quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O que são os mercados e a especulação financeira?

Buscado no Esquerda Net


Os mercados financeiros estão em todos os lados, mas em geral ainda há um amplo desconhecimento acerca do que são realmente e de como funcionam. Breves notas que possam ajudar a resolver dúvidas. 
Por Alberto Garzón Espinosa, Conselho Científico da ATTAC.



A única lógica do capital financeiro é procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las.

Entre todos os conceitos que agora pululam em todos os debates políticos, que antes estavam praticamente reservados aos debates técnicos entre economistas, há um de especial interesse que convém ajudar a clarificar: o de mercados financeiros. Efectivamente, hoje os mercados financeiros estão em todos os lados (televisão, imprensa e inclusivamente nos bares), mas em geral ainda há um amplo desconhecimento acerca do que são realmente e de como funcionam. Por isso decidi fazer umas breves notas que possam ajudar a resolver algumas dúvidas importantes.
O que é um mercado?
Em primeiro lugar convém recordar que o termo mercado faz referência ao espaço, físico ou virtual, onde compradores e vendedores de algum bem ou serviço se encontram. Isto é, existe mercado onde se trocarem produtos entre duas partes, a que os compra e a que os vende, e portanto qualquer produto tem o seu mercado. Isso significa que se nós queremos vender o nosso velho livro de economia neoclássica, por já não nos servir, o que temos de fazer é ir a um mercado onde possamos encontrar compradores para o mesmo. Logicamente não vamos ao banco vendê-lo. O que fazemos é procurar um mercado de livros em segunda mão. Quando vamos directamente à livraria de segunda mão, o que estamos a fazer é ir a um mercado, o dos livros em segunda mão, porque sabemos que essa livraria actuará como intermediário. A livraria encarrega-se de reunir compradores e vendedores e de tratar de ir realizando transacções em troca duma comissão. A livraria compra-nos o livro a 5 euros e vende-o a 7 euros. Actua como intermediário e como criador de mercado, dado que em si mesma a livraria é o mercado. Pode haver muitas mais livrarias desse tipo na mesma cidade, e inclusivamente livrarias online, e ao negócio completo chamamos em abstracto o “mercado de livros em segunda mão”.
A liquidez e o preço num mercado
Quanta mais participação houver num mercado, maior capacidade teremos nós para poder comprar e vender os nossos bens e serviços. Se acontece haver poucos vendedores e poucos compradores de livros, o mercado será lento e ineficiente. Se queremos vender o nosso manual de economia neoclássica e acontece que dentro dos poucos compradores potenciais de livros não há nenhum a quem interesse a economia, não poderemos realizar a venda. Isso significa que continuaremos a esperar um comprador com o livro na mão. Diz-se então que o mercado é pouco líquido, quer dizer, que a capacidade de converter os bens em dinheiro constante e sonante é muito reduzida. Se, pelo contrário, houvesse muitos vendedores e muitos compradores, seria bem mais simples encontrar outra pessoa que quisesse o livro, pelo que talvez em muito pouco tempo obtivéssemos o dinheiro.
E da relação entre o número de compradores e o número de vendedores surgem os preços. A partir da seguinte regra: para maior procura, maior preço (e para maior oferta, menor preço). Se, por exemplo, vamos com o nosso livro de economia a uma livraria especializada em física é provável que não encontremos compradores e que o intermediário - sabedor disso - não queira comprar-nos o livro ou nos ofereça por ele um preço muito baixo, digamos de 1 euro. Se ao invés nos dirigirmos a uma livraria especializada em economia então ali sim terá muitos compradores e, portanto, procura. Se quiséssemos vender o livro directamente aos compradores estes competiriam entre si para oferecer o melhor preço com que nos convencer. Exactamente como num leilão. Assim o intermediário - sabedor disso também - oferecer-nos-á pelo nosso livro um preço bem mais alto, digamos de 5 euros.
Cada mercado tem os seus participantes
No mercado de livros em segunda mão costumam participar unicamente indivíduos particulares que desejam comprar e vender livros, mas não participam bancos, empresas ou agentes económicos maiores. Isto porque cada mercado costuma ter o seu próprio tipos de participantes. O mercado imobiliário, por exemplo, faz referência ao espaço onde se encontram compradores e vendedores de casas. Aí já não só encontramos particulares como também encontramos em ambas as partes (do comprador e vendedor) bancos, grandes empresas ou inclusivamente o Estado. Todos esses agentes negoceiam os preços com que comprarão e venderão as casas.
E isto é muito importante porque todos esses agentes que não são indivíduos, e pelo seu poder económico, podem modificar o mercado com facilidade. Precisamente porque têm a capacidade económica, já que manejam grandes somas de dinheiro, podem comprar e vender de forma estratégica, procurando ser favorecidos nas transacções. Por exemplo, os bancos actualmente têm em Espanha grandes existências de moradias à venda mas que não conseguem vender. Mas em Espanha também há gente que quer comprar casas. A chave está em que os preços de oferta e os preços de procura não coincidem, quer dizer, aquilo por que os compradores estão dispostos a pagar é muito menos do que aquilo porque os vendedores estão dispostos a vender. Se os bancos baixassem os preços das casas, então os compradores poderiam estar de acordo. Os bancos, além disso, reduzem artificialmente a oferta de moradias ao não pôr à venda muitas das casas que têm, criando dessa forma uma escassez aparente para manter os preços altos.
E isto é crucial. Quando há poucos participantes no mercado (numa das partes) ou um participante é muito poderoso economicamente pode influir muito em como evoluem as transacções. Digamos que pode influir na oferta e na procura e portanto nos preços. Os três ou quatro bancos maiores podem pôr-se de acordo para não baixar os preços das casas e manter-se à espera que os compradores se atrevam a oferecer mais, ou então podem também comprar em massa casas para elevar artificialmente o preço (já que sobe a procura).
O mercado de dívida pública
Todos os mercados a que antes fizemos referência são mercados de bens físicos. Agora vamos entrar nos mercados financeiros, isto é, naqueles em que se negoceiam títulos que implicam compromissos futuros de pagamento. O mais conhecido pela sua radiante actualidade é o mercado de dívida pública.
O mercado de dívida pública é o mercado onde se encontram, por um lado, os países que precisam de financiamento e, por outro, os investidores que estão dispostos a proporcionar-lhes esse financiamento. Já sabemos que quando um Estado tem défice (menores rendimentos do que gastos) precisa de pedir prestado e uma das formas para o fazer é emitir títulos de dívida pública. Esses títulos que emite são comprados por investidores que o que fazem na realidade é emprestar ao Estado esse dinheiro em troca de, num prazo de tempo determinado, o Estado lhes devolver esse dinheiro juntamente com uma percentagem de juros. À percentagem de juros chama-se rentabilidade.
Como todos os Estados têm necessidade de endividar-se, o mercado de dívida pública está sempre muito activo, especialmente em tempos de crise. Há muita oferta (títulos de dívida pública de diferentes países) e muita procura (investidores que procuram rentabilidade segura, já que se supõe que os títulos de dívida pública são os mais seguros; se o Estado não paga é porque a coisa está mesmo mal). E neste mercado os participantes são fundamentalmente os grandes investidores financeiros (banca e fundos de investimento geridos por eles), e já não tanto os particulares (que de qualquer forma podem participar).
Se nós formos o gestor de um fundo de investimento de um banco, isto é, uma pessoa que tem a seu cargo uma grande quantidade de dinheiro que quer revalorizar, isto é, converter em mais dinheiro, temos de avaliar se nos convém investir no mercado de dívida pública. E se decidimos que sim, devemos também decidir que títulos concretos de dívida pública comprar. Por isso vamos ao mercado de dívida pública e vemos o que oferecem os diferentes países.
O sistema de venda de títulos é por leilões, embora haja vários tipos de leilões, assim como também há vários tipos de títulos e vencimentos (prazos de devolução), portanto cada país oferece um preço pelos seus títulos de dívida. Os investidores procuram sempre os títulos mais baratos porque são os que oferecem mais rentabilidade. Segue-se o seguinte raciocínio: um menor preço reflecte mais insegurança e maior rentabilidade. Se o preço é baixo significa que há poucos compradores e isso as pessoas não confiam suficientemente que se lhes devolva o dinheiro, pelo que esses compradores exigem uma rentabilidade mais alta. Se um país, por exemplo Espanha, oferece títulos e ao leilão vão poucos compradores, então terá de baixar o preço dos seus títulos e, portanto, subirá a rentabilidade dos mesmos, isto é, pagará mais por conta dos juros por cada título que venda aos investidores.
Na realidade, cada país está a fazer os seus leilões e a chamar dessa forma os investidores. E os resultados desses leilões são diferentes segundo os países, diferenças das quais nascem conceitos como o de “prémio de risco” (que quantifica a diferença de rentabilidade oferecida pelos países em relação à Alemanha, que é o país com economia mais sólida). Supõe-se então que os preços dos títulos reflectem os fundamentos da economia ou, mais concretamente, a capacidade que cada país tem para devolver o dinheiro. Mas na realidade não depende só disso.
A especulação no mercado de dívida pública
Sabemos então que, por um lado, temos oferta (países) e por outro lado procura (os investidores), que se reúnem no mercado de dívida pública para negociar. Uns procuram financiamento e outros oferecem-no em troca de uma percentagem em juros e do compromisso da devolução do dinheiro emprestado. E, como em qualquer mercado, também se pode influir nele para criar melhores condições que nos favoreçam.
Suponhamos agora que eu sou um investidor. Concretamente sou George Soros, gestor de um fundo de investimento multimilionário. Levanto-me pela manhã e vejo nos ecrãs do meu escritório como estão os indicadores fundamentais da economia (crescimento, inflação, etc.), as notícias de última hora (as declarações dos governos, por exemplo), os leilões de dívida pública programados para hoje e também os mercados secundários de dívida pública (que são os lugares onde se compram e vendem os títulos de dívida pública pela segunda e mais vezes; como os livros em segunda mão, só que em títulos). Então planeio a minha estratégia.
Como faço a gestão dum fundo multimilionário, tenho capacidade para mover o mercado, quer dizer, a minha oferta de compra ou venda é tão abundante que é praticamente a totalidade do mercado. Se decido comprar títulos de dívida pública de Espanha, isso incrementará a procura e enviará um sinal ao resto dos investidores: as pessoas estão a comprar títulos de Espanha, o que quer dizer que confiam neles e portanto são mais seguros. Em consequência disso o preço sobe e a rentabilidade cai. A Espanha poderá conseguir dinheiro mais barato (pagará menos a título de juros). Mas claro, para que eu, George Soros, hei-de querer comprar títulos que me dêem pouca rentabilidade? Tenho melhores planos, concretamente imitar a estratégia que um tal George Soros fez no Reino Unido nos anos noventa e que fez a um país inteiro ceder ante si (ver aqui).
O que faço como investidor é o seguinte: vou ao mercado secundário de dívida pública e peço emprestados muitos cupões, uma grande quantidade. Quando tiver todos esses cupões vou preparando o terreno para o ataque, o que consigo graças à publicação de rumores e exageros (“Espanha vai mal”, “as contas não saem”, “os planos não funcionam”, “são precisam mais cortes”, etc.) e quando os tambores de guerra tiverem soado o suficiente… nesse momento vendo em massa todos os títulos que me emprestaram a um preço de 1.000 euros o título. Então o resto dos investidores, que estão também a olhar para os seus ecrãs vêem o seguinte: notícias de desconfiança em Espanha e um número brutal de venda de títulos de dívida pública. Esses investidores raciocinam pensando que os investidores estão a vender títulos de dívida pública porque não confiam e então todos fazem o mesmo. Produz-se um estouro com muitas decisões de venda que fazem baixar os preços. E quando os preços baixarem muito, apareço eu outra vez, George Soros, e compro-os em massa a 200 euros o título.
Consequências de todo o processo: vendi os títulos a 1000 euros e comprei-os a 200 euros. Como eram emprestados também terei que pagar um pouco a título de juros na hora de devolver, mas continuarei a ganhar. E a outra consequência é que Espanha está sob ataque permanente e no próximo leilão que faça os investidores exigir-lhe-ão muito maior rentabilidade porque em teoria o mercado (secundário de títulos) está a reflectir que não garante bem a devolução dos títulos, isto é, que a sua política económica deve mudar para assegurar mais confiança. É então que chegam os planos de ajuste “impostos” pelos mercados financeiros e a já conhecida “chantagem dos mercados“.
Os agentes financeiros e as operações especulativas
Com o nosso eu do exemplo, George Soros, está o sistema financeiro repleto. E não é para menos, já que a única lógica do capital financeiro (esse dinheiro que procura transformar-se em mais dinheiro) é nem mais nem menos do que procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las. Os especuladores são na realidade os próprios investidores, não são uma figura diferente, já que a sua lógica é a única coisa que conta. E como tal operam como os tubarões: farejam sangue (por exemplo qualquer notícia real de uma economia, tal como as armadilhas contabilísticas da Grécia) e atacam sem piedade extorquindo até ao limite. Não há investidores bons nem investidores maus: são todos investidores a operar com as suas próprias regras, naturalmente imorais e anti-sociais (pois só respondem perante a rentabilidade). É um capitalismo de hiper-concorrência (ler isto para ver exemplos e entender a lógica) e só os mais “espertos” ganham. Os mercados financeiros não são entes abstractos, como nos fazem crer, e também não são entidades divinas que nos dizem o que está bem e o que está mal. São simples jogadores de casino aproveitando o seu imenso poder para fazer e desfazer a economia mundial, sem atender às consequências.
Durante mais de trinta anos de hegemonia do neoliberalismo estes agentes (bancos, fundos de investimento, grandes empresas, etc.) criaram as condições para explorar muito mais este negócio. Têm desregulado os mercados, permitindo a sua expansão a todos os níveis e eliminando quase todas as normas que limitavam diferentes práticas, assim como criaram produtos financeiros complexos com que continuar a jogar mais e mais para continuar a responder ao mesmo objectivo. O exemplo de George Soros é um mais entre tantas outras formas de manipular um mercado qualquer. E as conspirações não faltam quando todos os investidores se aproveitam dessas situações em que quem paga no final é o Estado.
Por tudo isto, e por bem mais, estamos completamente legitimados quando dizemos que neste mundo, o nosso mundo de hoje e não o do século 20, a classe dominante, que se resguarda atrás dos bancos e fundos de investimento, está a explorar e depenar as classes populares. E como disse o multimilionário Warren Buffet “a luta de classes continua a existir, mas a minha é que vai ganhando”. Para mudar esse facto, creio que precisamos de começar a compreender a essência dos fenómenos que estão por trás de cada passo de regressão social.

1 Agosto 2011


Tradução de Paula Sequeiros para o Esquerda.net

Buscado no Esquerda Net

Império falido mantém mil bases no exterior

Via Vermelho


Ao mesmo tempo em que sua dívida atingiu um montante equivalente ao PIB (Produto Interno Bruto), de US$ 14 trilhões, os EUA (Estados Unidos da América) mantêm nada menos do que mil bases militares no exterior, incluindo 268 na Alemanha e 124 no Japão, após 66 anos do término da 2ª Guerra Mundial.
Durval de Noronha Goyos*, em Última Instância
Outros países recipientes da infame e devastadora presença norte-americana são Cuba, Paraguai, Colômbia, Iraque (mais de 100), Afeganistão (cerca de 80), Coreia do Sul, Austrália, Egito, Bahrain, Grécia e Romênia, dentre cerca de 70 Estados.
O custo militar dos EUA para o ano 2010 foi de cerca de US$ 800 bilhões, acrescidos de despesas extraordinárias colocadas no orçamento daquele mesmo ano pelo presidente Barack Obama no valor de US$ 1 trilhão, o que, no total, equivale a aproximadamente 13% do PIB do país!
Os gastos militares dos EUA representaram cerca de 45% dos gastos globais em 2010. Seus aliados despenderam aproximadamente 28% dos aportes em defesa no mesmo ano. Assim, os EUA e aliados, que são normalmente Estados clientes, hoje igualmente em situação de insolvência, responderam por 73% dos dispêndios militares globais em 2010.
No final de 2008, os EUA mantinham aproximadamente 550 mil soldados no exterior, excluídos os serviços dos mercenários utilizados em alguns países como no Iraque. Esse número é 10% superior ao de 1985, no auge da chamada Guerra Fria, o que demonstra que o complexo industrial-militar norte-americano encontrou justificativas para a manutenção e mesmo expansão do poderio bélico do país, ainda que em fase de distensão do quadro político internacional.
Hoje, a organização de comando das Forças Armadas dos EUA contempla o PACOM (Comando do Pacífico), que é utilizado para ameaçar a China; o EUCOM (Comando da Europa), que é estruturado para ameaçar a Rússia e a África; o CENTCOM (Comando Central), que é usado para ameaçar e intervir no Oriente Médio; o SOUTHCOM (Comando do Sul), criado em julho de 2008, logo após o anúncio das grandes descobertas do pré-sal no Brasil, para nos ameaçar no Brasil e bem assim aos povos pacíficos da América do Sul e Central.
O historiador inglês Paul Kennedy, no livro The Rise and Fall of the Great Powers, escrito em 1986, afirmou que o grande teste da longevidade do poderio hegemônico no mundo seria no futuro igualmente aplicável aos EUA. Esse teste consiste em saber, de um lado, se o país em questão consegue manter um equilíbrio razoável entre suas necessidades percebidas e os meios dos quais dispõe para custeá-las. De outro lado, o teste é relacionado com a capacidade de preservação das bases tecnológicas e econômicas de seu poderio.
Parece claro que em 2011, os EUA não conseguem passar pelos dois quesitos do teste. De fato, com a capacidade de endividamento esgotada e constrangido a emitir moeda para comprar os títulos de sua própria emissão, os EUA hoje dependem financeiramente de países como a China, o Brasil e a Rússia, que não seus aliados. Até quando tais países aceitarão financiar a manutenção de um complexo militar que os ameaça?
Ao comentar a queda do império romano, o grande Edward Gibbon, em seu clássico The decline and Fall of the Roman Empire, observou, em tradução deste articulista, que “o declínio de Roma foi o efeito inevitável de grandiosidade imoderada.
A prosperidade amadureceu o princípio da decadência; as causas da destruição foram multiplicadas pela extensão da conquista; e assim que o tempo ou os acidentes removeram os sustentáculos artificiais, o tecido estupendo cedeu ao seu próprio peso”.
As observações de Gibbon ajustam-se como uma luva à situação em que presentemente se encontram os EUA.
* Durval de Noronha Goyos Jr. é advogado admitido no Brasil, em Portugal e na Inglaterra e Gales. É árbitro do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os 80 anos dum herói de carne e osso

Pedro Lobo de Oliveira acaba de fazer 80 anos e ainda permanece ignorado pela historiografia oficial. Diferente de muitos dos nossos heróis de feriado ou estátuas esquecidas em praças públicas, Pedro tem um histórico de luta pela causa do povo onde não faltam coragem, abnegação e cheiro de pólvora.
Odiado pelos milicos por sua bravura e obstinação, Pedro foi um dos mais aguerridos combatentes na luta contra os militares que se aboletaram no poder no último dia de março de 1964. Entre suas ações estão expropriações de bancos, ataque a quartéis e a execução, a tiros, do capitão norte-americano Charles Rodney Chandler.
Preso no início de 1969 quando camuflava um caminhão com as cores do Exército para um ousado plano de ataque ao 4º Regimento de Infantaria, na cidade paulista de Osasco, o companheiro de Carlos Lamarca na Vanguarda Popular Revolucionária, e de Dilma Rousseff na VAR-P, será barbaramente torturado até ser banido do país na troca por um embaixador alemão.
Depois de passar pela Argélia, fazer treinamento militar em Cuba e escapar da morte no golpe que derrubou Salvador Allende do governo chileno, Pedro acabará se fixando na antiga Alemanha Oriental, atrás do que o Ocidente costumava chamar de Cortina de Ferro. Com a anistia, o ex-sargento volta ao Brasil e é reintegrado a Polícia Militar como se sua vida encerrasse um caprichoso ciclo.
Sobrevivente duma guerra sem regras, esse herói de carne e osso acaba de ganhar uma biografia – o livro Pedro e os Lobos – Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano e começa a ter sua vida retratada em filme.
Conheça um pouco mais da fascinante história dum brasileiro de vida ímpar.

(*) Divulgação do blog de João Roberto Laque, autor do livro: www.pedroeoslobos.blogspot.com

África - dossiê 05



África: desafios da democracia e do desenvolvimento por Silvio Caccia Bava
Desde meados de dezembro de 2010, quando as mobilizações populares ganharam as ruas da Tunísia, estamos assistindo, surpresos, a um crescente número de revoltas populares no Norte da África. Elas atingiram o Egito, a Líbia, o Marrocos, e estenderam-se para a Costa do Marfim... Há sinais de que es...

E outros textos  sobre África clicando aqui


domingo, 28 de agosto de 2011

POLÍTICA - Grande FHC!

“FHC foi facinho”


Sebastião Nery

“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”.


Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.


***

FUNDAÇÃO FORD

Em 13 de dezembro de 1968, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.


E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.


***

AGENTE DA CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.


Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias.


Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.


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QUEM PAGOU

Há dois anos, chegou às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).


Quem “pagava a conta” era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:


“Consistente e fascinante” (“The Washington Post”). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (“Spectator”). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (“The Times”).


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MILHÕES DE DÓLARES

1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).


2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).


3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).


***

FHC FACINHO

4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).


5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritórios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).


6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45).


Fernando Henrique foi facinho.

sábado, 27 de agosto de 2011

A comida dos escravos (esperando o fim do mundo)

infomação Incorrecta  

Enquanto há pessoas que esperam o fim do mundo e que apagam os links de quem pensa o contrário, o mundo continua a tratar todos nós como escravos. Porquê?

Simples: porque somos escravos.


"Pronto, lá vai ele com outro discurso acerca da finança e da economia...".


Nada disso.

Sim, verdade: argumentos acerca desta realidade não faltam.
Sabia o bom Leitor que147 companhias controlam 40% do valor monetário de todas as empresas transnacionais?

Isso mesmo: ao analisar mais de 43.000 empresas, é possível descobrir um núcleo central. É como ver uma teia de aranha: há muitos fios, muitos nós, mas no centro há apenas 147 companhias que controlam a teia.


Este é o fruto da primeira tentativa de fazer um pouco de luz no nebuloso mundo da finança: o trabalho, conduzido por um grupo de pesquisadores da Cornell University, New York, foi publicado online no passado dia 28 de Julho.


E quem pensar ainda em fantasias como "livre mercados" ou "concorrência" faria bem a ler todo o documento.


Mas, como afirmado, não é disso que vamos falar. Pelo contrário, eis algo de muito mais "pragmático", algo que podemos encontrar no nosso dia a dia, quando entrarmos num supermercado ou numa loja qualquer.

Porque o que acontece no mundo da finança e da "alta" economia é o reflexo do que se passa no mundo da "baixa" economia, a nossa economia.

Realmente podemos escolher os produtos? De verdade temos a liberdade de preferir um fornecedor em detrimento de outro?


Na área da alimentação, por exemplo: o café Tofa é muito diferente do Nespresso? E qual o melhor: o chocolate da Nabisco ou o da Ferrero? Estes são pormenores, pois podem comprar o que querem: o dinheiro acabará sempre nos bolsos de poucas empresas. Muito poucas mesmo.


Nestlé

A Nestlé, por exemplo, tem 6.000 marcas (sei mil): de forma consciente ou não, acabamos sempre com o entregar o nosso dinheiro à empresa suíça.

Eis uma amostra das marcas da empresa:


Cereais:
Cinnamon Toast Crunch Cheerios (outside US, Canada and Australia) Cini Minis Honey Nut Cheerios (outside US, Canada and Australia) Oat Cheerios Cookie Crisp Golden Grahams Honey Stars Koko Krunch Milo Cereals Nestlé Corn Flakes Nesquik Shreddies Shredded Wheat Clusters Trix

Yogurt
: Munch Bunch Ski  

Café:
Bonka Nescafé Nespresso Partner’s Blend Ricoffy Ristretto Ricoré Sical Tofa Taster’s Choice Zoégas Shrameet  

Água:
Aberfoyle Aqua D’Or Aqua Pod Acqua Panna Al Manhal Aquapod Arrowhead Buxton Contrex Deer Park Hépar Ice Mountain Henniez Korpi Levissima Nestlé Aquarel Nestlé Vera Ozarka Perrier Poland Spring Powwow Minere Pure Life/Pureza Vital Quézac San Pellegrino San Bernardo Viladrau Vittel Zephyrhills

Outras bebidas:
Nestea (Joint venture with Coca-Cola, Beverage Partners Worldwide) Enviga (Joint venture with Coca-Cola, Beverage Partners Worldwide) Milo Carnation Caro Nesquik Libby’s Growers Direct Organic Fruit Juices Good Host Juicy Juice Ski up and go  

Pequeno almoço:
Bear Brand Carnation Christie Coffee-Mate Dancow Gloria Klim La Lechera Milkmaid Nespray Nestlé Nesvita Nestlé Omega Plus Nido Ninho Svelty Emswiss Milo

Gelados:
Camy Dreyer’s Edy’s Frisco Häagen-Dazs (North America and the United Kingdom) Hjem-IS (Denmark & Norway) Maxibon Motta Mivvi Nestlé Nestlé Drumstick Oreo (Canada) Peters (Australia) Push-Up Schöller Skinny Cow

Comida para bebé:
Alete Alfare Beba Cérélac FM 85 Gerber (the world’s largest baby food company) Good Start Guigoz Lactogen Nan NAN HA NanSoy Neslac Nestlé Nestogen Nido PreNan

Desportiva:
Musashi Neston Nesvita PowerBar Pria Supligen

Saúde:
Boost Carnation Instant Breakfast Nutren Peptamen Glytrol Crucial Impact Isosource Fibersource Diabetisource Compleat Optifast Resource

Temperos:
Buitoni Maggi Carpathia CHEF Thomy Winiary

Congelados:
Stouffer’s Lean Cuisine Buitoni Hot Pockets Lean Pockets Papa Guiseppi Tombstone Pizza Jack’s Pizza DiGiorno Pizza California Pizza Kitchen Frozen

Chocolate e produtos de forno:
100 Grand Bar Aero After Eight Allens Animal Bar Baby Ruth Bertie Beetle (Australia) Big Turk (Canada) Black Magic Boci (Hungary) Blue Riband Bono(Brazil) Breakaway Butterfinger Butterfinger BB’s Butterfinger Crisp Bon Pari (Czech Republic, Poland and Hungary) Cailler Caramac Carlos V Chips Ahoy! (Canada) Coffee Crisp Chunky Drifter Frigor Galak/Milkybar Goobers Heaven Hercules Bars (with Disney) Icebreakers Kit Kat (Hershey’s in the US) Lion Matchmakers Milky Bar Mirage Joff Munchies Nestlé Alpine White Nestlé with Almonds Nestlé Crunch Nestlé Crunch Crisp Nestlé Crunch with Caramel Nestlé Crunch with Peanuts Nestlé Crunch Pieces Nestlé Crunch White Nestlé Milk Chocolate Nestlé Princessa Nestlé Wonder Ball Nips Nuts (Europe) Oh Henry (except US) Peppermint Crisp Perugina Baci Polo Quality Street Raisinets Rolo (Hershey’s in the US) Rowntrees

Pastilhas e rebuçados
Jelly Tots Pick & Mix Randoms Fruit Gums Tooty Frooties Juicy Jellies Snowcaps

Smarties
Texan Bar Toffee Crisp Toll House cookies Turtles Walnut Whip Violet Crumble Yorkie XXX mints

Comida para animais:
Alpo Beneful Cat Chow Dog Chow Fancy Feast Felix Friskies Go Cat Butchers Bakers Winalot Gourmet Mighty Dog Mon Petit ONE Pro Plan Purina Tidy Cats

Quem dirige isso tudo?

A Nestlé é uma empresa suíça, no cujo topo encontramos Peter Brabeck-Letmathe que, além de trabalhar na Nestlé, participa nos conselhos de Administração do banco Credit Suisse, da empresa francesa L'Oréal, da Delta Topco Limites (gere os contratos da Formula Um), da Exxon Company (petróleo).

Mas todas as figuras de topo da Nestlé são interessantes, pois ocupam lugares que, casualmente, resultam ser bem úteis para a empresa mãe:


- temos Nandu Nandkishore, Vice Presidente da Associação Internacional dos produtores de Comida para Bebés


- temos Helmut Oswald Maucher, Presidente do Concelho de Administração da Stiftung Demoskopie Allensbach (sondagens), do Concelho da Universidade de Munich e do Instituto de Frankfurt de Estudos Avançados,


- temos James Singh do Concelho da televisão RTL,


- temos Laurent Freixe, do Concelho do Foreign Investment Advisory Council of Russia, do ECR Europe (para servir melhor o consumidor, lololol), do Liaison Committee (Parlamento do Reino Unido),


- depois elementos que pertencem aos Concelhos de Administração da Galderma Pharma (medicamentos), GEA-Group AG (energia), Alcon (medicina), Osem Investment, GS1 (ex EAN International), Programa de sustentabilidade da Universidade de Cambridge, Economiesuisse, SwissHoldings, SIX Regulatory, Committee on Extraterritoriality (Paris), Câmara de Comércio Internacional (ICC), Câmera de Comércio Suíço-Americana.


Não falta nada. Todos homens nos lugares certos.


Todos homens que não podem não concordar quando é altura de grandes decisões. Por exemplo: será boa ideia enviar leite radioactivo para as crianças famintas da Africa?

Voto unânime: sim, com certeza.

Os cigarros da Kraft

Acham a Nestlé um caso isolado? Nem por isso.

Nunca ouviram falar da Kraft? A subsidiaria da Philip Morris (exacto, aquela dos cigarros). liderada por Irene Blecker Rosenfeld
(olha, uma hebraica)  vende em 155 Países.

As marcas possuídas são tantas que a mesma Kraft organizou a lista em ordem alfabética:  


A:
A.1., Alpen Gold
B:
Breakstone's, Bubbaloo
C:
Cadbury Creme Egg, Capri Sun, Carte Noire, Cheeze Whiz, Chips Ahoy!, Club Social, Cool Whip, Côte d'Or, Cracker Barrel, Crystal Light, Cadbury Dairy Milk
D:
Deluxe, Dentyne
F:
Flake
G:
General Foods International, Gevalia, Grand Mere, Green & Blacks
H:
Handi-Snacks, Halls, Hollywood Gum,Honey Maid
J:
Jacobs, Jell-O
K:
Kenco, Kool-Aid, Kraft
L:
Lacta, Lu
O:
Oscar Mayer Lunchables
M:
Marabou, Maxwell House, Milka, Miracle Whip
N:
Nabisco, Nabisco 100 Calorie Packs, The Natural Confectionery Company, Newtons, Nilla, Nutter Butter
O:
Onko, Oreo, Oscar Mayer
P:
Philadelphia, Planters, Polly-O, Premium, Prince
R:
Ritz, Royal
S:
Simmenthal, Stimorol, Stove Top
T:
Tang, Tassimo, Toblerone, Trakinas, Trident, Triscuit
V:
Velveeta
W:
Wheat Thins
O quê? Só isso?
Nem pensar!

A Kraft, por exemplo, controla a Nabisco; mas esta, por sua vez, controla outras marcas: Arrowroot,
Barnum´s Animal Cracker, Cameo, Nabisco Classic, Easy Cheese, Flavor Originals, Ginger Snaps, Cheese Nips, Mixers, Mallomars, Snack Well's, Stoned, Toasted Chips, Teddy Graham's, Wheatsworth.

Tudo, lembramos pertence à uma empresa que, por sua vez, é uma repartição da Philip Morris.


Estão contra o fumo? Comprem um pacote de Oreo e financiem uma das maiores empresas de cigarros (Philips Morris, Marlboro, LM, Chesterfiled entre outros...).


As outras

Vamos falar da PepsiCo., com as marcas AMP Brisk Mountain Dew Ocean Spray Mist Aquafina Lipton Ice Tea MUG Pepsi Sobe Gatorade Tropicana No Fear Energy Drink Propel Enhanced Water Starbucks Food Lay’s Doritos Tostitos Cheetos Sun Chips Baked! Frito Lay Dips Baken-Ets Chester’s Puffcorn Cracker Jack El Isleno Plantain Chips Frti-Lay Peanuts Funyuns Gamesa Grandma’s Matador Maui Style Potato Chips Miss Vickie’s Munchies Munchos Natural Nut Harvest Quaker Rold Gold Ruffles Sabritones Santitas Smartfood Spitz Stacy’s?

Ou da Coca-Cola? Da Sony? Da Rockefeller Group International? Da Nike? Da Lockheed Martin?  


Não vale a pena, pois a história e os resultados seriam sempre os mesmos.

O que conta é perceber que a nossa capacidade de escolha é muito limitada. Não só: mas que ao adquirir um produto acabamos com o financiar empresas que nada têm a  ver com o produto comprado.

As pessoas precisam de comer, todos sabemos disso: o mercado da comida é de essencial.

O que justifica, por exemplo, os mais de 2 biliões de Dólares (ano 2009) investidos pela Nestlé na procura de alimentos cada vez mais atractivos; alimentos que utilizem sais, gorduras, açucares e outros produtos químicos que possam produzir um autêntico "vício psicológico". Desfrutando também a publicidade.

Mas esta é outra história ainda.

As alternativas

Aqui gostaria de pôr um quesito: porque devemos ficar preocupado com a empresa que vende um determinado produto?

Em primeiro lugar por uma questão de saúde.

Quase todas as marcas citadas até agora vendem produtos nos quais estão presentes substancias tóxicas, grandes quantidades de gorduras e aditivos como MSG, HFCS, mercúrio e aspartame. São substancias venenosa para o corpo, o sistema nervoso e o cérebro. A comida assim preparada está a tornar o mundo mais gordo, mais doente e mais idiota.

Depois há o controle. Controla a comida para controlar as pessoas. É isso que se passa. Mas quem encontramos atrás das empresas que controlam a comida?


O Presidente da Nestlé é membro do
World Economic Forum. Que não é uma organização de escuteiros.
O Presidente da Coca-Cola, Muhtar Kent, é membro do Grupo Bilderberg, cujo pai foi homageado pelas associações judaicas International Raoul Wallenberg Foundation e American Sephardi Federation (!!!).
A Presidente da PepsiCo., Indra Krishnamurthy Nooyi, é membro do World Economic Forum também, tal como Ray O Johnson, da Lockheed Martin.

Ao adquirir os produtos destes senhores, alimentamos o
World Economic Forum, o Grupo Bilgerberg, o Council on Foreign Relations.

Alternativas? Sim, melhores e mais saudáveis.


Prefiram produtos locais, sempre.

Porque comprar uma garrafa de água produzia a 300 quilómetros de distância?
O que tem a água da vossa zona que não presta? Sempre água é, não é o caso de ser estúpidos.

Se poderem, optem pelos produtos frescos.

Sim, verdade, o produto congelado ou já embalado tem vantagens: mas tem aditivos também.
O que é melhor: o pão embalado ou aquele produzido pelo forno da esquina?
O que vale mais? A praticidade ou a saúde nossa e das nossas famílias?

Só isso?

Como "só isso"? Ohé, mas eu escrevo para o boneco o quê? Fogo...


Ipse dixit.


Fontes:
TheVigilantCitizen, Kraft Foods Company, Nestlé, Arvix (pdf em Inglês), ScienceNews
 

ECONOMIA - A especulação com alimentos.

Por Assis Ribeiro

Como Wall Street encarece a nossa comida

David Kane do Maryknoll Office for Global Concerns

Movimentos sociais ao redor do mundo estão se conscientizando sobre os mercados financeiros, porque nas últimas três décadas as mudanças nas normas desses mercados passaram a afetar a vida de cada habitante no planeta.

Os movimentos sociais concentram a sua atuação no que afeta diretamente as comunidades mais pobres, os mercados de commodities, como trigo, milho, soja, café, açúcar, petróleo, gás natural, metais industriais e preciosos. É nesses mercados que especuladores de Wall Street ganham bilhões, enquanto todo mundo paga mais por sua comida e energia.

Como funcionam (ou deveriam funcionar) os mercados de futuros de commodities?

Os preços determinados pelos mercados de commodities, boa parte deles nos Estados Unidos, afetam o quanto pagamos por esses produtos no Brasil e no restante do mundo. Grandes compras de trigo, soja e outras commodities agrícolas sao feitas com o preço do Chicago Mercantile Exchange como referência. A maioria das commodities de energia são vendidas pelos preços da New York Mercantile Exchange. Assim, se os precos sobem em Chicago ou em Nova York, eles também sobem no mundo inteiro.

Esses mercados tem uma função importante para os agricultores e os seus compradores, pois permitem o estabelecimento de um preço fixo para vendas no futuro. Por exemplo, um agricultor de trigo nos EUA planta em abril, mas só vai vender com a safra de agosto. Muitas coisas podem acontecer entre abril e agosto para mudar o preço do trigo. O comprador também corre risco, nesse caso de o preco subir. Fixar um preço ajuda assim o planejamento dos dois. Esses contratos “futuros” são vendidos em Chicago e Nova York.

Os especuladores têm papel relevante nesses mercados. Na falta de outro comprador, o agricultor vende para um especulador, que, dessa forma, garante a “liquidez” aos mercados. Uma alta liquidez significa ter mais pessoas e dinheiro para fazer negócios. A situação nos mercados hoje é de liquidez excessiva.

Depois das crises nos EUA e na Europa na década de 1930, o Congresso norte-americano estabeleceu leis duras para evitar que os especuladores dominassem os mercados de commodities. Foram impostos limites para a especulação com commodities. Além disso, todas as vendas e compras de commodities se dariam em mercados abertos.

Com essas leis, os mercados de commodities funcionaram bem por muitas décadas. Vendedores e compradores de commodities representavam de 70% a 80% do mercado, e os especuladores, 20% e 30% dos mercados. A coisa, no entanto, começou a mudar na década de 1990…

O que mudou no mercado de commodities dos anos 1990 pra cá?

Durante os anos 90, a CFTC, a agência responsável pela regulação dos mercados de commodities, começou a conceder isenções nos limites de especulação para vários bancos e “hedge funds” (fundos privados de investimento). Finalmente, em 2000, o Congresso dos EUAaprovou uma lei que derrubou esses limites de especulação em commodities.

Por alguns anos, isso não foi um problema, pois os investidores estavam ganhando muito dinheiro em outras áreas. Depois, porém, dois fatos resultaram num grande aumento da especulação com comida e energia.

Em 2003, um estudo da AIG, uma grande corporação de seguros, mostrou que nos últimos 50 anos, os preços das commodities tiveram uma tendência contrária a ações e títulos. Por isso, seria vantajoso para os investidores institucionais (fundos de pensões e outros) investir uma parte dos seus recursos em commodities.

Ao mesmo tempo, esses investidores estavam perdendo dinheiro em outros mercados. Quando a Bolsa de Valores de Nova York caiu muito em 2000 e 2001, investidores tiraram dinheiro das ações e colocaram bilhões no mercado imobiliário. Esse monte de dinheiro causou uma bolha especulativa. Quando ela estourou, ocorreu a recente crise economica global.

Foi a partir desses dois fatos, o estudo da AIG e o estouro da bolha imobiliária, que os grandes investidores intitucionais começaram a colocar muito dinheiro em commodities. E foi muito dinheiro mesmo! Em 2003, esses investidores tinham US$ 13 bilhões em commodities. Em março de 2008, US$ 260 bilhões! A grande onda aumentou o preço das 25 principais commodities para uma média de 183% naqueles cinco anos. Em março de 2011, investidores institucionais tiveram um recorde US$ 412 bilhões. Por isso os preços de petróleo e comida continuam tão altos.

Hoje em dia, especuladores compõem 70% a 80% dos mercados de commodities, enquanto usuários genuínos (agricultores e fornecedores) não passam da faixa de 30%. O resultado é que os preços estão sendo determinados não pelas condições da oferta e procura, mas pelos banqueiros e gestores de fundos de pensão.

Investidores institucionais são especialmente nocivos, pois não agem como especuladores tradicionais, que compram commodities quando pensam que o preço vai subir e vendem quando acham que vai baixar. Investidores institutionais quase sempre compram um “índice” de commodities, quer dizer, uma cesta de várias commodities, apostando que os preços de todas vão subir a longo prazo, e seguram essa aposta por vários anos, como se fosse uma ação ou título.

A consequência desse tipo de investimento é uma tendência de aumentdo de todos os preços. Também significa que, quando esse investidores decidem retirar ao mesmo tempo os seus investimentos, como fizeram no final de 2008, os preços despencam.

A luta nos EUA e na Europa

Nos EUA, uma grande aliança se formou para enfrentar a especulação excessiva. Mais de 450 organizações, incluindo sindicatos, agricultores, entidades religiosas, grupos de consumidores, se juntaram e conseguiram influenciar a lei sobre reforma financeira, o Ato de Reforma de Wall Street e Proteção ao Consumidor. Esta lei, que passou em julho de 2010, incluiu mudanças nos mercados de commodities e mandou a CFTC colocar limites na especulação. Foi uma grande vitória da sociedade civil.

Infelizmente, a CFTC anunciou recentemente que só vai implementar as novas leis no final de 2011. Enquanto isso, populações não podem comprar alimentos, e os grandes banqueiros enriquecem.

A Comissão Europeia está considerando leis similares, e movimentos europeus pressionam para garantir que essas leis sejam rigorosas.

O papel do Brasil

É no G20 que o Brasil pode ter muita influência. O país tem o maior mercado de futuros da América Latina, e neste mercado há limites de especulação. A Índia também tem mercados com fortes limites de especulação e muita transparência. A experiência desses dois países pode ser usada para mostrar que os limites em especulação resultam em mercados mais estáveis.

No governo brasileiro, há opiniões diferentes sobre o perigo da especulação. Wagner Rossi, ministro da Agricultura, pensa que a especulação não é um problema, enquanto o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, acha que ela deve ser considerada. A pressão dos movimentos sociais pode garantir que a visão de Florence prevaleça.

Em 2011, a França está na Presidência do G20 e quer usar a posição para implementar reformas de estabilização de preços de comida e energia no mundo. Diminuir a especulação excessiva é uma parte importante dessas reformas. O Brasil pode ter um papel chave nos debates entre os países do G20 sobre a especulação. Pressão dos movimentos brasileiros pode ajudar nisso.

Está na hora de a gente se mobilizar

Faz todo o sentido os movimentos sociais iniciarem um trabalho sobre as commodities, pois isso está afetando diretamente a capacidade de o povo se alimentar. Se às vezes assuntos financeiros, como regulamentos de bancos, seguros e contabilidade, podem parecer pouco importantes, são nessas áreas que o grande capital tem avançado e crescido.

Precisamos nos informar em cursos e seminários, criar materiais didáticos e promover mobilizações para educar o público em geral. Não podemos permitir que os grandes banqueiros sejam os únicos que entendam de finanças.

Está na hora de colocar as mãos na massa. Vamos parar o grande capital mais uma vez com a nossa inteligência e criatividade.

ECONOMIA - Como o Goldman Sachs criou a Crise Alimentar.

Não ponham as culpas nos apetites americanos, no aumento dos preços do petróleo, ou as colheitas geneticamente modificadas pelo aumento dos preços dos alimentos. Wall Street tem as maiores culpas pela disparada do custo da comida. Por Frederick Kaufman, Foreign Policy

O Goldman Sachs percebeu que nada é mais valioso do que o nosso alimento diário. O resultado foi desastroso para as populações. Foram necessárias as mentes brilhantes da Goldman Sachs para perceber a simples verdade de que nada é mais valioso do que o nosso alimento diário. E onde há valor, há a possibilidade de fazer dinheiro. Em 1991, funcionários da Goldman, liderados pelo precavido presidente Gary Cohn, vieram com um novo tipo de produto de investimento, um derivado que acompanhava 24 matérias brutas, de metais preciosos, a energia e café, cacau, gado, milho, suínos e trigo. Eles pesavam o valor de investimento de cada elemento, fundiam e misturavam as partes em somas, e depois reduziam o que seria uma complicada colecção de coisas reais a uma fórmula matemática, e que seria doravante denominada de Goldman Sachs Commodity Index (GSCI).

Durante mais ou menos uma década, o GSCI permaneceu um veículo de investimento relativamente estático, na medida em que os banqueiros estavam muito mais interessados em riscos e operações de garantia de dívida do que em algo que pudesse, literalmente, ser semeado ou colhido. Até que, em 1999, a Comissão de Comércio de Commodities Futuras desregulamentou os mercados de futuros. Subitamente, os banqueiros viram-se livres para assumir posições tão grandes quanto quisessem em cereais, uma oportunidade que, desde a Grande Depressão, só esteve à disposição para quem realmente tivesse alguma relação com a cadeia produtiva de alimentos.


A mudança surgia nas grandes bolsas de cereais de Chicago, Minneapolis e Kansas City – que, por 150 anos, ajudou a moderar as altas e as baixas dos preços globais de alimentos. A agricultura pode parecer bucólica, mas é uma indústria inerentemente volátil, sujeita às vicissitudes do clima, da doença e dos desastres naturais. O sistema de comércio de grãos futuros foi implantado pela primeira vez depois da Guerra Civil pelos fundadores da Archer Daniels Midland, o General Mills e Pilsbury, que ajudaram a estabelecer a América como a potência financeira que rivalizaria, e eventualmente ultrapassaria, a Europa. Além disso, os mercados de cereais também isolavam os fazendeiros e os moleiros americanos dos riscos inerentes à sua profissão. A ideia básica era o “contrato de futuro” (forward contract), um entendimento entre vendedor e comprador sobre o preço razoável para o trigo – mesmo antes da colheita. Não apenas o grão “futuro” ajudava a manter estável o preço do pão na padaria – ou, mais tarde, no supermercado – como também os fazendeiros eram resguardados pelo mercado contra colheitas más, tendo acesso a investimentos para as suas fazendas e negócios. O resultado: ao longo do século XX, o preço real do trigo diminuiu (a despeito de uma ou duas excepções, particularmente durante a espiral inflacionária dos anos 70), impulsionando o desenvolvimento do agro-negócio americano. Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA passaram a produzir, frequentemente, safras recorde, o que se transformou num elemento essencial das suas estratégias políticas, económicas e humanitárias durante o período da Guerra Fria – para não mencionar o facto de o grão americano ter alimentado milhões de famintos ao redor do planeta.


Os mercados futuros incluíam, tradicionalmente, dois tipos de personagem. De um lado estavam os fazendeiros, os moleiros e os armazenistas, personagens que possuem uma participação real no grão. Este grupo inclui não apenas agricultores de milho no Iowa ou fazendeiros de trigo do Nebraska, mas também grandes multinacionais como a Pizza Hut, Kraft, Nestlé, Sara Lee, Tyson Foods e McDonald’s – cujas acções na Bolsa de Valores de Nova York sobem e descem de acordo com a sua habilidade em levar comida às janelas dos carros, às portas de casa ou às prateleiras dos supermercados, a preços competitivos. Estes participantes do mercado são chamados hedgers “bona fide”, porque dependem, efectivamente, da compra e venda de cereais.


Do outro lado está o especulador. O especulador não produz nem consome milho ou soja ou trigo, e nem teria um lugar para stockar as 20 toneladas de cereal que possa vir a comprar em determinado momento, se é que o cereal seria realmente entregue. Os especuladores fazem dinheiro através do tradicional comportamento do mercado, a arbitragem de comprar barato e vender caro. E os outros personagens, os que realmente estão envolvidos com a mercadoria real, têm como regra geral dar as boas-vindas aos especuladores tradicionais, pelo fluxo sem fim de ordens de compra e venda que dão ao mercado liquidez e provêem aos hedgers “bona fide” uma forma de gerir riscos, permitindo-lhes vender e comprar apenas quando lhes interessa.


Mas o índice da Goldman perverteu a simetria deste sistema. A estrutura do GSCI não ligou um mínimo para os padrões de compra-venda/venda-compra com séculos de tradição. Este produto derivado ultramoderno era apenas “a coberto” (long-only, o detentor da posição lucra somente quando o preço da commodity aumenta), o que significa dizer que ele era construído para comprar commodities (matérias primas), e apenas comprá-las. No fundo desta estratégia “a coberto” está a intenção de transformar um investimento em commodities (antes, na alçada de especialistas) em algo que parecia muito com um investimento em acções – o tipo de classe de activo em que qualquer um pode investir dinheiro e deixá-lo aumentar por décadas (no sentido da General Electric ou Apple). Uma vez que o mercado de commodity foi transformado para parecer mais com o mercado de acções, os banqueiros passaram a contar com novos influxos de dinheiro vivo. Mas a estratégia “a coberto” possuía uma falha, pelo menos para nós que comemos. O GSCI não incluía um mecanismo de venda ou “venda a descoberto” de uma commodity.


Este desequilíbrio minou a estrutura inata dos mercados de commodities, exigindo que os banqueiros continuassem sempre a comprar – não importando a que preço. A cada vez que a data fim de um contrato futuro indexado “a coberto” de commodity se aproximava, os banqueiros precisavam “rolar” as ordens de compra multi-bilionárias acumuladas para os novos contratos futuros, dois ou três meses à frente. E uma vez que o impacto deflacionário da venda a descoberto de uma posição não fazia, simplesmente, parte do GSCI, os negociantes profissionais de grãos podiam se dar bem ao antecipar as flutuações de mercado que estas “rolagens” inevitavelmente causariam. “Vivo de dinheiro fácil,” disse à Businessweek o negociante de commodities Emil van Essen. Os negociantes de commodities empregados pelos bancos que criaram os fundos indexados de commodities pela primeira vez pegaram a maré do lucro.


Os banqueiros reconheceram ser um bom sistema quando o viram, e dezenas de hedgers especulativos seguiram a novidade e juntaram-se ao jogo dos índices de commodities, incluindo o Barclays, o Deutsche Bank, o Pimco, o JP Morgan Chase, a AIG, o Bear Stearns, e o Lehman Brothers, para ficar com apenas alguns dos propagadores dos fundos indexados de commodites. Estava montado o cenário da inflação alimentar, que pegaria desprevenidas algumas das maiores corporações da moagem, do processamento e do varejo nos Estados Unidos, e espalharia ondas de choque por todo o mundo.


O dinheiro conta a história. Desde a explosão da bolha tech em 2000, a quantidade de dólares investidos em fundos de commodites aumentou em 50 vezes. Para colocar o fenómeno em termos concretos: em 2003, o mercado de futuros de commodities totalizava modorrentos 13 mil milhões de dólares. Mas quando a crise financeira global pôs os investidores a fugir, assustados, no começo de 2008, e à medida que os dólares, libras e euros não inspiravam mais confiança, as commodities – inclusive alimentos – pareciam o último e melhor refúgio para os gordos fundos hedge, fundos de pensão e fundos soberanos. “Havia gente que não tinha a mínima ideia do que eram commodites e que, de repente, se pôs a comprá-las,” disse um analista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Nos primeiros 55 dias de 2008, os especuladores fizeram um derrame de 55 mil milhões de dólares nos mercados de commodities, e em Julho, já havia 318 mil milhões de dólares a agitar os mercados. A inflação alimentar tem ficado estável desde então.


O dinheiro fluía, e os banqueiros estavam preparados para o novo e fulgurante casino dos derivados alimentares. Encabeçados pelos preços do petróleo e gás (as commodites dominantes dos fundos indexados) os novos produtos de investimento incendiaram os mercados de todas as outras commodities indexadas, causando um problema familiar àqueles versados em história das tulipas, dot-coms e mercados imobiliários baratos: uma bolha alimentar. O trigo da classe hard red spring, que normalmente era comercializado com preços entre 4 a 6 dólares o bushel, quebrou todos os recordes anteriores, à medida que os contratos futuros entravam na adolescência, e continuou subindo até atingir a marca de 25 dólares o bushel. E assim, de 2005 a 2008, os preços mundiais de comida tiveram um aumento de 80% – e continuam a subir. “Não há precedentes na quantidade de capital de investimento colocada nos mercados de commodites,” disse Kendell Keith, presidente da Associação Nacional de Grãos e Comida. “Não há dúvida que tem havido especulação.” Olivier De Schutter, o relator especial das Nações Unidas para o direito ao alimento, concluiu, numa nota à imprensa, que em 2008 “uma parte significativa dos picos de preços se devia à emergência de uma bolha especulativa.”


O que acontecia nos mercados de grãos não era resultado de “especulação” no sentido tradicional de comprar barato para vender caro. Hoje, juntamente com o índice cumulativo, o indice GSCI da Standard & Poor's provê 219 diferentes índices, de tal forma que os investidores possam clicar no sistema Bloomberg e apostar em qualquer coisa, do paládio ao óleo de soja, de biocombustíveis a rações para gado. Mas o boom de novas oportunidades especulativas nos mercados globais de grãos, óleo comestível e carne criaram um círculo vicioso. Quanto mais sobe o preço das commodities de alimentos, mais dinheiro é injectado no sector, e mais os preços sobem. De fato, de 2003 a 2008, o volume da especulação de fundos indexados aumentou em 1.900 por cento. “O que nós estamos a viver é um choque de procura proveniente de uma nova categoria de participantes nos mercados de futuros de commodities,” testemunhou o gerente de fundos hedge Michael Masters no Congresso americano durante a crise alimentar de 2008.


O resultado do empreendimento de Wall Street em grãos, comida e gado foi o choque no sistema global de produção e fornecimento de alimentos. O fornecimento mundial de alimento, agora, não tem apenas que lutar com ofertas reduzidas e aumento de procuras, mas também com a tendência de alta artificial dos preços de grãos futuros inventada pelos bancos de investimento. O resultado: o preço de um trigo imaginário sobrepõe-se ao do trigo real, enquanto os especuladores (tradicionalmente, um quinto do mercado) agora ultrapassam os hedgers “bona-fide” na proporção de quatro para um.


Hoje, são os banqueiros e negociantes que se situam no topo da cadeia alimentar – os carnívoros do sistema, devorando todos e tudo abaixo deles. Perto da base, labuta o agricultor. Para ele, a alta no preço dos grãos deve ter representado um lucro inesperado, mas a especulação também gerou altas de preços em tudo o que o agricultor precisa comprar para fazer crescer a sua plantação – desde sementes a fertilizantes e diesel. E na base fica o consumidor. O americano médio, que gasta aproximadamente 8 a 12 por cento do seu rendimento em comida, não sentiu de imediato o impacto da alta de preços. Mas para os 2 mil milhões de pessoas ao redor do mundo que gastam mais de 50 por cento do seu rendimento com comida, os efeitos foram devastadores: 250 milhões de pessoas ingressaram nas fileiras dos famintos em 2008, elevando o total mundial de “alimentarmente inseguros” ao pico de mil milhões – um número nunca dantes visto.


Qual é a solução? Na última visita que fiz à Feira de Grãos de Minneapolis, perguntei a um grupo de corretores de trigo o que aconteceria se o governo dos EUA simplesmente criminalizasse o comércio exclusivo com commodites alimentares por bancos de investimento. A reacção deles: risos. Com apenas uma chamada telefónica para um hedger “bona-fide”, como a Cargill ou a Archer Daniels Midland, e uma troca secreta de activos, a carteira de mercados futuros de um banco torna-se idêntica à de um comprador de trigo. E se o governo criminalizasse todos os produtos exclusivamente derivados, perguntei? Mais uma vez, risos. O problema seria novamente resolvido com apenas uma chamada, desta vez, para um escritório comercial em Londres ou Hong Kong; os novos mercados derivados de alimentos adquiriram proporções supranacionais, além do alcance das leis soberanas.


A volatilidade nos mercados alimentares também golpeou o que poderia ter sido uma grande oportunidade para a cooperação global. Quanto mais alto o custo do milho, da soja, do arroz e do trigo, mais as nações produtoras de grãos deveriam cooperar de forma a garantir que nações importadoras em pânico (e geralmente pobres) não aumentem ainda mais os dramáticos contágios de inflação alimentar e levantamentos políticos. Ao invés disso, países nervosos responderam com políticas do tipo salve-se quem puder, indo desde proibições à exportação e à acumulação de grãos, passando por monopolização de terras neo-mercantilistas em África. E as tentativas de conter a especulação de grãos feitas por activistas ou agências internacionais caíram no vazio. Enquanto isso, os fundos indexados continuam a prosperar, os banqueiros a embolsar os lucros, e os pobres do mundo cambaleiam à beira da inanição.


Traduzido por Gustavo Lapido Loureiro


Fonte: Foreign Policy

Buscado no Blog de Um Sem-Mídia

Debtocracy International Version


Pepe Escobar - R2P: De “Responsabilidade de Proteger” a “Razão para Pilhar”


Pepe Escobar

27/8/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

A tarefa-carga do homem branco [1] não prevê perguntar aos africanos o que pensam do massacre ocidental/monárquico em curso contra os árabes nas praias do norte do continente. Mas alguns, pelo menos, decidiram pôr fim à enrolação. 

Mais de 200 líderes e intelectuais africanos distribuíram carta aberta em Johannesburg, África do Sul, chamando a atenção para o “uso distorcido do Conselho de Segurança da ONU para a prática da diplomacia militarizada, com o objetivo de derrubar o governo na Líbia” e para “marginalizar a União Africana”. 

Quanto aos “vencedores” ocidentais na Líbia, já nem tentam disfarçar. Richard Haass, presidente daquele almanaque de Gotha do establishment dos EUA que é o Conselho de Relações Exteriores, assina coluna no Financial Times na qual diz claramente que “a intervenção humanitária introduzida para salvar vidas que se acreditava que estivessem ameaçadas foi, de fato, intervenção política para derrubar o governo” [2] .

Quanto à chusma de atores locais – líbios da Cirenaica – Haass já os despachou para a lata do lixo da história: “Os líbios não conseguirão administrar a situação e emergir por conta própria” e, com “dois milhões de barris de petróleo por dia” em jogo, a única solução é uma “força internacional”. Tradução: exército de ocupação – como no Afeganistão e no Iraque.

Bem-vindos ao neocolonialismo 2.0. 

A hora da vingança

Por tudo isso, o establishment norte-americano já está tão atrevido quanto a direita rica cabeça de noz da variedade Donald “aquela coisa no cocuruto” Trump. Trump disse à Fox News: “Nós somos a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Nós apoiamos a OTAN com dinheiro e armas. E ganhamos o quê? Por que não ficaríamos com o petróleo?”

Em termos de Dia da Marmota geopolítico, é de fato o Afeganistão e o Iraque, tudo outra vez – uma orgia de saques, destruição de estátuas, segmentos de reality show televisivo para não deixar ninguém descolar o olho das telinhas, até faixas de uma torcida pró-OTAN (mais ou menos como os americanos agradeceriam aos chineses que bombardeassem New York City até reduzi-la a ruínas, para “libertá-la”). 

E nem se fala da imbecilidade da grande mídia-empresa. A CNN deslocou Trípoli para o leste – para o Mediterrâneo leste, em algum ponto perto do Líbano. A BBC mostrou uma festa “rebelde” numa praça Verde em Trípoli localizada na Índia, com bandeiras da Índia. Homenagem e prova da total integração entre a OTAN e a mídia do CCG, Conselho de Cooperação do Golfo, também conhecido como Clube Contrarrevolucionário do Golfo – as seis ricas satrapias fundamentalistas da região. 

Considerando que o CCG virtualmente ordena à Liga Árabe o que fazer, não surpreende que a Liga já tenha reconhecido o sinistro Conselho Nacional de Transição ‘rebelde’ como governo legítimo, embora só represente a Cirenáica e apesar de o Grande Gaddafi [3] continuar vivo (embora com a cabeça a prêmio: 1,6 milhão de dólares). Digamos que é o troco da Liga Árabe, por Gaddafi ter chamado o rei saudita Abdullah de “estúpido”, nas preliminares para a guerra do Iraque. 

Também é como se a Líbia agora fosse um emirado árabe em construção, sem nada ter a ver com a África. O CCG financiou e armou os “rebeldes”. A União Africana era quase unanimemente contra a guerra OTAN/CCG. Ergo, no que dependa de OTAN/CCG, a África que se dane; a única coisa que realmente importa – estrategicamente – é meter uma base militar/naval do Africon/OTAN na Líbia. 

E lá nos vamos, para outra Zona Verde

Já não é segredo para ninguém que agentes dos serviços secreto britânico, francês, da CIA, do Qatar e mercenários de todos os tipos choveram (de paraquedas) sobre território líbio como força de invasão, há meses, planejando e treinando “rebeldes” e em estreita coordenação com a OTAN, essa entidade prodígio da filantropia universal. 

Nunca se tratou de mandado da ONU, mas... quem liga?! OTAN/CCG pagam as contas, a OTAN cuida do bombardeio e OTAN/CCG “estabilizarão” a confusão toda, como se lê em plano de 70 páginas vazado pelo Times de Londres e de Rupert Murdoch. [4]

Só tolos acreditarão na notícia-boato previsível de que o plano teria sido elaborado pelo Conselho Nacional de Transição com “ajuda ocidental”. A OTAN não se atreverá – não, pelo menos, no começo – a pôr os pés em terra; daí a proposta de “uma força-tarefa de 10.000-15.000 soldados em Trípoli”, a ser fornecida pelos Emirados Árabes Unidos, que, mais dia menos dia, lá estará. A pergunta mais eletrizante é: na folha de pagamento dos Emirados Árabes Unidos haverá mercenários estrangeiros (jordanianos, sul-africanos, colombianos) treinados pela Blackwater, ou mercenários tribais? 

E – adivinhem o quê! – uma Zona Verde remix, como no Iraque, próxima da Praça Verde. São notícias quase tão deliciosas quanto o embaixador do Conselho Nacional de Transição nos Emirados Árabes Unidos, Aref Ali Nayed, a desmentir compungido o plano vazado, no mesmo momento em que Benghazi confirmava a coisa toda. 

Todos já sabem também que a rendosa reconstrução de tudo que a OTAN destruiu beneficiará – e quem poderia ser?! – os “vencedores”: os países da OTAN/CCG. [5] O líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jail já confirmou, em Benghazi. 

Devem-se esperar ruidosas comemorações locais – e globais –, no que tenha a ver com pôr a mão no butim. Sem considerar a riqueza (ainda inexplorada) em gás e petróleo, a Líbia tem mais de 150 bilhões de dólares em bancos estrangeiros. E o Banco Central da Líbia – agora em vias de ser privatizado – guarda nada menos que 143,8 toneladas de ouro. Há também por lá água doce suficiente para um milênio, que Gaddafi começava a tornar acessível via o espetacular multibilionário Projeto “Grande Rio Feito pelo Homem” [orig. Great Man-Made River (GMR) project]. 

Aí está também mais uma sólida resposta à pergunta sobre por que a França decidiu, tão freneticamente, derrubar Gaddafi: as maiores empresas mundiais de exploração de água são francesas; e a possibilidade de privatizar suprimento de água doce a ser comercializado por mil anos deixou os executivos daquelas empresas, digamos... babando. 

Por tudo isso, como vasto novo mercado potencialmente muito lucrativo para empresas europeias, e bem ali, na outra margem do Mediterrâneo, a Líbia é artigo de primeira, o que dá novo significado à doutrina do imperialismo humanitário e sua “responsabilidade de proteger” [orig. R2P (“Responsibility to Protect”)], que passa a significar “direito de pilhar” [orig. R2P (“Right 2 Plunder”)] – como escreveu um leitor de Asia Times Online. 

O primeiro-ministro italiano Silvio “bunga bunga” Berlusconi foi gentil: encontrou-se em Milão com o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição, bem à frente da nova bandeira da Líbia (de fato, é a velha bandeira monárquica do rei Idris), posta ao lado das bandeiras da Itália e da União Europeia. 

E dizer que há apenas um ano, Silvio B. oferecia fantástica festa ao seu camaradinha cujas mãos adorava beijar – precisamente nosso Grande G. –, com desfile de 30 beduínos montando cavalos puros-sangues importados. 

Em 2008, Silvio B. e o Grande Gaddafi assinaram tratado para enterrar a infeliz era colonial (1911-1942), pelo qual a Itália gastaria $5 bilhões ao longo de 25 anos em investimento na infraestrutura da Líbia – estradas e ferrovias; graças a esse tratado, 180 empresas italianas conseguiram contratos fabulosos na Líbia, e a Itália passou a ser a principal parceira comercial da Líbia. 

Por isso, o líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jalil estava obrigado a confirmar para Berlusconi que a nova Líbia manterá “relações especiais” com todos os “vencedores” da guerra de OTAN/CCG contra a Líbia; e destacou a Itália. 

Semana que vem, será a vez do Xeique Abdullah bin Zayed, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, que visitará Benghazi para passar a mão em fatia bem gorda do bolo da reconstrução. Depois do estouro da bolha imobiliária, os Emirados Árabes Unidos pululam de empresários prontos a saltar sobre qualquer oportunidade. 

E quanto ao mapa do caminho

Mas e se o Grande Gaddafi tiver carregado seu ouro? O ex-presidente do Banco Central da Líbia garante que, em Trípoli, estão fisicamente guardadas reservas equivalentes a nada menos que $10 bilhões em ouro. 

Assim, enquanto os britânicos do serviço secreto metidos em trajes civis árabes e brandindo Kalashnikovs idênticas às dos “rebeldes” procuram Gaddafi “vivo ou morto”, ao estilo texano de George W Bush, o Grande Gaddafi pode bem estar comprando aliados tribais e pagando, literalmente, em ouro. Para não dizer que já conta com o apoio da tribo Gaddafi (habilíssimos caçadores noturnos), da tribo al-Magarha (atiradores de primeiríssima) e de quase toda a tribo da esposa de Gaddafi, os Warfallah (a maior do país, com mais de 2 milhões de pessoas).

Dado que o Conselho Nacional de Transição anda dizendo por todos os cantos que a Líbia pós-Gaddafi será pluralista e multicultural, já se veem sinais claros de que já começaram a construir mais uma Areia Movediça City. 

Os árabes do norte absolutamente desprezam os berberes do sul – e vice-versa. A gente da Tripolitania absolutamente despreza os salafitas da Cyrenaica – e vice-versa. 

Com tanta coisa em jogo, é fácil visualizar um mapa do caminho que será, com pequenas variações, o seguinte: 

– Um governo do Conselho Nacional de Transição muito fraco, governo-fantoche; as tropas da doutrina do neoliberalismo de desastre distanciar-se-ão cada vez mais dos líbios habituados a 40 anos de ensino gratuito, atendimento gratuito à saúde e moradia gratuita; logo se organizará movimento de guerrilha contra a ocupação estrangeira; salafitas-jihadistas de outras latitudes árabes acorreram para a Líbia; cidades do deserto facilmente se tornarão bases de grupos guerrilheiros; os oleodutos do sudeste do país serão atacados; será réplica de Bagdá, de 2004 a 2007; haverá uma “avançada” [surge] em cenário de guerra civil/tribal sem fim; e lá estará o Afeganistão 2.0, como frente-gêmea guerrilheira – o grupo de Gaddafi contra os “rebeldes”/OTAN, e os salafitas contra a OTAN, porque o ocidente nunca admitirá que a Líbia converta-se em estado islâmico. 

Gaddafi, hoje, aposta que os espiões e mercenários de OTAN/CCG converterão a Líbia em novo Iraque/Afeganistão. (É bem possível, aliás, que a OTAN adore a ideia.) Com isso, forçarão Gaddafi a entrincheirar-se mais fundo no norte da África. Voltarão as mesmas velhas táticas imperiais de dividir-para-reinar, enquanto as empresas ocidentais exercerão seus direitos de saquear. 

Simultaneamente darão nova vida, numa espécie de trama secundária, à “guerra ao terror”, enquanto a recessão devora o que resta das respectivas economias nacionais. Mas o complexo industrial-militar e empresários do ramo de armas/segurança continuarão felizes da vida. Iraque/Afeganistão, tudo outra vez? Vamos ver quem pode mais.



Notas dos tradutores



[1] White man’s burden é poema de Rudyard Kipling, de 1899, um apelo para que os EUA assumam a tarefa de promover o desenvolvimento das Filipinas que acabavam de ser derrotadas na Guerra hispano-americana; é considerado o “hino” do imperialismo britânico.  



[2] 22/8/2011, Financial Times em: Libya now needs boots on the ground


[4] Há matéria detalhada sobre o plano em: Iraq haunts plans for post Gaddafi Libya

  

[5] Ver: “Capitalismo de desastre: abutres sobre a Líbia”.Pepe Escobar - R2P: De “Responsabilidade de Proteger” a “Razão para Pilhar”