sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Comandante Negro das Matas!

Buscado no Documentando a Ditadura




Por Paulo Fonteles Filho.

Dissera-me, certa vez, a castigada mulher de pés e mãos endurecidas pelo trabalho sol a sol com a mesma enxada de vários anos que, Osvaldão, havia, há muito, se transformado em lobo. E, mata adentro, uivando, buscava seus companheiros insurretos, esgueirando-se da onda de fogo dos fuzis inimigos.
Osvaldão adormece no fim da pista de pouso onde desciam os búfalos com generais, tropas, torturadores, funcionários das mineradoras e da CIA, em Xambioá. Há muitas lendas de como atuou, nas contendas araguaianas, o Comandante Negro das matas. Acerca de seu desaparecimento em meados de 1974 uma versão ganhou força ao longo dos anos: teria sido um sequaz do Major Curió, Arlindo Piauí?
Há muito, o famigerado Major Curió e seu círculo de pistoleiros fez crer, na região do Araguaia, que seu mais confiável bate-pau seria o responsável pelo tiro algoz em Osvaldão: credencial para a covardia do matador de dezenas de lavradores, na maioria composta por lideranças populares do Baixo – Araguaia
O certo é que o Comandante Negro, filho da mais proletária de todas as raças lutou até apagar os olhos, com a Parabellum na mão, insubmisso, consciente da mata e dos caminhos da história.
Ocorreu em sua morte o mesmo ritual para quem, em regimes terroristas, defende e aspira a liberdade: o corta-cabeças. Como Tiradentes, ficou exposto por dias sobre a legenda do triunfo dos vencedores.
Tido também por Mineirão, angariou em poucos anos a confiança e a admiração das gentes simples e humildes, da Gameleira à Faveira, de Santa Cruz até Xambioá, de São Geraldo até Apinagés, de São João à São Domingos das Latas.
Conheceu as pedras pontiagudas e esverdeadas do Araguaia, garimpou na Serra das Andorinhas e em Porto Franco. Apreciando os minerais na lua metálica foi profundo como a terra silenciosa.
Foi regatão respeitado por praticar preços justos.
Mata adentro, procurou desvendar os segredos da floresta, ajudou a fazer partos e de sua boca primeira ecoou a poética do “Romanceiro da Libertação”.
Educou o povo e pelo povo fora educado, como o personagem de Lautaro, no poema de Neruda. Fez casas e roças. Teceu belas manhãs com estórias do Partido Comunista.
Fez amigos e namoradas. Caçou, amou, exortou a liberdade, foi justiceiro com aqueles que espoliavam o povo. Fez discursos à hora do crepúsculo, ensinou a arte-militar.
Foi político, mariscador, castanheiro e garimpeiro.
Filho fez também; segundo dizem, dois.
Ao pé da Serra evoluiu como vento. Mergulhou nos banzeiros minerais dos Martírios. Dormiu nas redes e se fez povo, povo da mata.
Não matarão Osvaldão porque seu feito decorre do feito de sua gente e de sua época.
O povo que lhe deu farinha e esperança, hoje lhe dá a vida nos versos e romances camponeses. A plena vida que o coração do homem ilumina.


Puxadinho

Biografia

Apelidos: Osvaldão, Mineirão.
Cor: negra Altura: 198 cm. Idade: 36 anos sexo: masc. Peso: 100 Kg
Cabelo: preto/crespo Barba: preta/cerrada Bigode: Sapato: 48.
Data e local de nascimento: 27/04/38, Passa Quatro/MG.

"Negro, forte, com quase dois metros de altura, era uma figura inconfundível. No entanto, seu físico contrastava com sua meiguice e afetividade. Membro do Partido Comunista, foi obrigado a viver na clandestinidade desde o golpe de 1964. Antes porém, fora estudante da Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro; campeão carioca de box pelo Botafogo, oficial da reserva do CPOR e cursou até o 3º ano de Engenharia de Minas, em Praga, na Checoslováquia, onde viveu alguns anos. Era natural de Minas Gerais.

Foi dos primeiros a chegar à região do Araguaia-Tocantins, por volta de 1966/67.

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