quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Exame reforça tese de sequestro de bebês no Araguaia


IHU

A família de um guerrilheiro fuzilado pelo Exército no Araguaia abriu um processo de investigação por DNA para saber a paternidade de uma menina possivelmente raptada pelos militares na época do conflito. Desde o início do processo de abertura política, os irmãos de Antônio Teodoro de Castro, codinome Raul, tentam localizar seus restos mortais. A busca ganhou novos contornos com o surgimento de Lia Cecília Martins, de 37 anos, adotada em 1974 por um casal de Belém. As primeiras análises do exame, ainda inconcluso, animaram a família, pois não excluem a possibilidade de Lia ser filha de Raul.
A reportagem é de Leonencio Nossa e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 30-04-2011.
O processo de investigação de paternidade abriu incertezas e compensou parte da dor com o desaparecimento do guerrilheiro. Atuante nos movimentos de busca de informações sobre desaparecidos políticos, Maria Eliana Castro, irmã de Raul, diz que o simples contato com Lia oxigenou a luta da família por informações sobre a experiência do guerrilheiro no Araguaia. "É uma luta diferente, embora tão pesada quanto", resume Maria Eliana.
As histórias de Lia e dos irmãos de Raul se cruzaram em 2009, quando o Estado revelou que a prática de sequestro e sumiço de bebês de guerrilheiros, crime comum na ditadura argentina, também ocorreu nos combates entre comunistas e militares no Araguaia. A reportagem relatou o encontro entre o ex-mateiro do Exército José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, e uma das irmãs de Raul, Maria Mercês Castro. Ele contou que o Exército tinha levado quatro crianças filhas de guerrilheiros.
Depois de ler a reportagem, Lia procurou a família Castro. Em e-mail, ela relatou que foi deixada em 1974 por um delegado e um soldado no Lar de Maria, entidade espírita de Belém. O delegado teria dito que a criança tinha sido tomada de uma sequestradora, que a raptou em Araguaína. O casal Eumélia e Sandoval Martins adotou a criança.
Informações
Casada e grávida de um mês, Lia relata que a possibilidade de ser filha de Raul a levou a procurar informações sobre o guerrilheiro, um dos mais destacados da guerrilha. Estudante de Farmácia do Rio, ele chegou ao Araguaia em 1971. "Quando você entra numa história, passa a ter uma visão diferente sobre uma pessoa, começa a querer entender o que ela pensava e sentia."
Lia se encontrou com irmãos de Raul em Curitiba, Brasília e Fortaleza. A boa relação com a família do guerrilheiro foi suficiente para eles proporem um pacto para preservar a amizade, independentemente dos resultados de um exame de DNA.
Eles procuraram o Laboratório Biocroma, de Goiânia. O médico Ricardo Goulart explicou que precisa de mais informações para apresentar um laudo conclusivo. Embora o teste tenha revelado coincidências em 18 de 21 itens comparados, as características genéticas de Lia e dos irmãos de Raul são comuns nas estatísticas que servem de parâmetro para o exame.

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