sexta-feira, 29 de julho de 2011

Energias Renováveis Necessidade, Promessas e Surpresas

ODiario.Inf

Rui Namorado Rosa

 
A ocultação da crise de transição de aprovisionamento energético, forçada pelo declínio da acessibilidade de recursos fósseis a nível mundial, convém tanto às grandes petrolíferas como aos membros da OPEC. Tal como a ameaça de dramáticas alterações climáticas (ignorando o constrangimento às emissões colocado pela escassez de recursos fósseis) convém às poderosas corporações que dominam as tecnologias de soluções de aprovisionamento alternativo (nuclear ou renovável). Aquela ocultação e esta ameaça, sendo contraditórios, interessam a todos esses potentados.

A humanidade desenvolveu-se na base das energias renováveis.
Os alimentos, a lenha, os materiais de origem vegetal ou animal que utilizou, a força dos rios e dos ventos, a força dos animais domesticados, todos eles têm a sua origem na radiação solar que incide na Terra, que aqui é absorvida e transformada através de uma cascata de processos, até tomar diversas formas úteis ao alcance do homem. Esse input inicial é um fluxo portentoso que tem uma potência de cerca de 160 mil TW (1 Tera Watt significa um milhão de milhões de Watt).
A irradiação solar que atinge o solo quando muito aproxima-se de 1 kW/m2 (1 kW significa mil Watt) e dela todos temos noção. Pouco à escala local, colossal à escala do globo. Todos os restantes fluxos de energia natural têm valor global muito menor; podem porém ter densidade localmente muito mais elevada; um grande rio recolhe e concentra a água da chuva que cai sobre uma área muito vasta; a linha de costa oceânica sustenta a ondulação que é gerada pelo vento que varre a superfície do mar ao longo de centenas ou milhares de quilómetros; um bovino carrega carne que resulta da captura e conversão biológica de toneladas de ração produzida via fotossintética e colectada sobre hectares de solo ao longo de um ou mais anos.
O manancial de energias renováveis é inesgotável (à escala do tempo de vida do Sol) e é enorme. Mas o crescimento demográfico e a concentração em áreas urbanas hipertrofiadas são factores que podem evidenciar limitações na disponibilidade de energia renovável.
Os fluxos de energia renovável, por outro lado, são flutuantes e, à parte a variabilidade sazonal, são imprevisíveis (embora obedecendo a leis estatísticas). A energia pode armazenar-se em certas formas e em alguma medida; porém o armazenamento tem também as suas limitações. A energia hidráulica dos rios é passível de ser armazenada em albufeiras; os alimentos (cereais, carne, etc.) são passíveis de armazenamento em silos, ou mediante processamento em conservas, ou em redes de frio. Mas o sol e o vento não são directamente capturáveis para armazenamento; as caravelas tanto tinham de perseguir os ventos e as correntes disponíveis como podiam ficar paralisadas à espera em longas calmarias.
Assim foi que a revolução industrial, que assinala grandes transformações sociais e materiais, está associada primeiro à desflorestação e depois ao recurso maciço ao carvão mineral, na Europa, como combustível para alimentar as caldeiras e as máquinas a vapor que accionariam as grandes manufacturas, as linhas de caminho de ferro e os navios a vapor. O papel das energias renováveis eclipsou-se para um discreto segundo plano nos países que se industrializaram, sem que invenções ou inovações tivessem revertido essa tendência.
No limiar do século XXI, o consumo mundial de energia atinge 15 TW - ou seja, apenas cerca de um dez mil avos do fluxo de radiação solar que incide permanentemente na Terra. Esse consumo, porém, é assegurado esmagadoramente - em 85% - pelo petróleo, seguido do carvão e do gás natural, todos eles combustíveis de origem fóssil, formados em condições climáticas e geológicas particulares, há muitas dezenas de milhões de anos atrás. Das fontes de energia renovável, a hidroeléctrica contribui com 1,0 TW e as restantes conjuntamente 0,2 TW. A contribuição da energia electronuclear anda por 0,9 TW.
O sucesso das fontes fósseis de energia primária é evidente. Embora tenha dois fortes constrangimentos: por um lado, os recursos acessíveis são finitos, o petróleo já em fase avançada do seu ciclo de vida; por outro lado, a combustão destes combustíveis carbonados emite dióxido de carbono que coloca potenciais problemas ao sistema climático terrestre. Presentemente, as reservas de combustíveis fósseis são exauridas ao ritmo de 10 Gton /ano e o dióxido de carbono é emitido ao ritmo de 30 Gton /ano (1 G ton significa mil milhões de toneladas); este último fluxo representa 15% do ritmo a que se processa a fotossíntese em todo o globo; e aquela taxa de extracção é tal que em meados deste século essa taxa deverá entrar em declínio irreversível. Deveremos ter presente que a actual geração vive uma experiencia singular, o apogeu de um período histórico de energia acessível, a era da energia fóssil.
O recurso a outras fontes primárias de energia é agora uma necessidade evidente e premente. E desde há sessenta anos, desde a 1ª Conferencia das Nações Unidas para a Aplicação Pacífica da Energia Atómica, Genebra 1955, que o recurso à energia nuclear tem sido apontado como uma solução de abundância. Vários países exploraram diferentes conceitos de reactor nuclear e desenvolveram as tecnologias e a indústria nuclear. Todavia a expansão do parque electronuclear deu-se a ritmo globalmente modesto, e alguns constrangimentos têm-se evidenciado e até agravado: a segurança dos modelos de reactor adoptados, o reprocessamento do combustível irradiado (isto é após “incineração” no núcleo do reactor) para recuperação e reciclagem de combustível nuclear, e a deposição definitiva dos resíduos (radioactivos) da “incineração” nuclear.
O risco de acidente nuclear, podendo ser baixo, tem todavia o potencial de dimensões catastróficas quando acontece. Por outro lado, o reprocessamento de combustível irradiado é absolutamente necessário para disponibilizar combustível (reciclado ou convertido) em quantidade bastante para fazer da energia nuclear uma alternativa aos combustíveis fósseis; todavia poucos países procedem ao reprocessamento do combustível. Finalmente, o acondicionamento e deposição definitiva de resíduos têm sido adiados pela indústria, por aí acumulando um potencial de risco. Esta situação irracional é de explicação difícil, mas não será separável da origem da indústria nuclear, que teve fins militares, e seus corolários: o conhecimento tecnológico sobre os reactores e sobre o ciclo de combustível, como segredos de estado ou uma ameaça bélica; o condicionamento do acesso ao combustível nuclear com utilidade militar directa ou indirecta; e o desvio do urânio empobrecido (“depleted uranium”) do ciclo de combustível para a utilização bélica em munições e ogivas.
As fontes primárias de energias renováveis surgem então como solução de necessidade. Mas como vimos, o fluxo de longe mais substancial é o de radiação solar; e dos demais deveremos tirar partido de processos naturais de concentração para obter quantidades interessantes.
Temos então de examinar a sua disponibilidade, digamos na União Europeia, isto é quase 500 milhões de habitantes, cada um dos quais ocupando uma área de 9000 m2 (quase um hectare), consumindo em média cerca de 5,2 kW/capita. Esse consumo está repartido aproximadamente em partes iguais entre: combustíveis para transportes, combustíveis para produção de calor, e electricidade. Se contabilizássemos a energia incorporada em importações, e a energia incorporada na alimentação, esse consumo subiria para perto de 10 kW/capita.
Fonte de energia Densidade
de potência
Vento onshore 2 W/m2
Vento offshore 3 W/m2
Ondulação 10 kW/m
Marés 3-6 W/m2
Solar fotovoltaica 5-20 W/m2
Solar fototérmica 20-60 W/m2
Fotossíntese 0,5 W/m2
Hidroeléctrica 11 W/m2
Geotérmica 0,02 W/m2
Ora a densidade de energia colectável (tecnicamente exequível), aproximada a valor médio por unidade de área no plano horizontal (excepto para a ondulação oceânica que é por unidade de comprimento da linha de costa), estão registadas no quadro anexo. [De notar que a energia geotérmica, pela sua localização geologicamente condicionada e condicionamentos de captação, é melhor enquadrável como não renovável.] Os valores médios relativamente modestos resultam de fluxos que intrinsecamente têm baixa densidade, ou que exibem ampla margem de variabilidade, ou que combinam essas duas razões.
Desses vários fluxos, as maiores contribuições alcançáveis virão da radiação solar, primeiramente em centrais solares (de concentração térmica e fotovoltaicas) e, num segundo plano, em micro geração térmica e fotovoltaica desconcentrada e à escala doméstica. Contribuição significativa mas mais modesta é realizável pela via fotossintética (resíduos florestais e agro-pecuários e culturas energéticas) gerando várias formas de biomassa e eventual conversão em bio-combustíveis. A Hidroelectricidade representa já uma contribuição apreciável, ainda passível de um incremento significativo. A energia eólica, se alargada ao offshore, surge com um potencial que poderá aproximar-se do potencial hidroeléctrico. E assim por diante, com contribuições progressivamente mais incertas ou reduzidas, aqui se incluindo a energia eólica no offshore e a energia oceânica das marés e das ondas.
Tudo somado e em termos médios, um cidadão europeu poderá teoricamente, em quase 20% da área terrestre que lhe cabe (1660 m2 em 9000 m2), mais uma fracção do offshore, conseguir gerar a energia que presentemente consome (5200 W). Sendo que não podemos omitir a aleatoriedade dessas fontes de energia e a consequente necessidade de realizar armazenamento de energia numa escala que não tem precedentes. Grande dúvida é antecipar a escala de tempo e o colossal esforço económico necessários para realizar uma tal transição tecnológica. E pressupondo que a demografia e a capitação de energia não seguem ou prosseguem sua tendência ascendente.
È neste quadro de carência e não de abundância que se entendem projectos europeus de “cooperação” com os países do Norte de África e Médio Oriente (MENA) visando a captação/extracção de energia solarmos e eólica sobre esses vastos territórios e seu transporte para a Europa. Caso do ambicioso projecto DESERTEC patrocinado pelo Clube de Roma e em que a indústria alemã teria posição de liderança.
Deveremos concluir que a reconversão para as fontes de energia primária renováveis é uma necessidade urgente e uma possibilidade real, mas muito improvável que seja completa e certamente muito cara e demorada.
Para compreender o que fica dito, devemos recordar que sendo os fluxos de energia renováveis praticamente inesgotáveis, todavia os meios técnicos para a sua captura, transformação e armazenamento (quando este exista) não têm vidas úteis ilimitadas, e deverão ser substituídos de tempo em tempo. Ora, em vista da baixa densidade média dos fluxos renováveis, os investimentos nos equipamentos para eles necessários são relativamente pesados, em termos económico e conteúdo energético, de modo que o período de retorno do investimento é relativamente dilatado. Decorre que a produção de energia eléctrica por via hidráulica ou eólica é, do ponto de vista financeiro, muito menos interessante que a produção por via de central térmica a gás natural ou a carvão. E explica que a exploração da energia hidráulica seja assumida pelo estado ou empresa estatal ou por outra via seja estimulada; e que no caso da energia eólica seja francamente subsidiada ou pelo estado ou pelo próprio sector eléctrico. Estamos a falar de duas fontes de energia primária as mais familiares, que assistiram ao arranque da revolução industrial, e que no entretanto beneficiaram uma e outra de vagas de inovação técnica. As maiores esperanças residem na captura da radiação solar para a produção quer de electricidade quer de combustíveis químicos, cujo desenvolvimento tecnológico e demonstração operacional ainda não venceram as barreiras da competitividade e que, tal como as energias hidráulica e eólica, se confronta com o peso do custo de investimento e o longo período de retorno.
A produção de energia primária, sua transformação, transporte e distribuição, até à comercialização final, são assegurados por um conjunto de corporações transnacionais e nacionais poderosíssimas do ponto de vista financeiro (consequência da intensidade tecnológica e da extensão da infra-estrutura destas indústrias) e político (reflectindo a posição central da energia na actividade económica e no funcionamento social).
As grandes empresas petrolíferas (e gasistas ou mistas) exercem uma influência particularmente importante: ou porque são empresas de estados produtores, responsáveis por parte de leão das respectivas receitas públicas (Arábia Saudita, Irão, Qatar, Iraque, Venezuela, etc.); ou porque são transnacionais, fora do círculo da OPEC, através das quais as potências importadoras asseguram o seus aprovisionamento vital, pelas quais ou através das quais estes estados jogam a sua influência diplomática ou militar em jogos geoestratégicos (ExxonMobil, BP, RoyalDutch/Shell, PetroChina, Petrobras, Total, Chevron, ENI, ConocoPhilips, Sinopec, etc.). É um sector fortemente conectado com o sector petroquímico e com outras ramificações na economia. A sua indispensabilidade não é questionada.
As empresas eléctricas (produção, transporte e distribuição) são públicas ou privadas, têm âmbito frequentemente nacional, mas com vocação para a internacionalização. É um sector de serviços, “utilities” (GDF Suez, E.ON, EDF, ENEL, RWE, Iberdrola, etc.), que se suporta em poderosos grupos industriais fornecedores de equipamentos de tecnologia de ponta, os “conglomerados” (GeneralElectric, Siemens, Itaúsa, Royal Philips Electronics, Alstom, etc.), e de “bens de capital” (ABB, Caterpillar, Schneider Electric, Deere & Co, Hyundai Heavy Industries, Mitsubishi Electric, etc.). Neste universo aparece mais patente a competição inter-capitalista, que se manifesta não só via lobbying e marketing, como sobretudo mediante a promíscua permeabilidade entre poder político e poder económico capitalistas, constituindo um “complexo político-industrial”. È aqui que se alimenta como polémica a efectiva competição entre soluções tecnológicas propostas por diferentes potentados, desde centrais nucleares a centrais solares, novos motores e máquinas eléctricas, as células de combustível, os vários veículos híbridos e eléctricos, os vários comboios de alta velocidade, o hidrogénio como vector energético, etc.
Em Portugal, Galp Energia, no sector petróleo e gás, e EDP Energias de Portugal, no sector utilities, estão entre as maiores corporações mundiais cotadas em bolsa (545ª e 259ª respectivamente). Portugal Telecom (telecomunicações) encontra-se em 538º e BCP (banca) em 715º lugares. A crise não é para todos; sendo também que estas empresas detêm activos e passivos significativos em títulos de dívida nacional e estrangeira.
A premência para o investimento nas diferentes soluções técnicas que esses grandes grupos económicos oferecem, nos domínios em que actuam, é exacerbada junto dos decisores políticos e perante a opinião pública pela feroz competição que os opõe. Os argumentos que são propostos são díspares e não se quadram num plano coerente que defenda o interesse público, antes sim traduzem o propósito de competirem por atingir a diversidade de objectivos empresariais concretos que cada qual defende.
Aqui surge recorrentemente o argumento da ameaça das alterações climáticas, partilhado por esses vários discursos, como razão mais fundamentada ou mais emocional para promover a urgência de inovação radical da base de aprovisionamento energético e das tecnologias energéticas. Essa ameaça convém tanto às indústrias que oferecem fontes alternativas de energia - a indústria nuclear e as industrias ligadas às energias renováveis - como às indústrias extractivas de hidrocarbonetos e carvão, como ainda às que se dedicam à eficiência energética. Todas elas estão de acordo em cada qual vender as suas próprias visões e produtos.
Em 1992 na cimeira do Rio a ONU adoptou a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, que em 1997 adoptou o Protocolo de Quioto, visando essencialmente reduzir as emissões globais de dióxido de carbono (produzido na queima dos combustíveis fósseis). A base racional para esse objectivo político é a ameaça de gravosas alterações climáticas induzidas pela acumulação de dióxido de carbono na atmosfera.
A questão do efeito das emissões sobre o sistema climático é um problema complexo já conhecido e estudado desde há muitas décadas antes. E a seu propósito foi constituído o Painel Internacional para as Alterações Climáticas (por iniciativa conjunta da Organização Meteorológica Mundial e a UNEP) em 1988, o que veio contribuir para o incremento da investigação dos mecanismos do sistema climático.
O relatório síntese do IPCC (de que está em elaboração a quinta versão) é um sumário político para fins políticos de inúmeras pesquisas e estudos parcelares, o qual é construído sobre cenários de crescimento demográfico, crescimento económico, intensidade energética do produto económico, intensidade carbónica da energia consumida, acumulação de dióxido de carbono na atmosfera, e impacto climático dessa acumulação. As conclusões que são retiradas de tão extensa cadeia de pressupostos são naturalmente questionáveis nas suas sucessivas etapas.
Mas a atenção é normalmente focalizada para a última etapa, a do impacto do teor atmosférico de dióxido de carbono sobre o regime climático planetário; porém, sobre este ponto, por um lado persistem diversas questões científicas por decifrar, enquanto por outro lado se extraem os cenários mais impressionistas que pretendem aprisionar a opinião pública. O que não é inocente em matéria de tão grande importância. É que há questões chave que são suprimidas a montante - designadamente o crescimento económico e a intensidade carbónica da energia consumida – cuja distorção retira verosimilhança aos cenários climáticos finais.
Explicando melhor, os cenários referidos a 2100 pressupõem (sem o questionar sequer) emissões de dióxido de carbono que exigiriam a existência de reservas de energia fóssil largamente superiores às estimativas de reservas últimas de facto existentes. Em relação com este facto, partindo da íntima inter-relação entre crescimento económico e disponibilidade de energia, deverá afirmar-se que os cenários de crescimento económico propostos são ou incertos ou mesmo inatingíveis; realidade que a conjugação de crise económica recessiva com indisponibilidade de energia e commodities presentemente comprova.
O cenário de real escassez de combustíveis fósseis, que vai atingindo país após país, impacta no comércio e na finança internacional e, no quadro internacional de competição inter-capitalista entre estados e blocos político-militares, projecta-se em conflitos comerciais e monetários e mesmo em agressões bélicas.
A ocultação da crise de transição de aprovisionamento energético, forçada pelo declínio da acessibilidade de recursos fósseis a nível mundial, convém tanto às grandes petrolíferas como aos membros da OPEC, para que os seus assets e influência politico-económica prevaleçam. Tal como a ameaça de dramáticas alterações climáticas (ignorando o constrangimento às emissões colocado pela escassez de recursos fósseis) convém às poderosas corporações que dominam as tecnologias de soluções de aprovisionamento alternativo (nuclear ou renovável). Aquela ocultação e esta ameaça, sendo contraditórios, interessam a todos esses potentados.
O capital financeiro é também parte interessada nestes cenários de ficção. A titulação de “licenças”, “direitos” e “créditos” de emissões a que o Protocolo de Quioto abriu caminho foi agarrado por alguns estados, e concretamente pela União Europeia, visando gerar fluxos financeiros a partir dos fluxos de dióxido de carbono. Se 10% das emissões de dióxido de carbono - 3 em 30 Gton /ano - forem titularizadas a € 30/ ton, então serão gerados 900 mil milhões de euros ano após ano, somando-se no tempo e multiplicando-se através da transacção em “bolsas de carbono”. A primeira “bolsa de carbono” foi a Chicago Climate Change (CCX) em 2003; e a segunda a European Climate Exchange (ECX) para operar o EU Emission Trading Scheme, em 2005. A ECX desenvolve os instrumentos financeiros que são depois transaccionados na plataforma electrónica da InterContinental Exchange em Londres, a ICE Futures Europe; esta, até 2005 e sob o nome International Petroleum Exchange, já operava como bolsa para o petróleo de referência Brent, bem como para contratos de futuros e opções de refinados, gás, carvão e electricidade; a partir de então passou a transaccionar títulos de carbono também. Ambas ECX e CCX foram integradas pela ICE em 2010. Por seu lado, o Banco Mundial gere um programa de promoção de investimento por parte de países industrializados em países subdesenvolvidos, sob a designação de “desenvolvimento limpo” previsto no Protocolo de Quioto e, a pretexto de redução de emissões, cria e atribui créditos de carbono a favor do investimento estrangeiro.
O “comércio do carbono” é parte integrante deste complexo jogo de interesses industriais e financeiros de acumulação de lucros.
É no labirinto desta feroz competição e desta subtil insinuação financeira, que temos de procurar discernir as forças em presença e encontrar o rumo político e técnico que conduza à superação desta crise verdadeiramente estrutural, para o mundo e para o nosso país.

Bibliografia
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http://www.vaclavsmil.com/publications/

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http://www.withouthotair.com/
Forbes Special Report, The World’s leading companies, Edited by Scott DeCarlo, 2010.
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Carbon Positive, EU carbon price may triple by 2013, 2011.
http://www.carbonpositive.net/viewarticle.aspx?articleID=2116


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