domingo, 1 de julho de 2012

Brincar com o Fogo

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Rui Paz


Rui Paz 
O Governo alemão, infringindo as leis que limitam a exportação de material bélico do seu país, vem fornecendo armamento sensível a Israel. Um Estado que além de já possuir o mais perigoso exército da região, insiste em manter uma política agressiva contra os estados árabes seus vizinhos e oprime de uma maneira tão brutal os direitos do povo palestiniano. O objectivo da Alemanha é ajudar Israel a dotar-se de um sistema marítimo de armas atómicas que lhe permita atacar inesperadamente qualquer Estado do Médio Oriente.


Em Maio, os estaleiros da Howaldtswerken-Deutsche Werft (HDW) situados na cidade de Kiel, no Norte da Alemanha, forneceram a Israel o quarto submarino ultramoderno da classe Delfim. Os três primeiros foram quase totalmente pagos pela Alemanha, isto é pelo povo alemão e em primeiro lugar pelas vítimas da política anti-social do Governo de Berlim no quadro da «ajuda militar» a Telavive. Israel e a Alemanha têm procurado manter o mais discretamente possível este negócio cujas implicações são extremamente graves. Os submarinos estão preparados para com ligeiras modificações poderem transportar e lançar ogivas nucleares até 1500 e 2000 quilómetros de distância. É uma manifestação de irresponsabilidade total do Governo alemão, infringindo as leis que limitam a exportação de material bélico do seu país, fornecer armamento tão sensível a um Estado que além de já possuir o mais perigoso exército da região, insiste em manter uma política agressiva contra os estados árabes seus vizinhos e oprime de uma maneira tão brutal os direitos do povo palestiniano. O escândalo ainda é maior se pensarmos que a actual chanceler Angela Merkel, então na oposição, apoiou a agressão militar e a invasão pelo célebre trio Bush, Blair & Barroso do Iraque, país acusado falsamente de possuir armas de destruição maciça.
Mas no caso de Israel é exactamente ao contrário. Israel é o único Estado do Médio Oriente que possui de facto armas atómicas tendo em conta que o Paquistão está situado já muito longe de Israel junto à fronteira da Índia.
Os estaleiros da HDW que pertencem ao grupo ThyssenKrupp, dois nomes sonantes da indústria do armamento alemão e que levaram Hitler e o partido nazi ao poder, são célebres pelas suas tradições militaristas. Uma tradição que se manteve mesmo depois de 1945 com o rearmamento da Alemanha e a sua integração na NATO embora sem recurso ao armamento nuclear. Assim, em 1967, a HDW produziu submarinos para a ditadura dos coronéis na Grécia. Em meados dos anos setenta o Xá da Pérsia encomendou também meia dúzia daqueles vasos de guerra mas não tendo sobrevivido politicamente à sua entrega, dois deles foram parar ao Chile do sanguinário general Pinochet. E a marinha de guerra da Turquia, «democracia» da NATO com o maior número de golpes de Estado militares, também não pode prescindir destes instrumentos de guerra. Para fazer crer que a Alemanha luta pela defesa da «democracia» e dos «direitos humanos» à escala global, os negócios militares com o regime do apartheid foram assinados secretamente em 1985.
Se tivermos em conta o sofrimento e a opressão que se abatem sobre o povo palestiniano e as leis discriminatórias que reinam nos territórios ilegalmente ocupados por Israel, a situação é quase idêntica à do então regime racista sul-africano.
O potencial nuclear de Israel é calculado entre 80 bombas atómicas (Sipri, Instituto de Investigação para a Paz. Estocolmo) e 400 (Jane’s Information Group. Londres), com uma capacidade de 50 megatoneladas. Uma megatonelada corresponde a 80 vezes a bomba de Hiroshima.
Além dos sistemas terrestres, Telavive possui sistemas aéreos como os mísseis «Jericó» com ogivas nucleares, assim como um elevado número de bombas atómicas transportáveis por aviões de guerra F-16. A repressão e encarceramento do técnico nuclear israelita Mordechai Vanunu que denunciou o programa atómico e a possibilidade de Israel empregar armas nucleares contra os seus vizinhos árabes confirmam por que é que Israel não assinou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. O objectivo da Alemanha é ajudar Israel – cujos governos são cada vez mais fascizantes e agressivos – a dotar-se de um sistema marítimo de armas atómicas que lhe permita atacar inesperadamente qualquer Estado da região no quadro da chamada guerra preventiva. Um verdadeiro brincar com o fogo da parte de um Estado que irresponsavelmente tudo tem feito para reforçar a vertente militarista da União Europeia.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2013, 28.06.2012

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