segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Presidenta Dilma recebe pedido para revogar anistia

Na Argentina, Dilma recebe apelo para abrir arquivo da ditadura

Aproveitando a visita que Dilma Rousseff realiza nesta segunda-feira à Argentina, a irmã de um dos seis argentinos reconhecidos como desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira decidiu ir até a Casa Rosada para tentar entregar uma carta à presidenta.
A psicologa Lilian Ruggia, de 56 anos, é irmã de Henrique Ernesto, morto pelo Exército brasileiro em julho de 1974, em Foz do Iguaçu, quando tinha 18 anos.
Na carta que tenta entregar a Dilma, Lilian pede que seja revogada a lei da anistia para que se apurem os crimes contra a humanidade praticados durante o regime. "Peço também que se abram os arquivos da ditadura para ajudar na busca pelos corpos desaparecidos", escreve a psicóloga.
Dilma chegou nesta manhã à Argentina, em sua primeira viagem internacional desde que tomou posse do cargo, em 1º de janeiro. Ex-militante torturada pela ditadura, Dilma empenhou-se em incluir na agenda temas relacionados aos direitos humanos, como um encontro com as mães da Praça de Maio

Com iG

Buscado no Celso Jardim



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domingo, 30 de janeiro de 2011

Um povo desafia o seu ditador

Via Resistir.info

por Robert Fisk, no Cairo
Manifestantes egípcios enfrentam canhões de água e gás lacrimogéneo durante as batalhas generalizadas travadas no Cairo.
Pode ser o fim. É certamente o começo do fim. Por todo o Egipto, dezenas de milhares de árabes enfrentaram ontem gás lacrimogéneo, ganhos de água, granadas atordoantes e fogo real para exigir a remoção de Hosni Mubarak após mais de 30 anos de ditadura.
E quando o Cairo jaz ensopada sob nuvens de gás lacrimogéneo de milhares de latas disparadas sobre multidões densas pela polícia de choque, parece que o seu domínio se aproxima do fim. Ontem nenhum de nós nas ruas do Cairo sabia onde estava Mubarak – que mais tarde apareceria na televisão para demitir o seu gabinete. E descobri que ninguém se importava.
Eles foram corajosos, em grande medida pacíficos, estas dezenas de milhares, mas o comportamento chocante dos polícias à paisana de Mubarak – os battagi, a palavra significa literalmente "bandidos" em árabe – que batiam, golpeavam e assaltavam manifestantes enquanto os polícias observavam e nada faziam, foi uma desgraça. Estes homens, muitos deles ex-polícias viciados em droga, na noite passada foram a linha de frente do estado egípcio. Os verdadeiros representantes de Hosni Mubarak quando polícias uniformizados despejavam gás sobre as multidões.
Houve um ponto na noite passada em que latas de gás continuavam a lançar fumo sobre as águas do Nilo quando a polícia de choque e manifestantes combatia sobre as pontes do grande rio. Era incrível, um povo levantado que não mais aceitava violência e brutalidade e prisão como seu destino na maior nação árabe. E os próprios polícias podem estar a quebrar: "O que podemos fazer?", perguntou-nos um da polícia de choque. "Temos ordens. Pensa que queremos fazer isto? O país está a ir abaixo". O governo impõe um cessar-fogo na noite passada quando manifestantes ajoelharam-se a orar em frente da polícia.
Como descrever um dia que pode demonstrar-se ser uma página tão gigantesca na história do Egipto? Talvez os repórter devam abandonar as suas análises e apenas contar o relato do aconteceu desde a manhã até à noite numa das mais antigas cidades do mundo. Assim, aqui está, a estória da minhas notas, rabiscadas em meio a um povo desafiante em face de milhares de polícias à paisana e polícias uniformizados.
Começou na mesquita Istikama na Praça Giza: uma feia passagem de escalavrados blocos de apartamentos em betão e uma linha de polícia de choque que se estendia até o Nilo. Todos nós sabíamos que Mohamed El Baradei estaria ali para as orações do meio-dia e, a princípio, a multidão parecia pequena. Os polícias fumavam cigarros. Se isto era o fim do reinado de Mubarak, era um arranque pouco impressionante.
Mas então, não muito depois de as últimas orações terem sido expressas naquela multidão de crentes, levantaram-se da rua, viraram-se para a polícia. "Mubarak, Mubarak", gritavam eles. "A Arábia Saudita está à sua espera". Foi quando os canhões de água foram disparados sobre a multidão – a polícia tinha toda a intenção de combate-los apesar de nem mesmo uma pedra ter sido lançada. A água irrompia dentro da multidão e então as mangueiras foram apontadas directamente a El Baradei, o qual cambaleou para trás, encharcado.
Ele havia retornado de Viena poucas horas antes e poucos egípcios pensam que dirigirá o Egipto – ele diz que quer ser um negociador – mas isto foi uma desgraça. O mais honrado político egípcio, um vencedor do Prémio Nobel que manteve cargo de principal inspector nuclear da ONU, foi encharcado como um garoto da rua. Eis o que Mubarak pensa dele, suponho: apenas um outro perturbador com uma "agenda oculta" – que é realmente a linguagem que o governo egípcio está a usar neste momento.
E então o gás lacrimogéneo arrebentou sobre as multidões. Talvez houvesse uns poucos milhares agora, mas quando passeei junto a eles, algo notável aconteceu. Dos blocos de apartamento e de becos escuros, das ruas da vizinhança, centenas e a seguir milhares de egípcios enxamearam para a estrada conduzindo à Praça Tahrir. Isto é uma táctica que a polícia decidiu impedir. Ter detractores de Mubarak no próprio centro do Cairo sugeriria que o seu domínio já estava acabado. O governo havia cortado a Internet – cortando o Egipto do resto do mundo – e extinguido todos os sinais de telemóvel. Não fez diferença.
"Queremos a queda do regime", bradavam as multidões. Talvez não o mais memorável brado de revolução mas eles o gritavam muitas vezes até serem abafados pelo estouro das granadas de gás lacrimogéneo. De todo o Cairo vinham em ondas para a cidade, jovens classe média de Gazira, os pobres dos bairros de lata de Beaulak al-Daqrour, marchando firmemente através das pontes do Nilo como um exército – o que, admito, era o que eram.
Mas o gás das granadas chovia sobre eles. Tossindo e com ânsias de vómito, eles marchavam em frente. Muitos mantinham os casacos sobre as bocas ou faziam fila numa loja de limões onde o proprietário espremia o fruto fresco nas suas bocas. O sumo de limão – um antídoto para o gás lacrimogéneo – entornava sobre o pavimento até a sarjeta.
Isto foi no Cairo, naturalmente, mas estes protestos estavam a ter lugar por todo o Egipto, no mínimo em Suez, onde 13 egípcios foram mortos. As manifestações começavam não só em mesquitas como também em igrejas coptas. "Sou cristão, mas sou egípcio em primeiro lugar", disse-me um homem chamado Mina. "Quero que Mubarak se vá". E aqui chegaram os primeiro bataggi, empurrando à frente das fileiras da polícia a fim de atacar os manifestantes. Eles tinham bastões de metal e cassetetes de polícia – vindos de onde? – e varas aguçadas. Poderiam ser processados por crimes graves se o regime Mubarak cair. Eles eram maldosos. Um homem chicoteou um jovem sobre as costas com um longo cabo amarelo. Ele uivou com o sofrimento. Por toda a cidade, os polícias postavam-se em fileiras, legiões delas, com o sol a cintilar sobre os seus visores. A multidão deveria estar temerosa, mas a polícia olhava ameaçadoramente, como pássaros encapuzados. Então os manifestantes atingiram a margem Leste do Nilo.
Uns tantos turistas foram envolvidos neste espectáculo – vi três senhoras de meia-idade sobre uma das pontes do Nilo (os hotéis do Cairo, naturalmente, não haviam dito aos seus hóspedes o que estava a acontecer) – mas a polícia decidiu que controlaria a extremidade Leste do tabuleiro da ponte. Eles abriram as suas fileiras outra vez e enviaram os bandidos para bater na vanguarda dos manifestantes. E foi neste momento que o envenenamento por gás lacrimogéneo começou a sério, centenas e centenas de latas choviam sobre as multidões que marchavam de todas as estradas para dentro da cidade. Ele picava os nossos olhos e fazia-nos tossir e respirar com dificuldade. Homens estavam a ser nauseados junto a lojas com as frentes fechadas.
Incêndios parecem ter estalado na noite passada próximo da sede do NDP, o partido que carimbava as ordens de Mubarak. Um cessar-fogo foi imposto e os primeiros relatos falam de tropas na cidade, o sinal fatal de que a polícia perdeu o controle. Abrigámo-nos no antigo Café Riche perto da Praça Telaat Harb, um pequeno restaurante e bar com funcionários vestidos de azul; e ali, a bebericar o seu café, estava o grande escritor egípcio Ibrahim Abudul Meguid, mesmo à nossa frente. Era como encontrar-nos com Tólstoi a almoçar em meio à Revolução Russa. "Não houve reacção de Mubarak!" exaltou-se ele. "É como se nada houvesse acontecido! Mas eles conseguirão – o povo conseguirá!" Os clientes sentados sufocados com o gás. Foi uma daquelas cenas memoráveis que ocorrem em filmes e não na vida real.
E havia um homem idoso sobre o pavimento, com uma mão sobre os olhos a arder. O coronel reformado Weaam Sali do Exército egípcio, usando as suas fitas de medalhas da guerra de 1967 com Israel – a qual o Egipto perdeu – e da guerra de 1973, a qual o coronel pensa que o Egipto venceu. "Estou a deixar as fileiras dos soldados veteranos", disse-me ele. "Estou a aderir aos manifestantes". E o que dizer do Exército? Ao longo do dia não o vimos. Os seus coronéis, brigadeiros e generais estiveram silenciosos. Estariam à espera até que Mubarak impusesse a lei marcial?
As multidões recusaram-se a cumprir o toque de recolher. Em Suez, elas atearam fogo aos camiões da polícia. Em frente ao meu hotel, tentaram empurrar um outro camião para dentro do Nilo. Eu não podia voltar ao Cairo Ocidental através das pontes. O gás das granadas ainda estava a evolar-se para o Nilo. Mas um polícia finalmente teve pena de nós – uma qualidade, tenho de dizer, que ontem não esteve muito em evidência – e levou-nos para a margem própria do Nilo. E havia um velho barco a motor, da espécie turística, com flores de plástico e um proprietário receptivo. Assim, navegámos de volta com estilo, bebericando Pepsi. E então um veloz barco amarelo surgiu subitamente com dois homens a fazerem sinais de vitória para as multidões nas pontes, com uma garota de pé atrás, a segurar um enorme estandarte nas mãos. Era a bandeira do Egipto.
29/Janeiro/2011
O original encontra-se em www.independent.co.uk/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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Puxadinho do Jader
 



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Psiquiatria: Uma Indústria da Morte




Psiquiatria, Uma Indústria da Morte - Psychiatry, An Industry of Death (2006) LEGENDADO PT from MDDVTM TV1 on Vimeo.

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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Viagem do tempo: Pajerama, a invasão cara-pálida


Puxadinho do Jader Resende

Quem sou eu

A minha natureza inquieta, fé no trabalho e confiança num futuro onde: espírito, liberdade e natureza, estejam numa só manifestação do homem é que me leva a ser sempre Jader Resende e não imitador de Jader Resende.
Este filme carregado de misticismo, amor pela terra, pajelança ou xamantísmo, enfim em poucos minutos mostra o índio em completa harmonia com a natureza. É tecnicamente bonito de se ver e sobretudo mostra o que destruímos sem dó ou piedade e faz um alerta para o que vai acontecer se não mudarmos o modo de ver a mãe terra.



Buscado no Celso Jardim



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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O estopim da revolta

Mair Pena Neto
O Brasil acaba de realizar sua sexta eleição direta consecutiva para a presidência da República, após os longos anos da ditadura militar; a questão social entrou definitivamente na pauta dos governantes, mas existe um grupo que parece se esforçar por minar os alicerces da democracia e trata-se justamente de um dos que mais deveria estar comprometido na sua preservação: o dos políticos.
Generalizar é sempre perigoso, mas o mau comportamento da classe política brasileira na manutenção de privilégios tem deixado poucas exceções ou, no máximo, o silêncio cúmplice. Os políticos têm se transformado numa casta, que, ao invés de servirem ao Estado e à população, deles se servem.
A história é cheia de exemplos, à direita e à esquerda, da construção de castas privilegiadas em governos, que provocaram as suas ruínas. No caso do parlamento em um regime democrático, a questão é ainda mais grave, já que se tratam de representantes do povo. Estão lá, porque os colocamos. Seria simplista dizer que o povo precisa votar melhor. Ou uma meia verdade. De fato, elegemos muita gente ruim, mas na maioria das vezes não sabemos que são inescrupulosos assim. A melhoria da educação e o aperfeiçoamento do processo democrático serão os melhores mecanismos de correção destes desvios, mas o curto prazo exige medidas reparadoras.
A classe política precisa estar alinhada à população que representa, e não distante, desfrutando de uma realidade inimaginável para a maioria dos brasileiros. Altos salários, passagens, mordomias e vantagens impensáveis para o trabalhador. Mal passara um mês que os parlamentares elevaram os próprios salários para ofensivos R$ 26 mil, considerando todos os ganhos indiretos que já possuem, surge a aposentadoria dos ex-governadores, que se acumulam com os subsídios que recebem em suas voltas à Câmara e ao Senado, totalizando salários astronômicos, incompatíveis com a realidade brasileira.
Parlamentares não são funcionários públicos. São cidadãos, eleitos pelo povo para determinados cargos. Devem ser remunerados adequadamente durante o período dos mandatos, nos quais devem contribuir para a Previdência, com desconto na fonte, como qualquer trabalhador de carteira assinada. Ao fim do seu mandato, continuam a contribuir em outros locais para onde voltam ou passam a trabalhar. Nada justifica uma situação de privilégios, que cria anomalias como a de José Sarney, que recebe como ex-presidente, ex-governador e senador, sustentando a si e aos seus com o dinheiro público.
O propósito deste artigo está longe do moralismo, que costuma atender aos interesses da direita, aliás majoritária nas benesses, já que esteve a maior parte do tempo à frente do poder. O oportunismo não respeita ideologias e traz decepções, como a de ouvir do ex-governador do Acre, Jorge Viana, do PT, que recebe a aposentadoria porque está prevista em lei. Viana, com sua trajetória combativa e responsável, sabe muito bem que nem tudo que é legal é moral. Aguarda-se uma manifestação sua nos grandes jornais onde encontra espaço.
Mas o que se busca alertar é que este tipo de comportamento fermenta revolta na população. Se o parlamento fosse no Rio, o aumento de salário dos parlamentares dificilmente sairia, pois haveria um cerco popular que obrigaria a revogação no ato. Nunca se sabe onde um cidadão irá se imolar, como aconteceu na Tunísia, ou de onde virá o estopim que acenderá a revolta. Mas é prudente não brincar com fogo diante de situações explosivas, cujas conseqüências são imprevisíveis.

Buscado no Gilson Sampaio




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Dengue e estupidez


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A estupidez humana não tem limites. Recebemos hoje a visita de uma funcionária do Departamento de Epidemiologia para procurar possíveis focos do mosquito da dengue. A simpática moça colocou veneno no ralos dos banheiros e, conversa vai, conversa vem, pintou um quadro bastante preocupante para a cidade. Algumas casas não permitem a entrada dos funcionários por ignorância ou política, o que é uma ignorância maior ainda. Registre-se que na minha cidade se você tossir um pouco mais alto em cinco minutos o povo já marcou o horário do enterro.
Fui até ao Departamento de Epidemiologia e apresentei a armadilha para captura do mosquito e, educadamente, me foi explicado que a idéia não poderia ser acolhida por não fazer parte da metodologia da Secretaria de Saúde do Estado. Quase mandei o caboclo para aquele lugar, mas, me contive e expliquei que a armadilha, invenção do professor de Microbiologia da UFRJ, Maulori Cabral, não era a solução final para a dengue mas que eliminaria muitas gerações de mosquitos. Irredutível na defesa da metodologia, reafirmou sua ignorância.
Vamos a um dado e um pequeno e simplório exercício.
Cada fêmea do mosquito transmissor (Aedes aegypti) põe 100 ovos em três dias, o que equivale a 1000 ovos/mês.
Apenas como exercício, admitamos que 100 mosquitéricas capturem, cada uma, apenas 20 ovos durante os três dias. Continha fácil, 100 mosquitéricas vezes 20 ovos equivalem a 2.000 mosquitos fora de circulação. 1000 mosquitéricas eliminariam quantos?
Cabe agora um pedido a algum iluminado cientista que me esclareça em quê o desempenho da armadilha interfere na metodologia do combate à dengue?
Como verão no vídeo, o custo da mosquitérica é praticamente zero e deveria ser adotado, junto com outras metodologias, pelas prefeituras.
Talvez o problema seja a relação custo-benefício.

Buscado no Gilson Sampaio


“A nossa vida não é nada mais que a soma dos nossos amores.”


by mariafro

Da irreparável tragédia que foi morrer de amor pelo Brasil
Por: Miguel Nicolelis na Revista Brasileiros

A voz suave e familiar – da mulher amiga e irmã – repetiu uma vez mais a frase, talvez nem pela necessidade de ênfase, mas para ter certeza de que a pitada de sabedoria nela contida não fosse subestimada ou esquecida.
“A nossa vida não é nada mais que a soma dos nossos amores.”
Dita assim, de surpresa, no final de uma conversa telefônica, no princípio da madrugada, ninguém suspeitaria, nem mesmo a autora, de que ali se encontrava um novo fio da meada para abordar um dos capítulos mais trágicos e vergonhosos da história brasileira, aquele cuja solução definitiva não pôde mais ser adiada, ou pior, empurrada com a barriga, como tem sido, sob pena de se cristalizar uma chaga incurável, um obstáculo moral intransponível para a construção de uma nação verdadeira e justa.
Em sua autobiografia, Nelson Mandela diz que se conhece a alma de um país pela forma como os seus presos são tratados. Parafraseando-o, eu modestamente acrescentaria que se pode também quantificar o caráter de uma nação pela maneira como retribui àqueles que lhe deram, voluntária ou involuntariamente, a dádiva maior, a própria vida, pelo simples crime de amá-la demais. Pois se a vida de cada um de nós é construída sobre os alicerces dos nossos encontros e desencontros amorosos, também são os atos anônimos e inocentes de amor incondicional que esculpem o coração imaginário de toda uma nação. E não há prova maior de amor do que a perda da própria vida, a renúncia ao gozo da existência, da perda da luz do sol de cada dia e do brilho da lua de cada noite, a remoção forçada da convivência com tantos outros amores em prol de um ideal utópico de liberdade, igualdade e fraternidade que move a mente de alguns homens e mulheres, desde os tempos imemoriais dos nossos primeiros passeios de mãos dadas, sob os céus estrelados das savanas africanas.
Sem inúmeros, generosos e sinceros atos de amor não existiria uma nação brasileira para contar essa história trágica. Mas qual terá sido a retribuição dada, até o presente momento, àqueles que optaram ou foram violentamente conduzidos ao sacrifício máximo, apenas por dedicar a sua paixão a essa mulher maravilhosa e sedutora chamada Pátria Brasil? Que destino foi reservado àqueles (e aos seus outros amores) que pereceram (ou se tornaram prisioneiros perpétuos) nos porões sórdidos de um país por eles tão querido e tão amado durante os anos de chumbo da ditadura militar instalada com o golpe de 1964? Para obter uma resposta basta-nos rever brevemente a saga de dois jovens que se apaixonaram perdidamente por essa mulher e como ela lhes retribuiu esse amor juvenil.
O caso de amor do primeiro deles, Antônio Carlos Cabral, me foi relatado no meu primeiro dia como aluno da Faculdade de Medicina da USP (FMU-SP), 32 anos atrás, em um folheto apócrifo e anônimo deixado no meu armário de calouro. Desse, eu só me lembro do título que permaneceu impresso na minha memória por todos esses anos: “Cabral, vive!”.
Antônio Carlos Cabral na página do Tortura Nunca Mais
Nascido em São Paulo, em 14 de outubro de 1948, Cabral era aluno de graduação e presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da FMU-SP, uma das mais combativas entidades do movimento de resistência estudantil à ditadura. De acordo com os dados disponibilizados pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ (GTNM/RJ) e pelo Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Político no Brasil, Cabral era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e membro do Show Medicina, a trupe artística e irreverente da FMU-SP. De acordo com os documentos oficiais da ditadura, Cabral morreu durante tiroteio com a polícia, no dia 12 de abril de 1972, numa vizinhança do Rio de Janeiro. Como era hábito na época, nenhum dos fatos apurados subsequentemente corroboraram essa versão. Vizinhos que testemunharam a sua prisão desmentem a versão do tiroteio. Apesar do laudo da necropsia de Cabral, assinada pelos legistas Olympio Pereira da Silva e Jorge Nunes Amorim, determinar a causa da morte como resultante de ferimentos penetrantes fatais produzidos por arma de fogo, fotos do corpo, posteriormente encontradas nos arquivos do IML-RJ, exibem claros sinais de sevícias brutais, evidenciadas por placas de escoriações distribuídas pelas mãos, braços, tórax, face e fronte. Entregue em um caixão lacrado e com ordens para que esse não fosse aberto, o corpo mortal de Cabral voltou ao solo da pátria que ele tanto amou, tatuado pela conveniente tarja de “terrorista”, o código que as ditaduras usam para justificar o assassinato de seus inimigos, a vasta maioria deles civis inocentes, sejam eles brasileiros, iraquianos, afegãos ou membros de qualquer outro povo lutando pela sua liberdade.
Eu lhe pergunto, meu caro leitor, que amante retribuiria assim o amor tão profundo que lhe oferecia um jovem brilhante de 25 anos, querido por pais, familiares, amigos e colegas estudantes? Cabral podia ter sido eu ou você, um de nossos filhos, netos ou nosso irmão.
A história de um segundo jovem apaixonado pelo Brasil chegou a mim pelas mãos generosas da minha querida irmã baiana, a jornalista Mariluce de Souza Moura, que me ajudava a coletar informações sobre meu colega Cabral. Nascido em Ituiutaba, Minas Gerais, em 8 de julho de 1949, Gildo Macedo Lacerda morreu em Recife, em 1973, no final do período que ficou conhecido como “outubro sangrento”. Outra liderança histórica do movimento estudantil da época, Gildo era militante da Ação Popular (AP). Depois de atuar no movimento estudantil de Minas, ser preso no Congresso da UNE em Ibiúna e de ser eleito vice-presidente dessa entidade em 1969, Gildo foi obrigado a cair na clandestinidade para se evadir da caçada nacional lançada pela polícia da ditadura. Transferido para Salvador pela AP, Gildo começou seu trabalho de organizar estudantes e trabalhadores. Em junho de 1972, Gildo encontrou outro dos seus grandes amores, a jovem Mariluce Moura, com quem se casou, meros três meses depois do primeiro encontro. O Brasil encontrara uma digna rival na vida amorosa de Gildo.
Ao meio-dia de 22 de outubro de 1973, o jovem militante, marido e futuro pai, Gildo Lacerda foi preso na porta de sua casa. No mesmo instante, na frente do Elevador Lacerda, Mariluce, grávida de um mês de Tessa, foi apreendida pela repressão baiana. Naquela noite, já presos no prédio da Polícia Federal, Mariluce e Gildo trocaram os seus últimos olhares silenciosos de amor, pois palavras não lhes foram permitidas trocar. Nunca mais.
Em um dos infinitos dias que se seguiram, durante uma sessão de tortura, Mariluce, grávida, foi informada de que Gildo tinha feito uma longa viagem. Dias depois, lhe comunicaram que Gildo Lacerda não era mais. Transferido para o DOI-CODI de Recife, Gildo pereceu sob tortura nos porões da ditadura. Na versão oficial, porém, a morte desse jovem, cujo único crime foi ter-se apaixonado perdidamente por duas mulheres maravilhosas, Pátria e Mariluce, deu-se por meio de tiroteio com seus comparsas, os quais Gildo, outro “terrorista”, teria supostamente delatado à polícia. Nesses tempos não bastava torturar e matar o inimigo, era preciso também desonrá-lo e salgar o seu genoma, para que dele não germinasse mais nenhuma outra paixão igual. No caso de Gildo, nem o seu corpo sem vida foi jamais devolvido à Mariluce, Tessa, e suas netas.
Mas por que – perguntariam os leitores – abrir essas feridas tão horrorosas e expô-las, assim, sem paliativos ou bálsamo para a dor excruciante que elas hão certamente de causar, novamente, tanto em indivíduos envolvidos intimamente com cada uma dessas tragédias humanas, como para toda a nossa nação? Até que os responsáveis por tais atos de barbárie sejam trazidos à luz da justiça nacional, como ocorre na Argentina, e respondam por seus crimes, não haverá outra forma aceitável de retribuir o sangue derramado por inúmeros bravos brasileiros que, como Cabral e Gildo, pagaram um preço incomensurável por seus lindos devaneios de amor. Se essa justificativa não lhes basta, some-se a ela uma tão ou mais terrível. Não, eu não me refiro à humilhante sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, condenando o Brasil pelo descumprimento duplo da Convenção Americana de Direitos Humanos e, no processo, expondo a realidade que a mais alta instância da justiça brasileira deixou de cumprir, mais uma vez, o seu dever cívico e histórico para com o povo brasileiro.
Não, eu me refiro ao fato corriqueiro, conhecido de qualquer casal de namorados: que aquele que não retribui o amor sincero à altura, corre o sério risco de jamais ser novamente amado com a mesma intensidade

Buscado no blog Maria Frô



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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eu acuso!


“Meu dever é falar, não quero ser cúmplice.” (…) (Émile Zola)

 

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subseqüente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que… estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando…
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente…
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.



Puxadinho do Jader

Eu Acuso
Do escritor francês Émile Zola, autor de clássicos como Germinal, A Besta Humana e A Taberna. Publicado no jornal L’Aurore em 13 de janeiro de 1898, "J´accuse!" é um marco do engajamento intelectual e da luta contra a injustiça e a intolerância
J'accuse é ainda o título de uma canção política de Michel Sardou.
Sobre uma análise do caso Dreyfus, ver Hannah Arendt em 
As origens do totalitarismo, onde fica claro que até hoje, na França, as opiniões sobre a inocência do Capitão se dividem.
Zola|Rui Barbosa, Eu acuso! 
O processo do capitão Dreyfys, ISBN 978-85-7715-06

Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/J%27accuse"



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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

FAZ 40 ANOS: NADA DO PARADEIRO E NEM DO CORPO

Rubens Paiva e família



Há 40 anos, à noite, duas mulheres foram presas ao desembarcar no Galeão, de um voo vindo do Chile.

Uma foi visitar o filho. A outra, a irmã, casada com ele.

Exilados em Santiago, onde se reunia grande parte dos brasileiros perseguidos e banidos pelo regime militar, sob a proteção da ainda democracia de Allende.

Exilados e agentes duplos.(?)

O voo era monitorado por agentes da Cisa, Centro de Informações da Aeronáutica, cuja sede era na Base Aérea do Galeão, ao lado.

Havia informações de que as duas senhoras traziam cartas para amigos e familiares dos “terroristas”.

Foram presas dentro do avião e revistadas na Aeronáutica.

Encontraram, entre algumas cartas, duas para um tal Raul, com o telefone dele anotado no envelope.

Uma de agradecimento, de uma ex-estudante envolvida com o MR-8, que Raul ajudou a tirar do Brasil [filha de um dos seus melhores amigos].

Outra com uma análise sobre a luta armada e os exilados.

Raul era o codinome do meu pai.

Que, como muitos brasileiros, combatia a ditadura do jeito que dava: escondia perseguidos, tirava-os do Brasil por rotas secretas, dava passaporte falso, dinheiro, mandava relatos para a imprensa internacional [a daqui era censurada] sobre torturas e abusos dos direitos humanos.

Era parte da chamada “rede de apoio”, empresários, professores, cassados, profissionais liberais, cuja maioria nem defendia a luta armada, mas sabia que algo deveria ser feito, para mostrar que uma ditadura não pode passar sem resistência.

No dia seguinte, dia 20 de janeiro de 1971, nossa casa foi cercada e invadida.

Há exatos 40 anos.

Traziam metralhadoras e granadas.

Esperavam encontrar um aparelho subversivo na orla do Leblon.

Mas era apenas a casa de um casal jovem, de 41 anos, com 5 filhos pequenos, que se preparava para ir à praia, no feriado de São Sebastião.

Levaram Raul embora, mas parte da equipe ficou na casa.

Quem chegasse, era preso também.

Pulei o muro escondido, para levar um bilhete à vizinha. Dei a volta na quadra, para escapar dos olhos dos agentes. Bilhete escrito pela minha mãe, que avisava da prisão e pedia para ninguém aparecer.

Meu pai foi levado para o CISA e lá foi torturado.

No dia seguinte, o DOI/Codi, do Exército, que centralizava as operações de repressão política, soube que havia um “peixe grande” com a Aeronáutica, e o transferiu para as suas dependências, sede do I Exército.

E continuou a torturá-lo.

Sem sucesso, pelo visto, pois para lá levaram minha mãe e irmã de 14 anos.

Mas era tarde demais. Ele morrera.

Minha irmã foi liberada no dia seguinte.

Minha mãe, só 13 dias depois.

Que começou a luta que durou uma vida.

O Exército no início não admitia a prisão dele nem delas.

Depois, montou uma farsa, de que ele tinha fugido.

Sabemos hoje que ele morreu dois dias depois.

Tem-se até os nomes de quem o matou, sob o comando de quem.

Quanto ao seu corpo, há testemunhas de que fora enterrado no Recreio dos Bandeirantes, no Alto da Boa Vista, na Rio Santos, jogado de um avião, esquartejado.

É mais um na lista dos desaparecidos políticos.

Dia 20 de janeiro é o dia em que a família decretou a data de sua morte.

Não temos um jazigo, mas temos uma data artificial.

A morte requer rituais.

E a força da família se mobilizou para a Anistia, o fim da ditadura e muitas outras lutas.

Há 40 anos, este caso não se encerra.

Pois se o Estado não quer, assim será.

Sob as incongruências da Lei da Anistia, o Brasil nos pede para virar a página e esquecer.

Não, não dá para esquecer...


 
MARCELO RUBENS PAIVA
 
http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/20-de-janeiro/


Buscado no blog Pernanbucano Falando Para e com o Mundo


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ANOS DE CHUMBO - Geração que pegou em armas contra a ditadura sobe a rampa com Dilma.

“Ousar lutar, ousar vencer.” 

O lema da Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares) era discretamente mencionado por alguns convidados na posse da presidente Dilma Rousseff. A citação vinha de 14 ex-integrantes da organização de esquerda que aderiu à luta armada na ditadura e que teve Dilma como uma de suas lideranças.

Por Ana Paula Grabois, no Valor Econômico

Os 14, a maioria de Minas Gerais, foram convidados especialmente pela presidente para a cerimônia de posse no Palácio do Planalto e para o coquetel no Itamaraty, junto com as colegas de cela do presídio Tiradentes — onde Dilma ficou presa por quase três anos, em São Paulo, no início dos anos 70, depois de ser torturada.

“Quando nos encontramos, choramos. Uma emoção foi ver a Dilma, nossa companheira, tomando posse. Outra foi o nosso encontro, a nossa história estava muito misturada naquela posse. Fui reconhecendo os antigos companheiros. Nós tínhamos chegado lá. A Dilma não existiria como presidente sem o [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] e o Lula não seria presidente sem essa luta que também foi parte da história da Dilma”, diz a colega de VAR-Palmares Linda Goulart, assessora desde 2004 do ministro da Educação, Fernando Haddad.

“Dilma reafirma seu compromisso com a sua história, isso eu achei muito forte no discurso do dia 1º. Ela não nega, pelo contrário. Está em outra etapa da vida — e nós todos estamos”, avalia Linda, uma das poucas militantes da VAR-Palmares que não foram presas, nem torturadas. A organização, entre outras ações, executou o famoso roubo ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, em uma mansão no bairro de Santa Teresa, no Rio, em 1969.

Linda conheceu a presidente em 1965 em Belo Horizonte. Dilma já ingressava na Política Operária (Polop), onde era obrigatório passar pelo curso de marxismo. Da época, lembra da presidente como uma pessoa “brilhante”, que ganhava uma discussão pela argumentação, como no congresso do Comando de Libertação Nacional (Colina), em 1968, quando Dilma tinha 20 anos e já tinha o respeito de lideranças mais experientes.

Vitória não só do grupo

O cineasta mineiro Helvécio Ratton militou na luta armada com a presidente. Do encontro na posse, diz que foi tudo muito rápido, em uma sala reservada para a família de Dilma no prédio do Itamaraty. Lá, encontraram a mãe da presidente, Dilma Jane, e a tia, Arilda.

Dias antes, Ratton ouviu do ex-presidente Lula que a vitória de Dilma era a chegada ao poder de uma pessoa de esquerda daquela geração. “Quando ele falou isso, pensei que a Dilma encarna não só esse grupo — mas toda uma geração que teve essa ousadia de lutar naquele momento”, diz. Ratton conheceu Dilma na Faculdade de Economia da UFMG, em Belo Horizonte. Logo depois, estavam juntos da militância política.

Preso no movimento estudantil, foi condenado no mesmo processo que condenou praticamente toda a organização. Clandestino, exilou-se no Chile, onde passou a trabalhar profissionalmente com cinema. Voltou ao Brasil antes da anistia e foi preso. Depois, retomou a vida.

No dia da vitória de Dilma, mandou um e-mail à amiga com o título “Ousar vencer”. “Ela estava vencendo a Presidência, não tomando o poder daquela forma que a esquerda armada pensava, mas chegava como um representante daquela geração”, avalia Ratton, para quem Lula não tinha “visão de esquerda”.

“O Lula é um sindicalista que lutava por melhoria de salário”. Conta que Lula brincava muito com Dilma e com o atual ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, dizendo não ter vivido “essas coisas aí”. “Vocês é que são doidos, eu não”, dizia Lula, segundo o relato de Ratton.

Continuidade

O grupo que estava na posse era formado por pessoas com trajetória semelhante à de Dilma na militância. Começaram na Polop, seguiram para o Colina e, depois, para a VAR-Palmares, uma fusão do Colina com a VPR, a organização armada mais militarizada na época, integrada por militares que se opunham à a ditadura, como Carlos Lamarca.

Alguns integrantes da VAR se veem esporadicamente. Há casos, poucos, de gente que não se via há 40 anos e se reencontrou na posse. “Parece que você retoma o papo de antes, não sei se é pelo mesmo clima de identificação, talvez por termos vivido coisas muito fortes, que marcaram. Um preso, outro torturado, outro exilado, mas todo mundo sabia um do outro”, diz Ratton.

Ao cumprimentar a presidente no Itamaraty, Jorge Durão, o carioca no grupo dos mineiros, falou baixinho no ouvido de Dilma “ousar lutar, ousar vencer”. “Ela repetiu o lema, meu nome completo e falou assim: o que você tem que não tinha da última vez que eu vi? Respondi: cabelos brancos. E foi só isso”, conta.

Durão, hoje diretor da ONG Fase, no Rio, vê o convite de Dilma aos antigos companheiros como a maneira de afirmar uma continuidade de sua trajetória política. “Ela quis mostrar que lutando contra a ditadura numa organização que aderiu à luta armada, ou fazendo parte de um governo democrático, de composição, alguns valores e objetivos são os mesmos, como a luta contra a desigualdade”, diz Durão.

Um dos momentos mais emocionantes para os ex-guerrilheiros foi quando os militares bateram continência para a presidente. “Sou contido, mas tinha momentos na posse em que era impossível não se emocionar. Fiquei muito emocionado quando a Dilma chegou ao Planalto e tinha duas fileiras de soldados ou oficiais da Aeronáutica prestando continência”, relata Durão, preso e torturado na ditadura.

A cena foi marcante para todos os ex-gerrilheiros presentes, muitos deles torturados e que tiveram amigos mortos no regime militar. “Quando a gente viu a Dilma passando em revista da tropa, eles todos batendo continência para ela, alguém comentou: e pensar que ela já passou pelo corredor polonês”, conta Linda Goulart.

“Imaginei o significado daquilo para ela e também para os militares, porque um mês antes a turma que se formou na Agulhas Negras [academia de formação do Exército] escolheu Garrastazu Médici como patrono. De repente, uma de nós está lá e eles têm que fazer continência e ver a carruagem da história passar com a Dilma”, afirma Lenira Machado, companheira de cela de Dilma, convidada com outras 16 ex-presas do Tiradentes.

Socióloga aposentada, Lenira vive hoje em São Paulo. Para a posse, ela e mais um grupo de seis ex-presas que passaram pela mesma cela do Tiradentes se hospedaram na casa de uma amiga, em Brasília. “Era o nosso aparelho”, brinca.

Ética

Lenira conviveu com Dilma durante quase dois anos na “Torre das Donzelas”, como era chamado o presídio feminino que misturava presas políticas e presas comuns. Da época, lembra que fazia companhia à dupla formada por Dilma e pela colega Cida Costa na cozinha da prisão. “Eu não trabalhava na cozinha porque estava muito mal fisicamente depois das torturas. Ficava com elas implicando porque as duas cozinhavam muito mal.”

A rotina na prisão incluía trabalhos manuais, leitura, música e TV. Dilma ficou presa por quase três anos, entre 1970 e 1972. “Chegar no Tiradentes era se livrar do cheiro da dor da tortura”, diz Lenira. Todas as companheiras da cela, no térreo da torre do presídio, eram de organizações políticas e já haviam passado por torturas. Algumas delas, como Dilma, iam e voltavam ao presídio por diversas vezes. “Tinha a grande vantagem de saber que você não ia ser torturada, era um alívio. E tinha as companheiras nos recebendo”, lembra.

Dos amigos de militância política da presidente ouvidos pelo Valor, incluindo dois que pediram para não ser identificados, todos a veem como alguém racional, que planeja e é rígida com seus princípios. Nas relações pessoais, é dona de um bom humor que pouco aparece em sua vida pública e gosta de dar apelidos às pessoas mais próximas.

A maioria aposta que a ex-colega de luta armada pode fazer um governo melhor que o de Lula, diante de sua inflexibilidade em relação a princípios éticos. “A Dilma é uma pessoa extremamente ética — quem sabe pode melhorar a política brasileira”, diz Ratton. “No geral, as pessoas dessa geração com essa trajetória não estão envolvidas em escândalos. É outro estofo — e a Dilma é desse estofo. Tenho a maior admiração pelo Lula, mas tem chance de ser um governo melhor do ponto de vista do que ela pode fazer”, afirma Linda.

Jorge Durão é otimista com o compromisso de erradicar a pobreza, tratado como prioridade pela nova presidente. Vê, no entanto, problemas na economia, seja pelo câmbio valorizado ou pelo risco de desindustrialização de alguns setores. “A Dilma não herdou a mesma conjuntura internacional do Lula”, diz.

Da Redação, com informações do Valor Econômico/ O Vermelho.

Buscado no Blog de Um Sem Mídia


Puxadinho do Jader:
Emoção e fé num mundo melhor esteve presente em todos os momentos da campanha eleitoral. Aposse foi muito significativa, um filme em preto e branco tomou conta da memória e do clima, não havia lugar para vingança ou raiva, somente carinho e respeito por todos que estavam nas ruas carregando a certeza de  caminhar para um mundo mais humano.
Considero armas hoje e naquela época tudo que estava nos corações, bolsos, mãos, dos mais tímidos, dos bastidores, daqueles que levavam para a luta seus problemas e nem podiam compartilhar com os amigos, naquela gente que nos saudavam das janelas, nas casas que abriam as portas para nos esconder, nas canções, na forte resistência minando de todas as formas.
Ainda é muita emoção lembrar daqueles que deram suas vidas e seus sonhos, principalmente os anônimos que nunca serão procurados e nem mesmo seus nomes ou origem serão lembrados.
Um período de muitas histórias e muitos detalhes que nunca serão reconhecidos.
Dilma significa toda a existência de uma geração. De todos que acanhadamente ou anonimamente torciam e apoiavam a luta por liberdade, essa mesma luta que aos poucos toma conta de todos.
Precisamos dar tempo ao tempo, acreditar que teremos uma justiça social coerente com as riquezas do Brasil.

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NOSSA CULTURA E SUAS RAÍZES


“As manifestações folclóricas são o mais cristalino
traço de genialidade e brilho do povo brasileiro”
(Luiz da Câmara Cascudo)


Delúbio Soares (*)
A matriz de nossa cultura vem das raízes do povo. É no Brasil profundo, das entranhas de nosso sofrido e adorado país, dos seus valores e da sabedoria infinda de sua gente, que as artes plásticas, a música, a arquitetura, a literatura, a poesia, buscam a inspiração e encontram o fermento para a criação do que de melhor nós temos.
Heitor Villa-Lobos é tão conhecido em todo o mundo quanto no Brasil. Tocado da Filarmônica de Berlim à Royal Britânica, regidas por nomes como Von Karajan ou Gustavo Dudamel, o brasileiro levanta platéias e encanta gerações. Gênio, comparável e comparado aos maiores compositores eruditos europeus, buscou nas cantigas de roda e no folclore de nosso interior, na alma do caipira e do seu trenzinho, a matéria-prima de sua produção fantástica.
Oscar Niemeyer, o maior arquiteto da atualidade em todo o mundo, o discípulo de Le Corbisieur que superou o mestre, buscou numa taba de índios de nossa Amazônia a inspiração para algumas de suas obras mais impactantes, como a Oca, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, além de vários edifícios nos cinco continentes, onde se destaca o traço arrebatador do gênio que nos orgulha e nos alegra na plenitude de seus 103 anos.
Os painéis de Portinari, outro gênio que o Brasil doou ao mundo, adornam os salões de entrada do majestoso edifício das Nações Unidas, no coração de Nova York. Agora estão de volta ao Brasil para um cuidadoso trabalho de restauro por profissionais brasileiros. Antes, em iniciativa das mais felizes, foram colocados à disposição dos olhos e dos corações de nossa gente, em exposição pública. Filas serpentearam pelo centro do Rio de Janeiro, debaixo de sol e de chuva, em plena virada do ano, para que homens e mulheres, crianças e idosos, pudessem se deleitar com as cores vivas e os traços miraculosos do maior de nossos pintores. Portinari, coberto de glória em seu país e de admiração internacional, jamais deixou de ser o “Candinho”, menino pobre e de olhos vivos, que passeava descalço pelas ruas de sua pequenina Brodósqui, e buscou no povo do interior, nos sertanejos que fugiam da seca, nas crianças que soltavam pipas e balões de São João, a inspiração para sua obra monumental que a todos nós orgulha e extasia.
A arte brasileira, depois da Semana de Arte Moderna de 1922, com o rompimento com o conservadorismo acadêmico e a arte sem compromissos com a realidade do Brasil e seu povo, passou a buscar nas raízes da nacionalidade, no interiorzão do país, a fonte geradora de sua melhor fase. E a arte popular, com o folclore rico e poderoso que vem do coração e das tradições de nossa gente, é base de nossa cultura.
Já escrevi sobre uma das lembranças de minha infância, a Festa do Dia de Reis, com o bailado invadindo as ruas do interior goiano, a alegria mais pura e cristalina brotando do coração dos meus conterrâneos, a hospitalidade dos vizinhos em receber a visita da Bandeira do Divino ou do Estandarte dos Santos Reis. É uma tradição que vem do século XVI e foi trazida pelos portugueses colonizadores. Mas era mais formal e menos alegre, tingida com as cores sóbrias e algo conservadoras de um europeísmo que não tinha razão de ser. O que fez o nosso caipira? Deu ao Dia de Reis a alegria e o ritmo que lhe faltavam, incorporando à cantoria e às vestimentas a dança, a comida, a bebida e um gingado expressivo e gracioso que vem da senzala - herança dos nossos irmãos negros vindos da África como escravos - com a congada e a catira.
Vale recordar o que escrevi faz mais de um ano sobre essa surpreendente e belíssima festa que me hipnotizava na infância e que, ainda agora, com meio século de vida, trago no coração: “Em Goiás e Minas Gerais estão suas manifestações mais belas, que ainda guardam os traços profundos de fé, esperança e alegria que impressionaram tanto o botânico austríaco Johan Pohl, quanto o celebrado naturalista francês Saint-Hillaire, que perambularam pelos sertões goianos no século XIX e registraram para a posteridade as surpreendentes comemorações que presenciaram em mais de um lugarejo. (...) A Procissão do Fogaréu em Goiás Velho, as cavalhadas em Pirenópolis e Jaraguá, a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, reúnem milhões de goianos e de brasileiros de diversos Estados, em demonstrações impecáveis de fé e alegria”.
Quando, em seu discurso de posse perante o Congresso Nacional, Dilma Rousseff reafirma seus compromissos com a cultura nacional e a coloca como uma das prioridades de seu governo, nossa presidenta eleva a questão cultural a seu merecido patamar, potencializando um trabalho já iniciado pelo presidente Lula. Um país sem memória ou sem cuidados para com seu patrimônio artístico, cultural e histórico, é uma terra fadada a não conhecer o êxito na posteridade. E Dilma mostrou seu comprometimento e sua decisão de incentivar tão importante segmento de nossa vida.
Meu Estado natal é pródigo em manifestações folclóricas, como a Procissão do Fogaréu, a Folia de Reis, a Festa do Divino, as Cavalhadas e eventos que marcam o calendário cultural e turístico de Goiás de norte a sul, de leste a oeste. Não há Município, por menor que seja, onde por iniciativa de sua população e muitas vezes sem a ajuda oficial, onde tais festas não se revistam de impressionante beleza plástica, com uma profusão de sons e de cores que fascinam e alegram, além de trazerem em seu bojo a reafirmação da profunda fé religiosa e da perpetuação de nossa cultura e de suas melhores e mais genoínas tradições populares.

(*) Delúbio Soares é professor





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Cerimônia de Posse na Câmara do Deputado Protógenes Queiroz


Cerimônia de Posse dos Deputados Federais

Protógenes Pinheiro de Queiroz 
Deputado Federal/SP
Presidente do Comitê Municipal do PCdoB - Guarujá

Local: Anexo II da Câmara dos Deputados
Auditório Nereu Ramos
Brasília - DF


Puxadinho do Jader:

Mais uma significativa esperança toma posse, mais um forte.

Boa sorte Deputado Protógenes Queiroz.

Encontrei este Poema do Francisco Miguel no blog do Turquinho, bastante significativo.


Não cultives a fraqueza

Vive o fraco na fraqueza
o bom na sua bondade
vive o firme na firmeza
lutando por liberdade.
Não cultives a fraqueza,
procura sempre ser forte,
que o homem que tem firmeza
não se rende nem à morte.
Educa a tua vontade
faz-te firme: em decisões,
que não terá liberdade
quem não fizer revoluções.
Se queres o mundo melhor
vem cá pôr a tua pedra,
quem da luta fica fora
neste jogo nunca medra.

Francisco Miguel Duarte,
Poeta popular nascido no Alentejo,

Operário sapateiro, filho de camponeses


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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A CASA ONDE NASCEU LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA



A casa de taipa onde o Presidente Lula  nasceu, na cidade de Caetés (20 km de Garanhuns), virou ponto turístico da região. Segundo moradores da localidade, seguidamente aparecem curiosos para fotografar o local

 




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domingo, 23 de janeiro de 2011

Patrice Lumumba, um herói africano

Carlos Lopes Pereira* 

22.Jan.11 :: Colaboradores
Odiario.inf 

Fez no passado dia 17 de Janeiro 50 anos que Patrice Lumumba foi assassinado. Com este texto do jornalista Carlos Lopes Pereira, odiario.info não só evoca o crime do colonialismo belga e do imperialismo norte-americano, como presta homenagem a “um herói da libertação africana cujo legado se mantém actual e inspira novas lutas pela emancipação social dos povos do continente e de todo Mundo.”

Faz agora meio século. Foi a 17 de Janeiro de 1961 que agentes do colonialismo belga e do imperialismo norte-americano, com a conivência de traidores congoleses, assassinaram de forma bárbara Patrice Lumumba, combatente da independência da sua terra e primeiro chefe do governo da República do Congo. Apesar de ter desaparecido há 50 anos, ainda muito jovem, a sua figura emerge hoje como a de um patriota íntegro e corajoso, de um lutador anticolonialista e anti-imperialista. Em África, na Ásia e na América Latina, diferentes gerações de revolucionários admiram-no, a par de Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Agostinho Neto ou Samora Machel, como um herói da libertação africana cujo legado se mantém actual e inspira novas lutas pela emancipação social dos povos do continente e de todo Mundo.
A biografia de Patrice Lumumba pode ser resumida em poucas linhas. Nasceu em 2 de Julho de 1925, filho de camponeses pobres, na aldeia de Onalua, na província do Kasai, na então colónia do Congo Belga (mais tarde República do Congo, depois Zaire e hoje República Democrática do Congo). Fez os estudos primários numa escola missionária católica - a única possibilidade para muitos jovens africanos da época - e, na juventude, trabalhou como funcionário dos correios e empregado de algumas companhias belgas.
A partir dos 23 anos participou activamente na vida política da sua terra, então uma possessão belga, desenvolvendo os seus ideais independentistas e sofrendo com isso a repressão dos colonialistas belgas - esteve várias vezes preso. Foi sindicalista, escreveu em jornais como o «Uhuru» («Liberdade») e «Independance» e, em 1958, fundou e tornou-se líder do maior partido nacionalista congolês, o Movimento Nacional Congolês (MNC) - o único constituído em bases não tribais.
Em 1958-1959 assistiu, em Accra, capital do recém-independente Gana, de Nkrumah, à primeira conferência pan-africana dos povos - onde foi eleito para o seu secretariado permanente -, e em Ibadan, na Nigéria, a um seminário internacional sobre cultura, onde fez um discurso defendendo a unidade africana e a independência nacional.
No começo de 1960, em Bruxelas, participou na conferência belga-congolesa em que foi acordada, entre os nacionalistas congoleses e a potência colonial, a independência do Congo, imposta pela longa resistência popular e pelas reivindicações das forças nacionalistas.
Nas eleições parlamentares de Maio de 1960, o MNC e partidos que o apoiavam conquistaram a maioria dos votos. A 30 de Junho o Congo tornou-se independente e Patrice Lumumba foi nomeado primeiro-ministro do governo da república. O seu discurso nesse dia permanecerá nos anais da diplomacia mundial como uma peça oratória magnífica, em que o jovem dirigente africano, na presença do rei Balduíno, da Bélgica, e de outros dignitários estrangeiros, denunciou abertamente os crimes hediondos do colonialismo belga sobre o povo congolês e traçou as perspectivas do futuro Congo, liberto das grilhetas da dominação estrangeira.
Em Setembro desse ano Lumumba foi demitido pelo presidente Kasavubu, apoiado pelos Estados Unidos e por militares golpistas comandados por um certo coronel Mobutu. Em Novembro é preso e, a 17 de Janeiro de 1961, depois de meses de detenção ilegal, é barbaramente torturado e assassinado. Não tinha ainda completado 36 anos e idade.
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Historiadores e jornalistas que investigaram as circunstâncias do assassinato de Patrice Lumumba convergem na descrição do que se passou nesse deplorável 17 de Janeiro de 1961.
De manhã, a polícia política mobutista foi buscar Lumumba à prisão de Thysville e meteu-o num avião, com mais dois companheiros, Mpolo e Okito, enviando-os para a capital do Katanga «independente». Durante a viagem para Elizabethville (depois Lubumbashi), os presos sofreram agressões selváticas e, chegados ao aeroporto, foram recebidos por militares secessionistas catangueses e mercenários belgas. Atirados para dentro de um jipe e levados para uma quinta próxima, foram fuzilados nessa noite por um pelotão comandado por um oficial belga. Os seus verdugos fizeram desaparecer os corpos de Lumumba e seus dois companheiros.
Mais tarde, uma comissão das Nações Unidas encarregada de investigar o assassinato do jovem líder congolês responsabilizou pelo crime a administração de Léopoldville chefiada pelo então presidente Kasavubu e onde pontificava já Mobutu; as autoridades do Katanga; responsáveis da empresa belga Union Minière du Haut Katanga; e um grupo de mercenários ao serviço de Tchombé, líder dos secessionistas catangueses.
É conhecido também que uma outra comissão, esta do Senado dos Estados Unidos, que em meados dos anos Setenta do século passado investigou as actividades dos serviços de «intelligence» norte-americanos, descobriu que a CIA organizou em Agosto de 1960 - o Congo era independente há apenas dois meses! - uma conspiração com o «objectivo urgente e prioritário» de assassinar o primeiro-ministro congolês. Para Allen Dulles, o então director dos serviços secretos norte-americanos, Patrice Lumumba era «um perigo grave» que os Estados Unidos tiveram que eliminar.
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O afastamento de Lumumba da chefia do governo, a sua prisão e o seu assassinato foram o resultado conjugado dos interesses do colonialismo belga - que, apesar da independência do Congo, continuou a pretender explorar a seu bel-prazer as riquezas do país - e da intervenção do imperialismo norte-americano, através da CIA - o jovem primeiro-ministro era considerado por Washington um «esquerdista», simpatizante da União Soviética -, coniventes com as Nações Unidas e com sectores da burguesia congolesa que não hesitaram em trair o seu povo e aliar-se à dominação estrangeira.
Um factor decisivo da tragédia congolesa foi a secessão do Katanga, província congolesa rica em minérios, que Moisés Tchombé proclamou independente do Congo, financiado pela companhia Union Minière e com apoio de soldados belgas e de mercenários. O presidente Kasavubu e o primeiro-ministro Lumumba apelaram à intervenção das Nações Unidas, que enviou uma pequena força para o país, sem conseguir evitar a guerra civil, que se prolongou até 1964. No ano seguinte, neste contexto de prolongada conflitualidade, Mobutu assumiu a liderança do país, rebaptizado como Zaire, e implantou uma ditadura sangrenta, reinando despoticamente até 1997, como um fantoche dos Estados Unidos e das potências ocidentais.
—///—
Já preso pela soldadesca golpista e antes de ser entregue aos secessionistas catangueses e mercenários estrangeiros que o haviam de assassinar poucos dias depois, Lumumba escreveu uma carta de despedida a sua mulher Pauline, em que reafirma a sua confiança no futuro. São belas e comoventes, mas cheias de esperança, essas breves palavras, publicadas mais tarde pela revista «Jeune Afrique»:
«(…) Não estamos sós. A África, a Ásia e os povos livres e libertados de todos os cantos do mundo estarão sempre ao lado dos milhões de congoleses que não abandonarão a luta senão no dia em que não houver mais colonizadores e seus mercenários no nosso país. Aos meus filhos, a quem talvez não verei mais, quero dizer-lhes que o futuro do Congo é belo e que o país espera deles, como eu espero de cada congolês, que cumpram o objectivo sagrado da reconstrução da nossa independência e da nossa soberania, porque sem justiça não há dignidade e sem independência não há homens livres.
Nem as brutalidades, nem as sevícias, nem as torturas me obrigaram alguma vez a pedir clemência, porque prefiro morrer de cabeça erguida, com fé inquebrantável e confiança profunda no destino do meu país, do que viver na submissão e no desprezo pelos princípios sagrados. A História dirá um dia a sua palavra; não a história que é ensinada nas Nações Unidas, em Washington, Paris ou Bruxelas, mas a que será ensinada nos países libertados do colonialismo e dos seus fantoches. A África escreverá a sua própria história e ela será, no Norte e no Sul do Sahara, uma história de glória e dignidade.
Não chores por mim, minha companheira, eu sei que o meu país, que sofre tanto, saberá defender a sua independência e a sua liberdade.
Viva o Congo! Viva a África!».
Para os revolucionários do século XXI em África e em todo o mundo, que hoje continuam a lutar em condições diferenciadas contra a dominação imperialista e a exploração capitalista, Patrice Lumumba continua bem presente com o seu exemplo de patriota e combatente pela liberdade. E são de uma enorme actualidade as ideias que defendeu generosamente e pelas quais deu a vida - a urgência da independência nacional e da genuína soberania para todos os países, a unidade africana, a luta intransigente contra o colonialismo e o neocolonialismo, o combate pela emancipação social dos povos. 
 

* Jornalista, amigo e colaborador de odiario.info.


Este texto foi publicado no Avante nº 1.938 de 20 de Janeiro de 2011.

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