mesmo senadores do PSDB, que Libra com petróleo já descoberto pela Petrobras, em 2010, está sendo leiloado ao cartel das multinacionais petroleiras para gerar superávit primário”, afirmou.

Com base nas informações do dossiê, Requião afirmou ainda que os leilões de petróleo são desnecessários e que o governo federal está “trocando 15 bilhões pelo valor final de reservas fantásticas que poderiam financiar educação, saúde e infraestrutura no Brasil em um futuro próximo”.

Totalmente contrário ao leilão, ele chegou a protocolar um Projeto de Decreto Legislativo que prevê a suspensão do leilão marcado para o dia 21 de outubro. O projeto teve o apoio e a adesão dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Ainda em sua exposição, o senador, afirmou que o leilão do campo de Libra é uma forma de privatização que, em valor, pode ser ainda maior do que todas as privatizações de Fernando Henrique Cardoso juntas. “O petróleo esta sendo praticamente doado para o cartel internacional”, disse.

 Perseguição

O documento apresentado por ele afirma claramente que há uma submissão da estatal brasileira às transnacionais do setor petroleiro. Para tanto, o senador se atenta a alguns fatos, entre eles, a factual perseguição de funcionários da ANP.

Foram apresentados, pelo menos, dois destes casos. O primeiro é do engenheiro e conselheiro do Clube de Engenharia, Paulo Metri. Segundo o relatório e depoimentos do próprio Metri, o engenheiro foi exonerado da ANP, em 2011, após publicar um artigo, em parceria com o senador Saturnino Braga, que discordava da agência estatal e questionava a política do petróleo.

“Mais recentemente, a OGX, de Eike Batista, deixou de instalar uma válvula de segurança em uma plataforma que serve para evitar vazamentos de petróleo em casos de acidentes. O técnico Pietro Mendes, da ANP, lavrou auto de infração para que uma multa de R$ 15 milhões fosse aplicada e foi afastado do cargo”, expôs Requião.

Para ele, a atuação da direção da ANP é mais perigosa para o país que todas as denúncias de espionagem dos serviços de informação dos Estados Unidos na Petrobras.

 Charge: Latuff

Fonte: Brasil de Fato
 
 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Mundo pós-Snowden


Pedro Antonio Dourado de Rezende
Universidade de Brasília
9 de Setembro de 2013

O tema aqui é vigilantismo global versus privacidade sob o que resta de soberania além do marco constitucional. Um tema complexo, e insistente. Para uma perspectiva adequada precisamos então de bom fôlego, o que busco com o aporte de análises geopolíticas quase sempre desprezadas pela mídia mainstream, praticamente invisíveis nela. E com uma análise semiológica dessa invisibilidade, como pano de fundo.
A primeira ajuda vem – graças à internet – do escritor argentino Adrian Salbuchi, num artigo onde ele analisa o Relatório “Riscos Globais 2013” publicado pelo Fórum Econômico Mundial. Relatório que começa pelo óbvio: aumento da violência social e colapso político, financeiro e monetário no Ocidente, falta de alimentos e água potável que se agrava em muitos lugares, e, o favorito das elites que ali congregam, o “terrorismo global”.
Mas o que sua análise destaca não são os riscos óbvios, e sim a artilharia de “propostas aos governos” para enfrentá-los, que faria uso de um tipo insólito de munição, ali chamada “fatores X”. Vindo de quem vem e de quem as divulga, tais propostas devem ser levadas muito a sério, diz Salbuchi. Completando que, se quisermos entender o momento atual, fará bem ler detidamente não só este, mas também outros relatórios do mesmo grupo. Com muita atenção nas entrelinhas, pois elas, lembrando Goethe, sinalizam as sombras de eventos futuros. Afinal, aqueles que são hoje os verdadeiros donos do poder global na terra estão entre os que encomendam, escrevem ou leem com atenção esses relatórios, enquanto estão também em posição de promover e controlar tais eventos de acordo com seus desejos.
Fundado em 1971, o Fórum Econômico Mundial constitui um nó fundamental na rede dos agentes do poder global que, como observou o primeiro-ministro britânico Benjamin Disraeli, no final do século 19, administra “dos bastidores” o planeta.
O Fórum Econômico Mundial é presidido por Klaus Schwab, diretor da Comissão Trilateral de David Rockefeller, função que lhe dá acesso direto às mais poderosas personagens da elite global: Rockefellers, Bushes, Soros, Kissinger, Brzezinski, Rothschilds, Lazards, Harrimans, Montbattens, Warburgs, Schiffs, Bourbons, Oranges … Os agentes do poder global estão na verdade executando o seu plano de impor dos bastidores um governo mundial sobre toda a humanidade, através da concepção, planejamento e execução de macromudanças que precisam ser aplicadas em todos os países, a cada um na medida necessária e no devido tempo, conforme o processo de privatização do poder avança em todo o mundo.
Respirar juntos
No relatório, esses agentes enfatizam duas mudanças fundamentais: a reengenharia dos estados nacionais, e a introdução no imaginário coletivo do que ali chamam “fatores X”. Podemos observar que esse imaginário começa a sofrer sensíveis mudanças, conducentes à dócil aceitação coletiva dos principais “fatores X” – do segundo em particular –, com os efeitos do “caso Edward Snowden”, que se desdobram desde junho de 2013. Conforme argumentaremos ao examinarmos alguns desses fatores, tais mudanças são assim conducentes num sentido ilustrado; por exemplo, pela forma como a identificação de autoria dos ataques com armas químicas em julho de 2013 na Síria vem sendo publicamente comunicada e assimilada.
A palavra “conspirar” formou-se no latim pela contração de cum (junto) e spirare (respirar), com o sentido de concordar. Depois ganhou, no direito romano, um sentido mais específico, o de concordar secretamente com outrem em fazer mal a alguém. Hoje o correspondente substantivo, além de denotar o ato de conspirar em sentido específico, serve também como senha para quem queira ignorar más notícias que não pode indolentemente verificar. Ou, para conotar desejo de ataque ou desprezo a mensageiros dessas más notícias. Devem seguir nesta leitura, então, aqueles que se excluirem dessa indolência ou desejo, pois o fio condutor deste artigo se tece de percepções de riscos desse tipo, abstraíveis do caso Snowden.
Depois da denúncia de que o vigilantismo global inclui rastreamento das comunicações da presidente do Brasil, seu ministro das Comunicações sugeriu que se expandisse o projeto de um serviço de e-mail nacional, pela empresa dos Correios, para que incluísse um sistema de criptografia, e a empresa aceitou. Mas será que os Correios vão terceirizar isso, como fez – ao estilo mãe-joana – o mesmo ministro com o Plano Nacional de Banda Larga? Porém, logo veio a denúncia seguinte, de que o vigilantismo global (via NSA americana e GCHQ britânica) coopta grandes empresas de informática para sabotarem produtos comerciais com criptografia, tornando tal técnica neles inócua contra seus métodos exclusivos. Como fica então nossa nação?

O futuro do Estado Nacional
Saluchi nos contextualiza: numa publicação de 2011 intitulada Lições de todo o mundo: Conselho da Agenda Global sobre o Futuro do Governo e do Estado, o Forum Econômico Mundial repete a receita que o diretor do Council on Foreign Relations, Richard Gardner, já ditava de Nova York há quase quarenta anos: “Erodir pouco a pouco os Estados soberanos”. Recomenda a todos os governos e estados “alinhar-se para o futuro respondendo às condições rapidamente mutantes e às expectativas dos cidadãos, construindo uma capacidade de operar efetivamente em redes complexas e interdependentes de sistemas e organizações em todos os setores público, privado e sem fins lucrativos, a fim de gerar valor público.”
O relatório “Riscos Globais 2013″ acrescenta quais seriam hoje os ingredientes necessários à receita para esse alinhar-se: um modelo de Estado mais raso, mais maleável, mais eficiente e mais tecnológico [em Inglês: "Flatter, Agile, Streamlined, e Tech-enabled", o que nos dá a sigla FAST, em português, RÁPIDO]. Traduzindo desse jargão neoliberal para um português clássico desideologizado desse fundamentalismo dogmático:
  • Flatter = mais raso, o que quer dizer: com menos autoridade e menos soberania;
  • Agile = mais maleável, isto é, mais controlável por fluxos financeiros;
  • Streamlined = ‘Eficientizado’, ou seja, com menos importância geopolítica e menos poder.
  • Tech-enabled = Mais tecnológico, no sentido de mais dependente de donos, operadores e controladores dos processos de pesquisa, desenvolvimento e aplicação tecnológica e/ou de suas estratégias negociais.
Se traduzirmos também em termos práticos, o recado curto e grosso é o seguinte: cada nação deve entrar na linha, perfilando-se tipo “RÁPIDO”, na fila para o governo mundial ou se preparar para sofrer as consequências.
As funções inalienáveis de qualquer governo nacional de um Estado que se quer soberano, basicamente as de promover o bem comum para a grande maioria do povo, acima de interesses de minorias – nacionais ou não – que detêm poder excessivo e que estão agora entrincheirados em suas estruturas públicas e privadas, e de defender o interesse nacional popular dos perigos e ameaças que surgem e crescem no mundo de hoje, precisamente por causa das ações dessas minorias usurpadoras que reinam poderosas em todo lugar – as quais nossa Constituição expressa nos artigos 1º e 5º – estão portanto ameaçadas; mas pior, gerando risco para os povos se levadas a sério por quem deveria representá-los em governo.
Os presidentes Putin da Rússia e Xi Jinping, da China entendem isso muito bem, e por isso pisam em ovos sem pisar na bola. Outros governantes, porém, não aprenderam essa lição fundamental, ou parecem não querer aprender, ou fingem que não a entendem, entrando na respectiva fantasia e vivendo um desses papéis de bobos da corte. Mas só enquanto essas funções decorativas forem úteis ao governo mundial – o que não deve durar muito, pois houve, entre os efeitos pós-Snowden, uma queda das luvas e máscaras de bom-mocismo na ciberguerra: não dá mais para disfarçar que tal forma de guerra está em curso, nem os interesses sombrios e hegemônicos que nela se camuflam em combate ao cibercrime ou ao terrorismo.

Truques docilizantes
Para entender essa nova modalidade de guerra, cujo único desfecho possível será a consolidação de um governo mundial tirânico, conforme essa agenda de perfilamento “RÁPIDO” controlada pelos verdadeiros donos do poder hoje na Terra, busco a ajuda de uma publicação militar em um dos países do bloco BRICS. Em 2011, dois oficiais da Academia Militar do Exército de Libertação Popular chinês assim a descrevem, em inglês:
“(…) Assim como a guerra nuclear era a guerra estratégica da era industrial, a ciberguerra é a guerra estratégica da era da informação; e esta se tornou uma forma de batalha massivamente destrutiva, que diz respeito à vida e morte de nações… Uma forma inteiramente nova, invisível e silenciosa, e que está ativa não apenas em conflitos e guerras convencionais, mas também se deflagra em atividades diárias de natureza política, econômica, militar, cultural e científica… Os alvos da guerra psicológica na Internet se expandiram da esfera militar para a esfera pública… Nenhuma nação ou força armada pode ficar passiva e se prepara para lutar a guerra da Internet.”
Esta destruição começa pela privacidade, cuja escassez só vai ser valorizada pela psique coletiva quando a tirania global no mundo pós-Snowden ao final se instalar. Voltando aos “Riscos Globais 2013″, o comando desse perfilamento “RÀPIDO” prossegue, explicando os passos para sua execução: “Alinhar o sistema de administração pública com os requisitos do novo modelo de ‘governos FAST’, com base em fatores tais como a redução da força de trabalho, necessário para construir organizações enxutas e governos que possam sobreviver na Nova Ordem Mundial” (sic). Essa voz de comando também prescreve fórmulas para autoavaliação do resultado, isto é, do comportamento de cada um na fila:
“Os autores do relatório convocam os Governos para o desafio de projetar e implementar duas novas formas complementares de avaliar o desempenho de governo. O primeiro conjunto de medidas é uma abordagem holística para o desenvolvimento do governo sobre os quatro eixos do modelo FAST. A segundo conjunto de medidas se concentra em como medir o valor que essas transformações proporcionam aos cidadãos. “
Ou seja, fórmulas para autocensura orwelliana no teatro decisivo da ciberguerra, que é o front psicológico. Tudo isso mais parece vir de um relatório anual corporativo do que de uma análise geopolítica para estadistas. Porém, se traduzirmos “governo” para “corporação” e “cidadãos” para “clientes” a confusão se desfaz, ao percebemos que se trata de um plano executivo para erigir governos de fachada privatizados. Cidadãos tangidos para consumir até morrer, num mundo de competição guiado pela lógica da acumulação via redução da força de trabalho e convergência entre big government e big business. Convergência que Benito Mussolini descrevia, no albor da Segunda Guerra Mundial, como essência do fascismo.
Na verdade o “segundo conjunto de medidas” nessas fórmulas não é bem um desafio a ser projetado; ele já está prescrito em três medidas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, por George Orwell em 1984: a)- Guerra é paz; b)- Liberdade é escravidão; c)- Ignorância é força.
Faltam ainda os tais “Fatores X”, sobre os quais Salbuchi comenta: tentando projetar mais para o futuro, a equipe do Sr. Schwab – editor do relatório “Riscos Globais 2013″ – trabalhou em conjunto com a revista científica britânica Nature e conseguiram identificar uma série de “fatores X”, dos quais cinco são verdadeiramente revolucionários se tentarmos inferir o que pode estar por trás de sua importância para um tal projeto hegemônico.
> Fator 1 - “A mudança climática descontrolada: É possível que já tenhamos passado do ponto de não-retorno e que a atmosfera da Terra esteja rapidamente se tornando inabitável?”
Este fator cabe como uma luva na proposta desse projeto de se impor ao mundo um imposto “sobre o carbono”. O aparato fiscal para executá-la legitimaria um proto-regime jurídico que evoluirá para o de um governo mundial, o qual servirá como ferramenta de poder consentido em instância supranacional para controle das nações. Seria uma repactuação social hobbesiana para controle de cada país, região, cidade e indivíduo, designando-lhes quotas de “crédito” de carbono com base no seu “rastro” de emissão de uma substância natural que pode ser poluente. O que permitirá a esse regime controlar em todo o mundo, acima de qualquer governo nacional, quais atividades são permitidas e quais não são.
Daí para a consolidação visível de um governo mundial fica faltando apenas, digamos, pendurar o guiso no gato: unificar o comando militar das forças armadas existentes no planeta, para a missão que a voz de comando desse perfilamento “RÁPIDO” vem chamando de “defesa global”. Unificação da qual a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em sua insaciável sanha expansionista – que em nosso continente corteja a encantada Colômbia –, ensaia-se como protótipo. Porém, como diria Mané Garrincha, falta ainda combinar com os russos e com os chineses, pelo menos. Então são necessários mais fatores para esta “agenda orwelliana”.
> Fator 2 - “Melhoras significativas em conhecimentos e habilidades: Dilemas Éticos equivalentes ao doping em esportes poderão ser ampliados para a vida diária; isso pode desencadear uma espécie de ‘corrida armamentista’ rumo ao aprimoramento neuronal em tropas de combate”.
Como traduzir “aprimoramento neuronal”? Todo progresso científico e tecnológico poderia ser dominado por uma rede global de centros de pesquisa em alta tecnologia, controlados por megacorporações multinacionais. Temos já um exemplo visível no agronegócio, no colocação de sementes geneticamente modificadas por empresas como a Monsanto, associada à criminalização do comércio de sementes nativas para plantio forjada em tratados internacionais como o UPOV. Mas é no domínio das tecnologias de informação e comunicação (TIC), para o teatro da ciberguerra, que este “fator” se torna mais decisivo. Todos querem se sentir seguros, ainda mais na era da informação, mas o que é segurança?
Segurança é ao mesmo tempo um processo e um sentimento, e a experiência nos ensina que não se deve confundir esses dois planos. Temos então que separar aqui seus dois possíveis sentidos. Vejamos um exemplo, naquela denúncia de que o vigilantismo global ubiquamente viola e-mails, que acaba de alvoroçar o governo brasileiro: um sentido aí é o de que, se um sistema robusto de criptografia ponto-a-ponto for bem utilizado com e-mails, isto seja eficaz para proteger a privacidade de quem vier a usá-lo, contra ataques de quem controla os meios de transmissão; o outro, é o de que isto seja eficaz para induzir quem vier a usá-lo a crer que sua privacidade nesses e-mails estaria assim adequadamente protegida.
A ciberguerra, a meu ver, é antes uma forma de contrarrevolução digital, cujo paradigma é “como pode ser a virtualização destrutível”, e seu front decisivo é na psique coletiva. Mais precisamente no teatro da segurança, onde se encenam relações entre os dois planos desta. Na esfera virtual, onde a confiança em instituições é elemento crucial para se manipular em massa atitudes pessoais frente às TIC, e onde armas neurolinguísticas são eficazes, o teatro da segurança é facilmente confundido com o próprio processo, o que torna o front psicológico decisivo nessa nova forma de guerra. Que é global, que passa pela cooptação da mídia mainstream e dos principais fornecedores de TIC, e que parece ser invisível mas não é só.
Vejamos um exemplo mais concreto de operação nesse front, com manipulação massiva de atitudes pessoais frente às TIC. O imaginário coletivo sofre sensíveis mudanças com a aventura épica de um hacker traidor-herói, que arrisca a própria vida e foge para revelar ao mundo o escopo do vigilantismo global, que ele conhece por dentro. Aí não dá mais para negar, de sã consciência ou cara limpa, credibilidade ao que narra Snowden, como antes se fingia. Então, um mês depois, somos convidados a aceitar como fato uma hipótese de autoria dos ataques com armas químicas na Síria, oferecida por quem busca pretextos para anular esse Estado cujo governo teima em defender sua soberania, recusando sua vez naquela fila.
Contrariando a lógica e o instinto de sobrevivência do governo Sírio, que havia sido ameaçado com uma “linha vermelha” mortal ao se por em vantagem na guerra aos rebeldes/terroristas, como conduzir a dócil aceitação coletiva de sua responsabilidade por um ataque que cruza tal linha? Com a mágica do fator 2: o vigilantismo global, como todo o mundo pós-Snowden sabe, é tão extenso e profundo que o comando para perfilamento ao governo mundial teve como saber exatamente quem lá ordenou o ataque com armas químicas – mas esse “exatamente” não pode ser revelado a incrédulos, pois isso poria em risco métodos e fontes de tão valioso e irreversível instrumento do poder atual. Seria já a “defesa global”, quem sabe?
Na dúvida, entra em cena a mídia mainstream, a legitimar tal instrumento com truques neurolinguísticos, para uma dócil aceitação coletiva. Do exemplo da Síria temos a tosca permuta de hipótese por fato na TV Globo e na revista Veja, mas do exemplo anterior destacamos, pela sutileza didática, um desses truques docilizantes: na escolha do verbo ao intitular notícia no portal duma multinacional de telecom, na véspera do Dia da Pátria. “Brasil tenta burlar a NSA com novos cabos e satélite“. Burla pressupõe algo ilegítimo ou ilegal, aqui justo ao revés do que enquadra e exige os artigos 5º e 1º da Constituição Federal. Em sociedades adestradas para cultuar fascínio pelas TIC, essa forma de legitimação/deslegitimação tem boas chances de colar na psique coletiva. Seria a vez do Brasil naquela fila, que se aproxima?
Pé da Letra
> Fator 3 - “Desenvolvesseimento da geo-engenharia para fins criminais. Estão em desenvolvimento tecnologias para manipular o clima que um estado ou indivíduo poderia usar de forma unilateral.”
De forma multilateral ou para fins bélicos, pode? O projeto HAARP (sigla em inglês para Programa de Pesquisa para o Aurora Ativa de Alta Frequência) tem bases instaladas no Alasca e na Noruega, onde aparentemente estão sendo testadas certas travessuras em diferentes partes do planeta. Quem ainda não o conhece, põe-se em bom momento de conhecê-lo tendo lido até aqui. Tudo indica que as instalações do HAARP tem o potencial de gerar ondas eletromagnéticas estacionárias de alta energia que podem ser projetadas em frentes estacionárias na atmosfera sobre determinadas áreas geográficas, gerando o efeito de bloquear ou retardar o movimento natural das correntes climáticas que produzem chuva.
Desta forma, tais experimentos podem causar excesso de chuva na lado anterior dessas barreiras estacionárias (gerando inundações) e escassez de chuva do lado posterior dessas frentes de ondas invisíveis (gerando secas). Também, como sabem os geólogos, certas ondas eletromagnéticas de alta potência podem ser moduladas na freqüência exata para produzir ressonância em placas tectônicas que estão “prestes a romper”. Assim, para quem tem os dados exatos, armas HAARP poderiam também ser usadas para precipitar terremotos e tsunamis em regiões onde tais eventos estariam prestes a ocorrer por acúmulo de tensão no contato de placas tectônicas. Para os que resistirem ao perfilamento “RÁPIDO” com o fator 2.
> Fator 4 - “O custo da longevidade:.. Avanços médicos estão prolongando a expectativa de vida, mas os serviços médicos geriátricos são muito caros a longo prazo. Cobrir os custos associados com a velhice será uma grande luta.”
Como seria travada essa “luta”? Para isso já existe um outro projeto que se ocupa dos detalhes, o PNAC (Project for the New American Century). No PNAC os falcões da direita política norte-americana, os neocons, traçam linhas de ação rumo a um governo mundial, dentre as quais uma agenda de “despopulação” (sinônimo em doublespeak para genocídio), prescrita no National Security Study Memorandum nº 200 (Kissinger Report) à guisa de solução para a vindoura escassez de recursos naturais no planeta. Embora a agenda PNAC de despopulação seja conducente à atual pressão para se atacar a Síria, não sabemos até onde ela se alinharia com a agenda que, controlada dos bastidores, parece comandar o perfilamento “RÁPIDO.”
Pois na medida em que os neocons se mantém focados em traços nacionalistas do seu ambicioso projeto hegemônico (PNAC), tornam-se alvos automáticos dos demais elitistas que também são hoje donos do poder, e que também se sentem donos do mundo e da agenda mundialista – a qual precisa ser única para ter sucesso –, devido à firme resistência neocon ao autoperfilamento “RÁPIDO”, até mesmo no fim da fila. Para entender até onde essas duas agendas mundialistas – que podemos chamar de orwelliana (mais difusa e antiga) e neocon (centrada nos EUA) – podem ou não convergir, buscarei o aporte duma outra fonte de análise geopolítica, por sua substancial interseção cognitiva com a dogmática da agenda neocon.
As poderosas elites orwelliana e neocon convergem dogmaticamente em várias frentes, inclusive quanto à importância do fator 5 (adiante), mas suas divergências existem – e turvam seu convívio – a partir de influências das doutrinas pós-tribulacionista e amilenarista de um pretenso fundamentalismo cristão no pensamento neocon. Pretenso pois tais doutrinas a meu ver são apostásicas, e portanto cristianismo falsificado, mas mesmo assim com seu papel nele profético a cumprir. Papel onde bem se encaixa a agenda PNAC de despopulação, para os que queiram tomar o (auto?)cumprimento de profecias apocalípticas em suas próprias mãos. Para o aporte semiológico final, convém antes examinarmos o fator 5.
> Fator 5 – “A descoberta de vida extraterrestre: Evidências da existência de vida inteligente em outros lugares do universo teria profundas implicações psicológicas dos sistemas de crenças da humanidade.”
Haveria manobra mais convincente para imposição, da noite para o dia, de um governo mundial? Um truque neurolinguístico mais eficaz para dócil aceitação coletiva de uma necessária “defesa global”? Com inimigo temido de todos, pois alienígena, haverá? Já houve até balão de ensaio, soprado por um pioneiro neocon: em 1987, num discurso na ONU, o então presidente Ronald Reagan perguntou: “quão rapidamente nossas diferenças em todo o mundo acabariam se nós enfrentamos uma ameaça alienígena de fora de nosso mundo? E eu me pergunto se uma força alienígena já não está entre nós.” Qualquer “solução” demandaria uma representação unificada, com autoridade para negociar ou comandar por toda humanidade.
Estariam os neocons jogando com “profecias” autorrealizáveis, tentando manipular com seus poderes as da única religião que há milénios nos dá, através delas, um teste que será definitivo sobre o absoluto teor de suas verdades? Pois as minuciosas profecias sobre os últimos dias desse mundo de Snowden, ou se cumprirão todas ao pé da letra, confirmando inclusive como as anteriores se cumpriram, ou não. Se o PNAC for inspirado em profetadas, ensoberbecido com teses pós-tribulacionistas ou amilenaristas, neocons e orwellianos estariam, sem saber, cumprindo também a profecia da “operação do erro” em 2º Tessalonicenses 2:8-12, se a do arrebatamento da verdeira igreja de Cristo cumprir-se antes da Grande Tribulação e esta aí vier.

Sem volta
E os orwellianos, de sua parte, estariam acomodados ou incomodados com essa forma de influência dogmática na ideologia de poder dos neocons? Esta é uma questão delicada, que creio pertinente ao caso Snowden, para a qual uma intuição adequada pode sinalizar contornos da sombra de eventos futuros de que fala Goethe. Para abordá-la recorreremos a outros relatórios, estes produzidos por Doug Hagmann, fundador da Network Intelligence Northeast, um investigador privado nos EUA que produz o programa em áudio “Hagmann & Hagmann Report” na Internet. Pelos anos, Hagmann cultivou várias fontes no aparelho de inteligência dos EUA, que estão, como diz, aterrorizadas com o que está por acontecer ao país.
Uma dessas fontes foi ouvida anonimamente em programas gravados pouco antes de 28 de agosto de 2013, e citada no artigo ” It’s All About the Money, Baby!” no portal Rapture Ready, [traduzido] que começa lembrando uma frase de Franklin Roosevelt: em política nada acontece por acaso. O acaso aqui seria Obama se preparando para atacar mais um país do Oriente Médio que nunca representou ameaça aos EUA, enquanto armas químicas são encontradas em túneis conhecidos por serem usados por rebeldes/terroristas em luta contra o governo da Síria, por soldados do governo que lá entraram à procura de provas e foram surpreendidos com produtos químicos no ar, com alguns hospitalizados devido à exposição ao gás sarin.
Se a TV Globo, no Fantástico, dá dois furos seguidos com Snowden via Glenn Greenwald sobre o escopo do vigilantismo global, o mais recente (domingo, 8/9) envolvendo espionagem comercial/industrial vitimando a Petrobrás em seus esforços no pré-sal, enquanto segue a manada midiática alinhada à potencia hegemônica, que inverte tola hipótese por fato sobre a autoria dos ataques com armas químicas na Síria, isso também não é acaso. A primeira vítima numa guerra, tal qual sombra de eventos futuros, é a verdade consistente nas notícias. A fonte de Hagmann corrobora: “…esta[mos] vendo os atos de abertura de uma guerra global, que põe em marcha a Terceira Guerra Mundial.” Chute, não? Prossigamos com ela.
A guerra começará na Síria e ninguém no planeta – os americanos em particular – será deixado intocado pelo que está prestes a acontecer. Isso foi planejado há algum tempo e agora estamos vendo se desdobrar. Os rebeldes/terroristas na Síria, inclusive a Al Qaeda, vinham sendo supridos através da embaixada norte-americana em Benghazi (na Líbia). Quando a embaixada foi atacada esse apoio minguou, levando os rebeldes a perder terreno para o exército sírio. Como esses rebeldes não podem sobreviver por muito tempo sem a ajuda ocidental, vinham por isso batendo-se em retirada no aguardo da próxima fase do plano. Ei-la agora em execução, disparada pela inversão midiática da tola hipótese por fato.
O site Guerrilla Economist relatou o seguinte sobre essa fase:
Trata-se de uma guerra dos banqueiros internacionais. Grandes bases militares dos EUA estão bem no trajeto do proposto oleoduto do Mar Cáspio [que aliviaria o Iran da pressão das sanções, permitindo à Síria vender seu petróleo no Mediterrâneo]. A receita desse oleoduto, bem como alguma proveniente do lucrativo comércio de ópio, acabarão achando seu caminho de volta aos bancos americanos que irão lavar o dinheiro, parte do qual ajudará a financiar a Unocal no projeto de construção deste oleoduto. Os bancos ganham de um jeito ou de outro.” [seja com a construção do oleoduto, seja com seu impedimento por destruição do atual Estado sírio].

Um relativo desconhecido, Barack Hussein Obama, foi escolhido para concorrer à presidência dos EUA em 2008, contra John McCain. Por que ele e não Hillary Clinton? Porque os jogadores de fato, elites donas do poder nos bastidores, precisavam de alguém que tivesse ligações com a Irmandade Muçulmana para realizar o que entendem por necessário no Oriente Médio. Em seguida ocorre a Primavera Árabe, que foi planejada com anos de antecedência. Não foi ao acaso, um movimento espontâneo de pessoas oprimidas que anseiam por democracia, mas um plano da Irmandade Muçulmana sunita para retomar o controle do que por séculos, e até um passado recente (antes da Primeira Guerra Mundial), foi o Império Otomano.
Mas o plano não é simples. Síria e Irã são Estados satélites para a Rússia, e a China também tem interesses no Irã. No Oriente Médio toda grande potência têm interesses. Então, quem os EUA irão enfrentar ao final se atacarem a Síria? A Rússia. Ótima idéia! Aí, o que acontecerá? A charada vem diretamente das profecias bíblicas sobre os últimos dias desse mundo como o conhecemos, em particular daquela em Ezequiel 38. Nelas, ou no que estamos vendo, nada é para lutar contra o terrorismo ou ajudar o povo da Síria. É sobre petróleo, energia e o sistema econômico global. Para os donos do poder o conflito existe para alcançarem seu objetivo, que é a implantação de um novo sistema econômico, baseado numa cesta de moedas, o SDR (Direito Especial de Saque).
Se você nada sabe sobre o SDR, basta imaginar algo como o Euro, mas numa escala global (há um artigo na investopedia explicando isso). A guerra no Oriente Médio, particularmente na Síria, é o catalisador para sua implantação. A Síria agora é como o truque ‘flash’ de um ato mágico. Uma vez iniciado este ato, não se poderá mais voltar atrás. A catalisação bélica irá interromper as operações de comércio em todo o mundo, para o início desta conversão monetária e consequente reviravolta econômica. Nas palavras da fonte de Hagmann, “(…) e poucos vão vê-la chegando, ou saber o que foi que os atingiu. Quando a Casa Branca disparar o primeiro míssil contra a Síria, este será o dia em que o mundo como nós o conhecemos termina”.
O que nos traz de volta ao caso Snowden, como marco importante para este momento histórico que vivemos, como pretende o título deste artigo. Depois de examinarmos recente proposta do Fórum Econômico Mundial, dos “fatores X” como munição contra “riscos globais”, chegamos à delicada questão de até onde sua correspondente agenda mundialista, de perfilamento “RÁPIDO”, se coaduna com a agenda mundialista autocentrada dos neocons do PNAC. Delicada, pois de sucesso só haverá uma. Os neocons avessos à autodesnacionalização – leia-se: os que podem imprimir dólares com um mouseclick–  estariam entre os que não vão ver a reviravolta econômica chegando? Vejamos como aí pode estar a sombra de Snowden.
Na primeira entrevista que concedi sobre os eventos que aqui chamamos “caso Snowden”, em 13 de julho, destaquei uma análise que me parecia promissora. A de um analista financeiro que é experiente inovador em táticas especulativas para pregões eletrônicos, em entrevista que ele concedeu ao portal RT. Max Keiser ali aponta para o cenário desse caso como ele o vê: a compania onde Snowden trabalhava, Booz Allen, junto com algumas associadas são mentoras não só da privataria tucana que assolou o Brasil sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, mas também da manipulação que ocorre em importantes mercados globais de juro e de câmbio, como o LIBOR e o FOREX, e essa manipulação é o combustível que mantém o “império militar” funcionando, supondo que Keiser se refere aí à OTAN.
A economia dos EUA por si só não consegue mais manter suas ambições militares, e para isso essas ambições precisam manipular mercados. O tipo de inteligência que Snowden pode mostrar como se agrega, é fundamental para essas manipulações. Elas podem instrumentar a Booz Allen e suas parceiras a canalizar bilhões de dólares para irrigar campanhas militares. Então, essa fúria contra Snowden em Washington e em Londres na verdade seria por causa de dinheiro, e não de segurança. Keiser prossegue nos lembrando que a Casa Branca e a casa 10 de Downing Street são reféns de Wall Street, dos fundos hedge, de banqueiros corruptos e também da Booz Allen, e que as empresas parceiras no PRISM ou X-Keyscore, tem incentivos financeiros para participar desse programa, além dos possíveis pedágios para acesso a dados pessoais dos seus clientes.
Os índices cobiçados são sensíveis a dados econômicos. Se a Booz Allen e certas parceiras podem manipular esses dados, podem com isso manobrar os índices que guiam os mercados. Incluindo preços de ações em pregões voláteis, inclusive das suas próprias ações. Tal como depois viriam a se queixar o New York Times e o The Guardian. Se a Booz Allen e certas parceiras coletam informações privilegiadas, outras parceiras podem, com tais informações, ganhar bilhões e bilhões de dólares para o esquema. Não só com privatarias na periferia, mas também com operações algorítmicas em pregões automatizados, que são efetuadas por software em altíssima velocidade. Estas com enormes volumes e quase sempre disparadas por diminutas variações de preços, uma novidade tecnológica ainda infiscalizável e que vira e mexe dá sérios tilts. É claro – para Keiser – que os grandes bancos de Wall Street e de Londres estão fazendo isso.
Assim, toda aquela fúria persecutória contra Snowden pode ter causa em manobras virtuais que só darão lucro – fraudulento – enquanto houver confiança coletiva em moedas sem lastro. Não é por causa do vazamento de segredos de Estado em si, já que isso ocorre a toda hora sem que os delatores sejam importunados, inclusive a respeito deste caso, ou mesmo mentindo publicamente (para contrainformação), se o efeito pretendido na grande mídia for o de maquiar a imagem do governo ou de plantar falsas incriminações contra denunciantes. Infelizmente, os EUA não tem mais dinheiro para financiar suas guerras e aí o governo precisa recorrer à manipulação de mercados via bisbilhotagem, e isso é a última coisa que quer vindo à tona de forma crível, por atos de um insider cuja fuga o torna candidato a mártir. Pois o filão secreto de ouro (de tolo) que Keiser aponta seria assim “roubado.” Eis aí o que parece um calcanhar de Aquiles nos neocons, exposto aos parceiros/concorrentes orwellianos. Seria?
Nas sete semanas transcorridas desde então, como o conta-gotas de revelações conduzidas por Greenwald parece ter se focado na utilidade do vigilantismo global para espionagens de natureza industrial, comercial, financeira e política, a análise de Keiser ganha peso e aponta para a questão das possíveis tensões internas entre parcerias e concorrências que delas se locupletam ou se vitimam. Em especial, para a mesma questão delicada a que chegamos acima. Como seria a dinâmica interior dessas parcerias/concorrências?
Recorro novamente a Salbuchi. Ele não destaca qualquer divisão interna especial na rede de poder global regida dos bastidores por elites do planeta, como esta entre orwellianos e neocons que empiricamente aqui nomeio para clivar esse poder com o simbolismo profético, mas no artigo “Bilderberg explicado” (24/6), ele explica:
“A estrutura de poder global que realmente rege nosso mundo constitui uma rede complexa, que vai muito além de qualquer organização ou entidade como o Grupo Bilderberg [ou o Fórum Econômico Mundial]. Esta rede é composta de uma enormidade de nós: corporações multinacionais, bancos transnacionais, impérios midiáticos, governantes subordinados, organizações multilaterais como a ONU, Banco Mundial, FMI, grupos lobistas, grupos públicos e privados da mais variada natureza: ONGs, think-tanks, clubes, seitas e até mesmo – por que não, se eles fazem parte do poder mundial grupos mafiosos, mercenários, terroristas, cartéis de drogas e outras organizações criminosas.”
Todos integrados em maior ou menor grau e sutileza à rede de poder global cujos agentes costumam chamar de “a comunidade internacional”, embora muitos acreditem que o Grupo Bilderberg seja o obscuro enclave por excelência que conspira para dirigir o destino da humanidade. Ele de fato congrega centenas de pessoas dentre as mais ricas, poderosas e influentes da Terra com objetivos e interesses em comum, as quais, claro, nele discutem a portas fechadas o que ninguém de fora sabe ao certo. E que obviamente desperta crescente curiosidade na psique coletiva desde que começou a se reunir em 1954, sempre em hotéis exclusivos que oferecem a necessária privacidade para discutirem sua agenda em segredo.
Adeptos e estudiosos de teorias conspiratórias tendem a acusar esse grupo por todos os males desse mundo atual, mas isso é na verdade um exagero. Pois assim se tende a ver tal grupo como isolado dessa rede de poder, quando de fato ele só ganha sentido ao inserir-se no liame que realmente rege o mundo através dela. Todavia, a questão delicada aqui levantada, sobre potenciais ou reais conflitos entre orwellianos e neocons, situa-se justamente na forma como tal inserção se dá, dos bilderbergers nessa rede maior, uma vez mapeados alguns detalhes aparentemente desconexos de eventos aludidos como caso Snowden. O que nenhum estudo acadêmico de conspirações deve desprezar. Estudos que são legítimos não só na área do Direito, refletidos por exemplo em tipificações penais como estelionato, mas também na da segurança digital levada a sério.

Mente e Espírito
Embora Snowden tenha fugido, já com todo o material que havia exfiltrado do aparato de vigilantismo global onde prestava serviços técnicos, em 20 de maio de 2013, quando passou a trabalhar de Hong Kong para convencer jornalistas destemidos, escolhidos a dedo, a começarem a publicar revelações sobre o escopo desse vigilantismo em seus respectivos veículos mainstream, a primeira dessas publicações só veio à tona em 5 de junho, no jornal The Guardian. Quando então os bilderbergers puderam acompanhar, juntos, ao vivo, na total privacidade do seu encontro anual, durante todos os dias do encontro de 2013 nos arredores de Londres, os primeiros eventos e desdobramentos públicos deste caso.
Se o caso Snowden estiver sendo na verdade o primeiro catalizador da guerra vindoura, em preparo da psique coletiva, no front psicológico da ciberguerra, para o que virá, envolvendo alguma forma de “traição” orwelliana aos neocons para dar-lhe cobertura (com Snowden sabendo ou não) em sua aventura épica, cujo rastro de destruição se concentra na credibilidade de uma moeda sem lastro que se condena ao colapso, para a fase de reviravolta econômica na transição do dólar para SDR como moeda de reserva de valor global nessa guerra, só teremos como saber ao final. E só então, se for o caso, o título deste artigo, que por enquanto se justifica pelos indícios, estará plenamente justificado.
Entrementes, esses indícios podem continuar sendo minerados da avalancha de escombros onde ora se escondem as verdades em notícias. Para isso, como pesquisador acadêmico em segurança digital que leva a sério seu ofício, guio-me por uma bússola que alguns tomam por doentia. “Paranóia” significa, também, conflito entre mente e espírito. Em tempos dominados por consumismo utilitarista e materialismo niilista, doutrinas que confundem mente e espírito, tais conflitos parecem indicar distúrbio psicológico. Mas quem acredita que mente e espírito são coisas distintas, poderá, nessas situações, priorizar o espírito para orientar suas crenças e conduta. Como ensina o apóstolo Paulo em 2º Timóteo, 4:3-5, pouco antes de morrer na carne.

Autor:

ATC PhD em Matemática Aplicada pela Universidade de Berkeley, Professor de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), coordenador do programa de Extensão Universitária em Criptografia e Segurança Computcional da UnB, membro do conselho do Instituto Brasileiro de Política e Direito em Informática, ex-conselheiro da Fundação Software Livre América Latina, ex-representante da sociedade civil no Comitê Gestor da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira,

Agradecimentos


A Aaron Swartz (In Memoriam), pelo insuperável exemplo de coragem em sua obra viva (mas não de morte). A Edward Snowden, pela inspiração e motivação.


Direitos do Autor

Pedro A D Rezende, 2013:  Este artigo é publicado no portal do autor sob a licença disponível em http://creativecommons.org/licenses/by-nd/2.5/br/