terça-feira, 17 de abril de 2012

Valentina: Mulher em Carne & Osso & Nanquim!











Valentina Rosselli nasceu no dia 25 de dezembro de 1942, em Milão, pelas mãos e mente de Guido Crepax (1933 – 2003), que nem imaginava que a sexy personagem coadjuvante dos quadrinhos policiais protagonizadas por seu herói Neutron, fosse aos poucos ganhando espaço e assumindo o papel central nas histórias.
A aparência de Valentina foi inspirada em Lulu, personagem do filme “A Caixa de Pandora” (Die Büsche Der Pandora, 1929) interpretada por Louise Brooks (atriz norte-americana do cinema mudo dos anos 30 e 40, que morreu em 1985) e em Luisa Crepax, a mulher do quadrinista. Crepax era admirador de Brooks e guardava várias fotografias dessa mulher diferente de cabelos curtos que o fascinava e foi o ponto de partida para a criação da personagem. Mas logo  depois, Luisa Crepax cortou o cabelo no mesmo modelo da atriz, passando então a ser a inspiração.


Louise Brooks
Luisa Crepax















Guido Crepax, que estudou arquitetura, sempre dedicou-se ao desenho. Ilustrou campanhas publicitárias, revistas médicas, capa de livros e discos. Fez capas para Charlie Parker, Louis Armstrong e Gerry Mulligan. E também algumas capas de álbuns de música clássica, mas o jazz era uma de suas paixões. Ele sempre desenhava ouvindo música alta. Ouvia Bob Dylan e os Beatles, mas principlamente jazz. Em 1965, Guido Crepax foi convidado a participar da revista italiana Linus (revista que inventou o gênero de quadrinhos adulto) e foi nesse ano que Valentina apareceu pela primeira vez no dia 05 de dezembro e começou a ganhar força, tornando-se a única protagonista da série em 1967.
Valentina Rosselli aparece pela primeira vez no dia 05 de dezembro de 1965 em "A Curva de Lesmo" (referindo-se a uma curva do Grand Prix de Monza de Fórmula 1), uma trama policial onde uma gangue internacional planeja assassinatos de milionários pelo mundo. A missão de Neutron, com poderes mediúnicos e paralisantes, é impedi-los. Para tanto, Philip (a identidade secreta do herói)  vai à Itália, onde conhece a fotógrafa milanesa (Valentina, com 23 anos nessa história). A partir daí, um enredo mirabolante se desenvolve, no melhor estilo 007, misturando romance com corridas de automóveis, perseguições em lanchas e helicópteros. 
 


Com o passar dos episódios, Valentina -  a fotógrafa independente, sexy e bem resolvida - torna-se a mulher dos sonhos dos homens, dominando de forma intensa o imaginário dos leitores,  que perdem o olhar entre as suas longas curvas. Valentina passa aos poucos a protagonizar as histórias. E Philip, acaba como personagem subalterno. Valentina e Philip  tiveram um filho sem serem casados (isso foi bastante ousado para época), Mattia. A bela morena era adepta do amor livre e de vez em quando ela e Philip tinham aventuras paralelas mas, no final, sempre voltavam a ficar juntos, ligados num grande amor.
A medida que o tempo passou as histórias foram abandonando a ficção, ciência ou os temas de detetive do início, e foram dando lugar  à introdução de uma mistura complexa e estranha de alucinações, erotismo e sonho. As tiras também trataram de  bissexualidade, êxtase autoerótico, supersensual, abandono e sadomasoquismo.


 






































 













Valentina - que estava sempre envolvida em peripécias eróticas - frequentava ambientes e bebia champanhes caros, fazia  inúmeras referências à alta costura, como seu corte de cabelo Channel e o seu vestido estilo Dior. Mas estava longe de ser uma alienada, exibia um certo refinamento cultural e politizado. Esses ambientes que costumava frequentar eram repletos de artistas e intelectuais, sendo referências literárias e musicais. A bela fotógrafa era vista como moderna pra sua época não se importando com a moral imposta pela sociedade.
Mas algumas atitudes da personagem incomodavam as feministas italianas que não concordavam com a sexualidade abusiva de Valentina. Tempos depois, as representantes do movimento feminista italiano ofereceram desculpas a Crepax, dizendo que ele fora o único capaz de apresentar a visão de uma mulher completa, com desejos e ambições, liberdade sexual e profissional.




 


Valentina que teria hoje 69 anos - completando 70 no final de dezembro - foi a primeira personagem a envelhecer nos quadrinhos. Nos últimos anos que Crepax a desenhou ela usava óculos e era uma pós-balzaquina ainda sexy e curvilínea.
Com quase duas mil páginas, Valentina – que teve o último episódio publicado em 1995 – continua fascinando leitores do mundo inteiro. Best seller em vários países da Europa, a obra de Crepax influenciou grandes nomes dos quadrinhos adultos, como Milo Manara e Paolo Eleuteri Serpieri. 

 



























No Brasil, suas histórias foram publicadas pela primeira vez em 1971, na revista "O Grilo". Em sua sétima edição, a revista trazia a feliz novidade na capa: Valentina chegou! Não é difícil concluir que ela logo conquistou o publico tupiniquim. Foi nessa época que o menino de apenas 7 anos, Marco Aurélio Lucchetti  - hoje professor universitário em Ribeirão Preto, doutor em comunicação pela USP -  teve o primeiro contato com a  personagem. A revista "Grilo", foi comprada por seu pai, o escritor mestre do terror R. F. Lucchetti. A partir daí Marco Aurélio tornou-se fã daquela mulher sedutora, de olhar lânguido, submisso, que vive entre o sonho e o sexo, entre o delírio e o mistério, e começou  colecionar tudo o que conseguia encontrar sobre ela. Passou anos estudando – ou desnudando, sua amada sedutora. Suas investigações resultaram em uma tese de doutorado que mais tarde (2005) se tornaria o belo livro “Desnudando Valentina – Realidade e Fantasia no Universo de Guido Crepax” (Opera Graphica/ 384 páginas). E realmente no livro Marco Aurélio Lucchetti desnuda Valentina! Desnuda de uma forma saborosa, mostrando tudo sobre a musa dos quadrinhos, às vezes de forma repetitiva, às vezes trazendo uma surpresa louca. Busca suas fontes seja em teses acadêmicas seja em papo de corredor. Como o que travou com o professor Araújo, que tinha acidentalmente encontrado o desenhista em Lucca, na Itália, em um congresso. Araújo e Crepax travaram amizade, o desenhista o convidou para, quando em Milão, ir visitá-lo. O professor não titubeou. Terminado o congresso, pegou o trem e foi. Ao chegar, sentado na sala, conversava com Crepax quando entrou a mulher do desenhista para servir um café. "Fiquei surpreso ao ver que ela era Valentina em carne e osso e exclamei: 'Mas... é Valentina!'" Imediatamente, Crepax replicou: "Sim... Que posso fazer? Ela está em toda parte."  

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