quarta-feira, 2 de maio de 2012

DIREITO DE DESTRUIR O MUNDO: UMA ANEDOTA PARA UM NÃO-FUTURO

buscado no O Ingovernável

É exaustivo e quase desestimulante ter que sempre retornar à mesma questão: o quanto a matriz jurídico-política em que estamos inseridos é completamente dependente de um conjunto de pressupostos que contêm, em si mesmos, a possibilidade de gerar todas as supostas distorções, acidentes e perversidades que os defensores desse sistema gostariam que fossem apenas isso: acidentes, perversidades, distorções. Nossa matriz liberal-humanista, ao conceber a liberdade enquanto propriedade, carrega a própria possibilidade da destruição de toda e qualquer liberdade como efeito da própria liberdade. É assim que a tolerância – emblema máximo da não-relação com a diferença e da propriedade como ilhota que me protege dos outros – é o que permite a intolerância, pois é preciso tolerar os intolerantes.
Hoje, quando em pleno século XXI a Presidenta da República, do maior partido de esquerda do país, anuncia que não podemos opôr às riquezas naturais ao crescimento do país, é possível ver todo o desenvolvimento perverso (em todos os sentidos possíveis) de toda essa matriz. Quando as últimas e precaríssimas garantias do Código Florestal desabam em nome de empresários famintos por crescimento, mesmo que seja à custa de toda multiplicidade natural brasileira, vislumbramos mais um daqueles pontos que sintetizam todo um tempo, aqueles pontos de encontro em que civilização e barbárie provam sua indissociabilidade.
Não tardará muito tempo, podem anotar isso, para alguns defensores dos direitos humanos incapazes de revisar a própria matriz em que estão inseridos começarem a defender o direito humano à destruição do mundo. Trabalhando ao lado de cientistas cujo trabalho será encontrar uma nova biosfera para o homem em outro lugar do Universo, esses humanistas irão sustentar que é uma necessidade natural do homem destruir o mundo, que é inevitável – que, afinal de contas, isso gera empregos.

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